— Tá bom. — Afasto o cabelo molhado de sua testa. — Quando a dra. Laura chegar, a gente pede para…
— Agora! — grita Beatriz. — Vai falar com ela agora.
— Daqui a pouco ela tá aqui, linda. E as contrações estão com três minutos de intervalo. Ainda temos tempo até a…
Antes que eu consiga terminar, sinto sua mãozinha letal me agarrando pela camiseta. Beatriz gane feito um gato selvagem encurralado e me trucida com os olhos.
— Juro por Deus, Beto, se você não for atrás dela agora, vou arrancar essa sua cabeça do pescoço e DAR DE COMIDA PRA NENÉM!
Assentindo calmamente, solto seus dedos da gola da minha camiseta e dou um beijo em sua testa. Então sumo dali e vou procurar a médica.
+ + +
Os números continuam subindo.
Tempo em trabalho de parto: dezenove horas.
Tempo entre as contrações: sessenta segundos.
Número de vezes que Beatriz ameaçou me matar: trinta e oito.
Número de ossos quebrados na minha mão: impossível saber.
A parte boa é que estamos enfim na reta final. Apesar da cesária, Beatriz ainda está sofrendo. Seu rosto está profundamente vermelho, e ela está aos prantos desde que a dra. Laura mandou fazer força. Mas ela não é do tipo que grita. Na cama? Sim. No parto, nem um pouco. Os únicos sons que faz são gemidos angustiados e grunhidos baixinhos.
Minha mulher é uma guerreira.
Há poucas horas, consegui dar uma saída da sala de parto para fazer xixi e mandar mensagens para minha mãe e meus amigos, mas desde que a parte mais difícil começou Beatriz não me deixou sair do seu lado. Isso é bom, porque não vou a lugar nenhum até nossa filha estar sã e salva em nossos braços.
— Tudo bem, Beatriz, mais um empurrão — ordena a dra. Laura entre as pernas de Beatriz. — Estou vendo a cabeça. Mais um empurrão, e você vai conhecer sua filha.
— Não consigo — geme Beatriz.
— Consegue, sim — digo suavemente, passando seu cabelo por trás das orelhas. — Você consegue. Só mais um empurrão, e acabou. Você é capaz.
Quando ela começa a chorar de novo, seguro seu queixo e encaro seus olhos enevoados.
— Você consegue — repito. — Você é a pessoa mais forte que eu conheço. Trabalhou a faculdade inteira, ralou pra entrar no curso de direito e agora vai ter que trabalhar um pouquinho mais para expelir o nosso bebê. Tá bom?
Ela respira, e suas feições se endurecem com firmeza de novo.
— Tá bom.
E então, depois de quase vinte horas de sangue, suor e lágrimas, Beatriz dá à luz uma bebê saudável.
Depois que a menininha escorregadia cai nas mãos da dra. Laura, há um silêncio de uma fração de segundo, e então um choro estridente enche a sala de parto.
— Bem, o pulmão parece saudável — observa a médica, com um sorriso. Ela se vira para mim. — Quer cortar o cordão, papai?
— Claro, porra.
— Olha o palavrão — repreende Beatriz, e a dra. Laura ri.
Com o coração na boca, corto o cordão que prende minha filha à sua mãe. Vejo de relance uma coisinha vermelha e gosmenta, mas uma enfermeira tira a menina de vista tão depressa que reclamo. Eles estão só fazendo a pesagem, e, enquanto isso, a médica faz alguma costura discreta entre as pernas de Beatriz.
Seu sofrimento me enternece, mas Beatriz nunca me pareceu tão serena quanto agora.
— Três quilos e duzentos — anuncia a enfermeira ao depositar a neném gentilmente nos braços da mãe.
Meu coração triplica de tamanho.
— Ai, meu Deus — sussurra Beatriz, olhando para a nossa filha. — Ela é perfeita.
Ela é. É tão perfeita que estou à beira das lágrimas. Não consigo tirar os olhos do seu pequeno rosto e do tufo de cabelo cacheado na cabecinha minúscula. Já não está chorando, e nos encara com grandes olhos curiosos e sem piscar. Seus lábios estão vermelhos, e as bochechas, rosadas. E os dedos são tão pequenininhos.
— Bom trabalho, princesa. — Minha voz sai rouca, e eu acaricio o cabelo de Beatriz.
Ela ergue o olhar para mim, com um sorriso maravilhoso no rosto.
— Bom trabalho pra nós.
+ + +
Horas depois, estamos os dois deitados na cama de hospital de Beatriz, maravilhados com a pequena criatura que trouxemos ao mundo. Faz cerca de vinte e quatro horas que Beatriz me ligou para dizer que estava entrando em trabalho de parto. Ela vai ter de ficar aqui por mais duas noites, para os médicos poderem monitorar sua saúde e a da neném, mas as duas parecem bem.
Uma hora atrás, uma especialista em amamentação passou para ensinar a Beatriz as técnicas adequadas, e nossa filha já provou que é melhor do que todos os bebês do mundo, porque grudou na mesma hora no bico e mamou feliz no seio da mãe, enquanto nós dois assistimos, absolutamente admirados.
Agora está dormindo pesado, deitada metade nos braços de Beatriz e metade nos meus. Nunca senti tanta paz na vida quanto neste momento.
— Eu te amo — sussurro.
Beatriz fica ligeiramente rígida. Não responde.
De repente, percebo que no mínimo acha que estou falando com a neném. Então acrescento:
— Vocês duas.
— Roberto… — Sua voz tem um quê de advertência.
Na mesma hora eu me arrependo de abrir a boca. E como não estou particularmente interessado em ouvi-la dizer que não me ama ou dar desculpas para não admitir isso, abro um sorriso alegre e mudo de assunto.
— A gente precisa escolher um nome.
Beatriz morde o lábio.
— Eu sei.
Deslizo o polegar com carinho sobre a boquinha perfeita da nossa filha. Ela faz um barulhinho e se mexe nos nossos braços.
— Vamos começar pelo nome ou o sobrenome?
Estou torcendo para que ela escolha a primeira opção. Ainda não discutimos nomes possíveis porque andamos ocupados demais com o problema Dourado-Sobral.
Beatriz me surpreende dizendo:
— Sabe… Acho que Dourado-Sobral não é tão ruim assim.
Prendo o fôlego.
— Dourado-Sobral.
— Foi o que eu falei. E eu pensei em Dandara. Dandara Dourado Sobral.
Eu rio e me abaixo para beijar o rosto perfeito da nossa neném.
— Dandara… Gostei.
E está resolvido.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏38. beto ⋆✴︎˚。⋆
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