De todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
Fecho a cara para a tela. Droga, não suporto que ela ainda esteja naquela casa com aquele cara nojento. Mas toda vez que toco na ideia de morarmos juntos Beatriz me dispensa. E ela tem estado meio distante desde que minha mãe voltou para o Texas.
Amo a minha mãe de paixão, mas, para ser sincero, estou chateado com ela. Entendo que esteja preocupada comigo e que pense que ter um filho na minha idade é uma ideia terrível, mas não gostei do jeito como interrogou Beatriz. E não foi só no primeiro dia. A visita inteira foi marcada por comentários sarcásticos e uma censura velada. Acho que Beatriz estava se sentindo derrotada depois que minha mãe foi embora, e não sei se posso culpá-la.
Mando outra mensagem.
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Pelo menos isso. Ainda assim, odeio não estar lá com ela.
— Aaaaahhhhhh! Vou gozaaaaaar!
Já chega. Não posso ficar nem mais um segundo aqui, ouvindo Brody Hollis transar.
Enfiando celular e carteira no bolso, saio do apartamento e pego o elevador até o térreo. Já passam das nove, então o sol de agosto já se pôs e uma brisa agradável acaricia meu rosto quando saio para a rua.
Caminho pela calçada sem um destino em mente além de fora de casa. Com o trabalho de meio período, a visita da minha mãe e as idas e vindas levando Beatriz para algum lugar, ainda não tive a chance de explorar a fundo meu bairro novo. É o que faço agora, e descubro que não é tão carente quanto eu tinha imaginado.
Passo por vários cafés com varandas simpáticas, alguns prédios comerciais baixos e respeitáveis, vários salões de beleza e uma barbearia que decido conferir um dia desses. Acabo diante de um bar de esquina, admirando a fachada de tijolos vermelhos, o pequeno pátio externo cercado por uma grade de ferro forjado e o toldo verde sobre a porta.
O letreiro é antigo, antiquado e está um pouco torto. Diz “Paddy’s Dive” e, quando passo pela porta de madeira com seu rangido característico, encontro um bar tradicional. O lugar é maior do que parecia por fora, mas tudo aqui aparenta ter sido feito, comprado e usado nos anos 1970.
Tirando um pinguço na ponta do balcão comprido, o local está vazio. Numa sexta à noite. Em Boston. Nunca fui a um bar que não estivesse lotado numa sexta à noite.
— Vai querer o quê? — pergunta o homem atrás do balcão. Tem uns sessenta e poucos anos, uma faixa de cabelos brancos na cabeça, a pele enrugada e bronzeada e vincos de exaustão ao redor dos olhos.
— Pode ser… — Faço uma pausa, percebendo que não estou no clima de beber álcool. — Um café — termino.
Ele dá uma piscadinha.
— Vivendo no limite, hein, filho?
Rindo, sento num dos bancos altos de vinil e entrelaço as mãos sobre o balcão. Opa, má ideia tocar este balcão. A madeira está tão velha que tenho certeza de que acabei de sentir uma farpa.
Distraído, tiro a lasquinha de madeira do polegar enquanto espero o barman trazer meu pedido. Quando ele pousa uma xícara de café na minha frente, agradeço e dou uma olhada à minha volta.
— Pouco movimento, hoje? — pergunto.
Ele sorri com ironia.
— Pouco movimento nesta década.
— Ah. Sinto muito.
Mas vejo o motivo. Tudo neste bar está desatualizado. A jukebox é do tipo que ainda precisa de moedas — quem ainda usa moeda? Os alvos para dardos estão com furos tão grandes que acho que nem seguram mais um dardo. O estofado das cadeiras está esfarrapado. As mesas, tortas. O chão parece que vai desabar a qualquer momento.
E não tem televisão. Que tipo de bar não tem televisão?
No entanto, apesar de todas as falhas e desvantagens óbvias, vejo potencial no lugar. A localização é incrível, e, dentro, o teto é bem alto com as vigas expostas e painéis de madeira belíssimos nas paredes. Basta dar uma renovada e modernizar algumas coisas, e o proprietário poderia transformar este estabelecimento.
Dou um gole no café, estudando o barman por sobre a xícara.
— Você é o dono?
— Claro.
Hesito por um segundo. Então baixo a xícara e pergunto:
— Já pensou em vender?
— Na verdade, estou…
Meu telefone toca antes que ele possa terminar.
— Desculpa — digo às pressas, enfiando a mão bolso. Quando vejo o nome de Beatriz, fico na mesma hora em estado de alerta. — Preciso atender. É a minha namorada.
O homem mais velho sorri com conhecimento de causa e se afasta.
— À vontade.
Atendo à chamada e levo o telefone ao ouvido.
— Oi, princesa. Tudo bem?
— Não! Não tá nada bem!
Seu grito quase destrói meus tímpanos. A angústia em sua voz faz meu pulso disparar em pânico.
— O que foi? Você tá bem?
Será que o filho da puta do Ray encostou a mão nela?
— Não — geme ela, e então há um suspiro de dor. — Não tô bem. A bolsa acabou de estourar!