͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏36. beto ⋆✴︎˚。⋆

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— Ele falou que o carro tinha quebrado, mas não acredito — declara, entre garfadas do hambúrguer.

Beatriz arregala os olhos.

— Você acha que ele mentiu pra poder ficar lá e te conhecer?

Minha mãe sorri.

— Eu não acho. Tenho certeza.

Já ouvi essa história mil vezes, mas ela continua tão divertida quanto sempre. Mais do que isso, na verdade, porque desta vez é Beatriz que está ouvindo, e ela não acredita no amor. Mas a devoção da minha mãe pelo meu pai é inegável.

— Raimundo, o pai de Beto, admitiu quando fiquei grávida. Ele disse que tirou a vela de ignição do carro e que teve a ideia vendo A noviça rebelde com a mãe. Perguntei até pro Bill — o mecânico da cidade —, e ele confirmou que a única coisa de errado com o carro do Rai era que estava faltando uma peça.

— É a história mais romântica que já ouvi.

Não deixo de notar que Beatriz está empurrando a salada no prato. No geral, ela conseguiu disfarçar bem o nervosismo, mas a falta de apetite é uma evidência clara. Decido que vou fazer um prato para ela depois de lavar a louça.

— Sinto muito pela sua perda — acrescenta Beatriz, num tom suave e de compaixão.

— Obrigada, querida.

Sorrio para mim mesmo. Mamãe sem dúvida se derreteu.

Beatriz se vira para mim.

— Quantos anos você tinha quando seu pai morreu? Três ou quatro?

— Três — confirmo, enfiando uma garfada de batata na boca.

— Tão novo. — Ela acaricia a barriga, distraída.

— Você não sabia? — interrompe minha mãe, a frieza de volta à voz.

— Não. Sabia — se atrapalha Beatriz. — Só tinha esquecido a idade exata.

— Vocês dois conversam sobre algo importante ou é só uma coisa física? Porque com certeza não dá pra criar uma criança só com luxúria.

— Mãe — digo, bruscamente. — A gente conversa sobre coisas importantes.

— Vocês vão morar juntos? Como vão dividir as finanças? Quem vai cuidar da sua filha quando você estiver na aula?

Beatriz está com uma expressão ansiosa nos olhos.

— Eu… eu… Minha avó vai ajudar.

— Roberto disse que ela não ficou muito feliz com a ideia. Não sei se um responsável relutante é uma boa opção.

Beatriz lança um olhar de traição na minha direção.

— Eu disse que a gente não sabe que tipo de ajuda ela vai poder oferecer. — Baixo o garfo. — Vai dar tudo certo. — Digo isso para as duas, mas nenhuma delas encara muito bem.

— Não dá pra criar uma criança no improviso, Roberto. Eu sei que você quer fazer a coisa certa. Você sempre faz, mas, neste caso, se vocês dois não puderem cuidar dela, é melhor pensar em outras opções. Já pensaram em colocar para adoção?

Beatriz fica pálida com o insulto implícito de que não é capaz de ser mãe.

Estendo a mão para ela.

— Beatriz, vai dar tudo certo…

Mas ela já está correndo para fora da cozinha, um soluço preso na garganta, enquanto murmura algo que soa como banheiro e desculpa. Seus pés se chocam contra o piso de madeira, correndo mais depressa do que uma grávida de oito meses deveria.

Pulo da cadeira.

— Beatriz…

— Dá um tempo pra ela — diz minha mãe atrás de mim.

A porta bate, e estremeço diante do estrondo. Corro na direção do corredor, mas paro no meio da cozinha e me viro para minha mãe.

— Beatriz é uma boa pessoa — digo, rispidamente. — E ela vai ser uma ótima mãe. E, mesmo que fosse a pior, você ia ter que aceitá-la, porque aquela criança na barriga dela é metade de mim.

Desta vez é a minha mãe que empalidece.

— Isso é uma ameaça? — Sua voz treme.

Corro os dedos agitados pelo cabelo.

— Não. Mas não tem nenhuma necessidade de estarmos de lados opostos do rinque aqui. Estamos todos no mesmo time.

Minha mãe ergue o queixo num desafio.

— Só vendo pra crer.

Decepcionado, balanço a cabeça e sigo até o corredor, para ver se Beatriz quer falar comigo.

Ela abre a porta do banheiro com os olhos vermelhos.

— Desculpa sair correndo desse jeito.

— Tá tudo bem, princesa. — Empurro-a mais para dentro e fecho a porta atrás de mim. Ela me deixa abraçá-la — o máximo que conseguimos com uma bola de boliche entre nós. — Você vai ser uma ótima mãe. Acredito em você.

Seu corpo parece frágil, apesar do peso que ganhou.

— Não fica com raiva da sua mãe — sussurra ela em meu peito. — Ela tá tentando te proteger. Ela só quer o melhor pra você. Sei disso.

— Ela vai mudar de ideia. — Mas soo muito mais confiante do que me sinto.

A Conquista | BETRIZ Donde viven las historias. Descúbrelo ahora