— Ele falou que o carro tinha quebrado, mas não acredito — declara, entre garfadas do hambúrguer.
Beatriz arregala os olhos.
— Você acha que ele mentiu pra poder ficar lá e te conhecer?
Minha mãe sorri.
— Eu não acho. Tenho certeza.
Já ouvi essa história mil vezes, mas ela continua tão divertida quanto sempre. Mais do que isso, na verdade, porque desta vez é Beatriz que está ouvindo, e ela não acredita no amor. Mas a devoção da minha mãe pelo meu pai é inegável.
— Raimundo, o pai de Beto, admitiu quando fiquei grávida. Ele disse que tirou a vela de ignição do carro e que teve a ideia vendo A noviça rebelde com a mãe. Perguntei até pro Bill — o mecânico da cidade —, e ele confirmou que a única coisa de errado com o carro do Rai era que estava faltando uma peça.
— É a história mais romântica que já ouvi.
Não deixo de notar que Beatriz está empurrando a salada no prato. No geral, ela conseguiu disfarçar bem o nervosismo, mas a falta de apetite é uma evidência clara. Decido que vou fazer um prato para ela depois de lavar a louça.
— Sinto muito pela sua perda — acrescenta Beatriz, num tom suave e de compaixão.
— Obrigada, querida.
Sorrio para mim mesmo. Mamãe sem dúvida se derreteu.
Beatriz se vira para mim.
— Quantos anos você tinha quando seu pai morreu? Três ou quatro?
— Três — confirmo, enfiando uma garfada de batata na boca.
— Tão novo. — Ela acaricia a barriga, distraída.
— Você não sabia? — interrompe minha mãe, a frieza de volta à voz.
— Não. Sabia — se atrapalha Beatriz. — Só tinha esquecido a idade exata.
— Vocês dois conversam sobre algo importante ou é só uma coisa física? Porque com certeza não dá pra criar uma criança só com luxúria.
— Mãe — digo, bruscamente. — A gente conversa sobre coisas importantes.
— Vocês vão morar juntos? Como vão dividir as finanças? Quem vai cuidar da sua filha quando você estiver na aula?
Beatriz está com uma expressão ansiosa nos olhos.
— Eu… eu… Minha avó vai ajudar.
— Roberto disse que ela não ficou muito feliz com a ideia. Não sei se um responsável relutante é uma boa opção.
Beatriz lança um olhar de traição na minha direção.
— Eu disse que a gente não sabe que tipo de ajuda ela vai poder oferecer. — Baixo o garfo. — Vai dar tudo certo. — Digo isso para as duas, mas nenhuma delas encara muito bem.
— Não dá pra criar uma criança no improviso, Roberto. Eu sei que você quer fazer a coisa certa. Você sempre faz, mas, neste caso, se vocês dois não puderem cuidar dela, é melhor pensar em outras opções. Já pensaram em colocar para adoção?
Beatriz fica pálida com o insulto implícito de que não é capaz de ser mãe.
Estendo a mão para ela.
— Beatriz, vai dar tudo certo…
Mas ela já está correndo para fora da cozinha, um soluço preso na garganta, enquanto murmura algo que soa como banheiro e desculpa. Seus pés se chocam contra o piso de madeira, correndo mais depressa do que uma grávida de oito meses deveria.
Pulo da cadeira.
— Beatriz…
— Dá um tempo pra ela — diz minha mãe atrás de mim.
A porta bate, e estremeço diante do estrondo. Corro na direção do corredor, mas paro no meio da cozinha e me viro para minha mãe.
— Beatriz é uma boa pessoa — digo, rispidamente. — E ela vai ser uma ótima mãe. E, mesmo que fosse a pior, você ia ter que aceitá-la, porque aquela criança na barriga dela é metade de mim.
Desta vez é a minha mãe que empalidece.
— Isso é uma ameaça? — Sua voz treme.
Corro os dedos agitados pelo cabelo.
— Não. Mas não tem nenhuma necessidade de estarmos de lados opostos do rinque aqui. Estamos todos no mesmo time.
Minha mãe ergue o queixo num desafio.
— Só vendo pra crer.
Decepcionado, balanço a cabeça e sigo até o corredor, para ver se Beatriz quer falar comigo.
Ela abre a porta do banheiro com os olhos vermelhos.
— Desculpa sair correndo desse jeito.
— Tá tudo bem, princesa. — Empurro-a mais para dentro e fecho a porta atrás de mim. Ela me deixa abraçá-la — o máximo que conseguimos com uma bola de boliche entre nós. — Você vai ser uma ótima mãe. Acredito em você.
Seu corpo parece frágil, apesar do peso que ganhou.
— Não fica com raiva da sua mãe — sussurra ela em meu peito. — Ela tá tentando te proteger. Ela só quer o melhor pra você. Sei disso.
— Ela vai mudar de ideia. — Mas soo muito mais confiante do que me sinto.
ESTÁS LEYENDO
A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏36. beto ⋆✴︎˚。⋆
Comenzar desde el principio
