͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏37. beto ⋆✴︎˚。⋆

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Fecho a cara para a tela. Droga, não suporto que ela ainda esteja naquela casa com aquele cara nojento. Mas toda vez que toco na ideia de morarmos juntos Beatriz me dispensa. E ela tem estado meio distante desde que minha mãe voltou para o Texas.

Amo a minha mãe de paixão, mas, para ser sincero, estou chateado com ela. Entendo que esteja preocupada comigo e que pense que ter um filho na minha idade é uma ideia terrível, mas não gostei do jeito como interrogou Beatriz. E não foi só no primeiro dia. A visita inteira foi marcada por comentários sarcásticos e uma censura velada. Acho que Beatriz estava se sentindo derrotada depois que minha mãe foi embora, e não sei se posso culpá-la.

Mando outra mensagem.

Mando outra mensagem

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Pelo menos isso. Ainda assim, odeio não estar lá com ela.

— Aaaaahhhhhh! Vou gozaaaaaar!

Já chega. Não posso ficar nem mais um segundo aqui, ouvindo Brody Hollis transar.

Enfiando celular e carteira no bolso, saio do apartamento e pego o elevador até o térreo. Já passam das nove, então o sol de agosto já se pôs e uma brisa agradável acaricia meu rosto quando saio para a rua.

Caminho pela calçada sem um destino em mente além de fora de casa. Com o trabalho de meio período, a visita da minha mãe e as idas e vindas levando Beatriz para algum lugar, ainda não tive a chance de explorar a fundo meu bairro novo. É o que faço agora, e descubro que não é tão carente quanto eu tinha imaginado.

Passo por vários cafés com varandas simpáticas, alguns prédios comerciais baixos e respeitáveis, vários salões de beleza e uma barbearia que decido conferir um dia desses. Acabo diante de um bar de esquina, admirando a fachada de tijolos vermelhos, o pequeno pátio externo cercado por uma grade de ferro forjado e o toldo verde sobre a porta.

O letreiro é antigo, antiquado e está um pouco torto. Diz “Paddy’s Dive” e, quando passo pela porta de madeira com seu rangido característico, encontro um bar tradicional. O lugar é maior do que parecia por fora, mas tudo aqui aparenta ter sido feito, comprado e usado nos anos 1970.

Tirando um pinguço na ponta do balcão comprido, o local está vazio. Numa sexta à noite. Em Boston. Nunca fui a um bar que não estivesse lotado numa sexta à noite.

— Vai querer o quê? — pergunta o homem atrás do balcão. Tem uns sessenta e poucos anos, uma faixa de cabelos brancos na cabeça, a pele enrugada e bronzeada e vincos de exaustão ao redor dos olhos.

— Pode ser… — Faço uma pausa, percebendo que não estou no clima de beber álcool. — Um café — termino.

Ele dá uma piscadinha.

— Vivendo no limite, hein, filho?

Rindo, sento num dos bancos altos de vinil e entrelaço as mãos sobre o balcão. Opa, má ideia tocar este balcão. A madeira está tão velha que tenho certeza de que acabei de sentir uma farpa.

Distraído, tiro a lasquinha de madeira do polegar enquanto espero o barman trazer meu pedido. Quando ele pousa uma xícara de café na minha frente, agradeço e dou uma olhada à minha volta.

— Pouco movimento, hoje? — pergunto.

Ele sorri com ironia.

— Pouco movimento nesta década.

— Ah. Sinto muito.

Mas vejo o motivo. Tudo neste bar está desatualizado. A jukebox é do tipo que ainda precisa de moedas — quem ainda usa moeda? Os alvos para dardos estão com furos tão grandes que acho que nem seguram mais um dardo. O estofado das cadeiras está esfarrapado. As mesas, tortas. O chão parece que vai desabar a qualquer momento.

E não tem televisão. Que tipo de bar não tem televisão?

No entanto, apesar de todas as falhas e desvantagens óbvias, vejo potencial no lugar. A localização é incrível, e, dentro, o teto é bem alto com as vigas expostas e painéis de madeira belíssimos nas paredes. Basta dar uma renovada e modernizar algumas coisas, e o proprietário poderia transformar este estabelecimento.

Dou um gole no café, estudando o barman por sobre a xícara.

— Você é o dono?

— Claro.

Hesito por um segundo. Então baixo a xícara e pergunto:

— Já pensou em vender?

— Na verdade, estou…

Meu telefone toca antes que ele possa terminar.

— Desculpa — digo às pressas, enfiando a mão bolso. Quando vejo o nome de Beatriz, fico na mesma hora em estado de alerta. — Preciso atender. É a minha namorada.

O homem mais velho sorri com conhecimento de causa e se afasta.

— À vontade.

Atendo à chamada e levo o telefone ao ouvido.

— Oi, princesa. Tudo bem?

— Não! Não tá nada bem!

Seu grito quase destrói meus tímpanos. A angústia em sua voz faz meu pulso disparar em pânico.

— O que foi? Você tá bem?

Será que o filho da puta do Ray encostou a mão nela?

— Não — geme ela, e então há um suspiro de dor. — Não tô bem. A bolsa acabou de estourar!

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now