͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏35. beatriz ⋆✴︎˚。⋆

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— Primeiro vamos ver um pequeno vídeo com o padrão adequado de respiração, depois vamos praticar.

O vídeo consiste em cinco minutos de uma mulher ofegante, com os lábios contorcendo-se em formatos diferentes, enquanto seu parceiro conta.

— Acha que tem um bebê de verdade ali dentro ou é uma daquelas barrigas de espuma? — pergunta Beto, apertando de leve os meus ombros.

— Espuma — respondo, na mesma hora. — Ela não tá nem suando. Suo até pra calçar os sapatos.

Ao final do vídeo, Stacy caminha pela sala para verificar nossa respiração.

— Respira mais fundo, Beatriz. Roberto, por favor, mais força nessa massagem. Coloca os dedos mais perto da nuca. O pescoço dela precisa de mais atenção.

Seus dedos percorrem a lateral do meu pescoço, provocando um gemido baixo em mim. Cara, que delícia. Acho que Stacy tinha razão. Eu estava mesmo precisando de mais atenção no pescoço.

— Muito bem, Roberto — elogia Stacy. Ela ergue o rosto e fala para a turma toda. — Agora, quero que vocês pensem na sua memória favorita. Algo muito bom na sua vida. Fechem os olhos e tragam essa lembrança para o primeiro plano. Fixem essa imagem na sua tela mental.

— Estou visualizando que um de nós é um ciclope. — A respiração de Beto faz cócegas no meu ouvido, e começo a sentir coisas completamente inadequadas lá embaixo.

— Talvez o caolho seja o seu pau — contraponho.

O casal perto da gente bufa alto. Dessa vez, os ignoramos.

— Todo esse “shhhh” está me lembrando da biblioteca. — Seus lábios roçam a minha orelha. — Na verdade, é pior que a biblioteca, porque não tem mesa nenhuma para esconder a minha mão entrando na sua saia.

Me contorço.

— Cala a boca.

— Ela me disse para voltar à minha memória favorita. A maioria delas envolve ou a minha cabeça de cima, ou a de baixo, entre as suas pernas.

— O importante — diz Stacy, levantando a voz e lançando um olhar aguçado em nossa direção —, é encontrar paz. Agora fechem os olhos e se imaginem no seu lugar feliz.

Beto cantarola.

Tenho que admitir, todas as minhas boas memórias mais recentes também envolvem Beto, mas este definitivamente não é o momento ou o lugar para ficar com tesão. Então invoco o brasão vermelho e tento canalizar a euforia de saber que passei para Harvard. Isso também foi uma lembrança boa.

— Parceiros, enquanto a mamãe está respirando, por favor, façam uma boa massagem no pescoço e nos ombros. Muitas mamães guardam a tensão ali. Não sejam delicados demais. Suas mamães são pilares da força. O vídeo a que vamos assistir agora é do nascimento em si.

Stacy aperta um botão no laptop ligado ao projetor. Uma imagem de um pegador de cozinha gigante aparece na tela. Bom, talvez não seja um pegador de cozinha, mas parece demais com um. A câmera se afasta, e vemos que o pegador está sendo manipulado por um médico de máscara. À medida que a cena se desenrola, um suspiro toma a sala.

Surgem as pernas abertas de uma mulher, e não é bonito. Cubro os olhos. As mãos de Beto pressionam meu pescoço.

A voz alegre de Stacy narra a cena.

— Ao verem os vídeos a seguir, lembrem-se de seu lugar feliz. O apetrecho utilizado não é um dispositivo de tortura, e sim um fórceps. Se você não for capaz de empurrar com força o suficiente, seu médico vai ter que usar isso para puxar o bebê do útero, o que pode afetar a forma da cabeça do seu filho e possivelmente levar a danos cerebrais. Continuem respirando, mamães. Parceiros, continuem a massagem. Isto é o que vai acontecer se você não conseguir dominar a sua dor. Lembrem-se de que a sua mente controla o resultado.

Outro suspiro coletivo toma a sala quando a tela mostra um bisturi cortando a carne de uma mulher.

Beto me aperta mais forte.

— Você tá me sufocando — murmuro.

Ele não me solta. Na verdade, acho que só aperta ainda mais.

— E aqui temos uma cesárea. Quando a barriga for cortada, a criança vai fugir da luz. O médico tem que enfiar a mão e tirar o bebê para fora. Mais uma vez, se você for incapaz de fazer seu dever como mãe e empurrar seu bebê pelo canal vaginal, seu médico vai ser forçado a arrancá-lo a força.

Puxo os dedos de Beto.

— Você tá me sufocando — repito.

Stacy passa para outra cena. Um jato de líquido, sangue e aquilo é merda? jorra da mulher na maca.

— Esta é a coisa mais natural do universo, como os nascimentos que ocorrem na natureza podem comprovar — diz ela, com uma voz sonhadora.

O que se segue é uma sequência de partos sangrentos de diferentes mamíferos.

Agarro o dedo médio de Beto e puxo o mais forte que posso.

— O que foi? — pergunta ele, afastando-se na mesma hora.

— Você tava me sufocando! — reclamo.

— Achei que você tinha dito “você tá brincando”!

Olhamos um para o outro, tomados tanto pelo horror quanto pela hilaridade da situação.

— A comunicação é sempre a chave — cantarola Stacy lá na frente.

O riso vence. Beto e eu desabamos um contra o outro. Não conseguimos parar de rir, e, depois de alguns segundos chamando nossos nomes e batendo palmas em busca de atenção, Stacy finalmente nos pede para sair.

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now