Cora e eu a encaramos, horrorizada.
— Hope, dá pra calar a boca? — ordena Cora.
— Só estava dizendo que, do ponto de vista médico, é uma teoria possível. Aqui não, mas talvez em outros países menos desenvolvidos. — Ela estende o braço e dá um tapinha na minha barriga. — Não se preocupe. Você tá segura. Você deveria ter comprado mais roupas de gestante — diz, mudando de assunto, embora eu ainda esteja digerindo a informação de que minha bebê é uma parasita.
Balanço a cabeça.
— Não. Só tinha coisa horrível lá. Já pareço um barco. Não preciso ser um barco feio.
— Acho que, se estivesse grávida, só ia usar túnicas e robes, que nem a Lucille Ball — divaga Cora.
— Alguém ainda usa isso? — pergunta Hope.
— Pois devia.
Concordo com a cabeça, porque não tenho dúvida de que usaria alguma coisa assim por cima da calça jeans horrorosa com cintura branca expansível de poliéster. Sei que vou agradecer pela cintura expansível em algumas semanas, mas neste momento não estou ansiosa para aumentar de tamanho.
— Tentei me abaixar e tocar os dedos hoje de manhã — conto às meninas. — Me desequilibrei, bati a cabeça na mesa e ainda tive que chamar minha avó para me levantar. Estou literalmente do tamanho de um Oompa Loompa.
— Você é a Oompa Loompa mais bonita do mundo — declara Hope.
— Porque ela não é laranja.
— Os Oompa Loompas eram laranja? — Tento visualizá-los na cabeça, mas só lembro dos macacões brancos.
Cora franze os lábios.
— Eles eram pra ser doces? Tipo balinha de laranja?
— Eles eram esquilos — Hope nos informa.
— De jeito nenhum — nós duas exclamamos ao mesmo tempo.
— Claro que eram. Li isso numa embalagem de bala de caramelo, quando eu tinha dez anos. Era um “Você sabia?”, e eu tinha acabado de ver o filme. Passei anos morrendo de medo de esquilos depois disso.
— Que merda. Vivendo e aprendendo. — Fico de pé, uma tarefa que hoje em dia exige certa quantidade de força da parte superior do meu corpo, e vou inspecionar o berço.
— Não acredito — Cora diz a Hope. — O filme é sobre doces. Se chama A fantástica fábrica de chocolate. Desde quando esquilo é doce? Se fosse coelho eu aceitava, sabe como é, tem o coelhinho da Páscoa, mas esquilo, não.
— Pode pesquisar. Tô certa.
— Você tá acabando com a minha infância. — Cora se vira para mim. — Não faça isso com a sua filha.
— Ensinar pra ela que Oompa Loompas são esquilos?
— É.
Hope ri.
— A minha teoria sobre a maternidade é a seguinte: vamos errar. Feio. Várias e várias vezes. E nossos filhos vão precisar de terapia. O objetivo é reduzir a quantidade de terapia de que eles vão precisar.
— É uma perspectiva bem sinistra — observo. — Como é que essas partes se juntam? Tá faltando alguma coisa? — Tem duas cabeceiras iguais, mas as outras tábuas no chão parecem um monte de peças de Lego sem instrução.
Cora dá de ombros.
— Sou uma cientista. Posso estimar o volume e a massa das peças, mas não vou me machucar tentando montar um berço.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏35. beatriz ⋆✴︎˚。⋆
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