͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏39. beatriz ⋆✴︎˚。⋆

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— Quer ver a Dandara? — pergunto, tentando não soar esperançosa demais. Cora e Hope nos visitaram ontem, mas minha avó não apareceu no hospital. Claro que fiquei magoada, mas estou contando com ela para cuidar de Dandara, então não posso reclamar.

— Ela tá dormindo — comenta minha avó, com desdém. — Vou ter bastante tempo pra pegar no colo quando acordar. Bebês nunca dormem muito: você tem que aproveitar o máximo que pode. Seu homem veio?

— Bem aqui, sra. Dourado. Em que posso ajudar? — Beto caminha determinado, ocupando a pequena cozinha com o corpo alto e os ombros largos. A hesitação de quando saímos do hospital parece ter desaparecido.

— Senta aí também. Vamos tomar café da manhã. Rabanada e bacon.

— Queria muito ficar, mas tenho que ir. Meu chefe ligou, um dos operários caiu de uma escada numa obra. Ele disse que me pagaria a mais se eu aparecesse assim de última hora.

— Um dinheirinho a mais é bom — comenta minha avó, assentindo com a cabeça.

Beto me beija na bochecha.

— Me acompanha até lá fora?

Levanto, sem fazer perguntas, e o sigo até a caminhonete. Agora que não tem mais uma barriga enorme entre a gente, as coisas estão meio estranhas. Ele me viu no meu pior momento e continua do meu lado.

— Obrigada por tudo.

— Não fiz muito.

— Você estava lá comigo. Isso é muito.

Ele corre o polegar ao longo do meu queixo.

— Você ficou meio desorientada no hospital. Lembra de tudo o que aconteceu?

De como você disse que me ama?

— Não muito — minto. — Estava funcionando sob exaustão pura.

Seu rosto se contrai de decepção.

— Tudo bem. Se você prefere fazer assim, vou deixar quieto por enquanto. — Ele abre a porta do motorista. — Venho te ver depois do trabalho. Me liga se precisar de alguma coisa.

Quero dizer que preciso que ele diga que me ama quando não estou urrando de dor ou quando não estou chorando apavorada porque vou ser mãe.

Uma dezena de emoções pulsa sob a membrana fina do meu autocontrole. Sentindo-me vulnerável, dou um passo para trás.

— Vamos ficar bem. Venha quando puder.

Pela forma como ele aperta a mandíbula, sei que não era a resposta que queria.

Com um pequeno aceno, me apresso para dentro de casa, sem esperar a caminhonete se afastar. Na sala, encontro vovó segurando Dandara.

— Ela tava chorando — diz, na defensiva.

— Tudo bem — respondo, lutando contra um sorriso. — Se importa se eu tomar um banho? Tô me sentindo nojenta.

— Vai lá. — Seu olhar está fixo no rosto de Dandara. — Essa coisinha linda ama a bisa, não é? Não é?

Com o coração aliviado, tomo uma ducha. Minha avó já está a meio caminho de se apaixonar por Dandara. Mas quem não estaria? Ela é a coisa mais linda do mundo.

Tomo um bom banho, quente e demorado, o que não me permitiram no hospital, por causa da cesária. Apesar da dor, é bom estar fora daquela cama de hospital. Depois de me secar, visto uma calça de moletom velha e uma camiseta e examino meu reflexo no espelho.

Meu corpo ainda parece estranho, como se não pertencesse a mim. As veias capilares em meus olhos estouraram durante o parto, então pareço um monstro, os olhos vermelhos e o cabelo bagunçado. Seria capaz de deixar Helena Bonham Carter em Sweeney Todd no chinelo. Minha barriga continua grande e redonda, mas agora está mole e macia. Meus seios estão cômicos de tão gigantes.

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now