— Na verdade... — Ulisses sorri para nós. — Ronaldo pulou fora.
Giro em minha cadeira para olhar para o nosso colega.
— Desde quando?
Ronaldo fecha a cara na mesma hora.
— Decidi sair do páreo — murmura ele. — É muita responsabilidade.
Isso provoca um riso de escárnio de Ulisses.
— Decidiu sair do páreo? É assim que a gente tá chamando agora?
Ronaldo olha feio para o amigo.
— É assim que a gente tá chamando porque é a verdade.
— Ah, é? — Ulisses fica de pé. — Já volto.
Ele sai da cozinha, e Beatriz e eu trocamos olhares intrigados. Ouço-o andando pela sala. Um instante depois, ele aparece de novo e sacode a mão na frente da cara de Ronaldo.
— Então como você explica isto?
Beatriz grita, horrorizada.
Mas eu estou curioso demais para saber por que Ulisses está segurando uma boneca do tamanho de um recém-nascido.
Sem cabeça, diga-se de passagem.
— Você trouxe pra casa? — Ronaldo parece indignado.
— Claro que trouxe. De que isso ia servir lá? Não tem cabeça, cara.
— Você trouxe isso de onde? — pergunto, com cuidado, embora não tenha certeza se quero saber a resposta.
— Reanimação cardiorrespiratória para recém-nascidos — explica Ulisses. — Fizemos um curso no centro médico do campus hoje de manhã.
— Reanimação cardiorrespiratória para recém-nascidos?
Beatriz sacode a cabeça, atordoada.
— Era o teste para demonstrar segurança sob pressão. — Ulisses sorri, presunçoso. — E ele não passou. Já eu passei com honras, claro.
— É culpa minha que eu não conhecia minha própria força? — protesta Ronaldo.
— É! — responde Ulisses, numa crise de riso. — Isso é totalmente sua culpa. — Ele levanta a boneca e mostra ao redor, divertindo-se. — Me diz onde fica o cérebro dela. Ah, não dá. Porque você decapitou a boneca.
Beatriz vira para mim.
— A gente pode ir lá em cima empacotar umas coisas?
— Vocês estão assustando a Beatriz — resmunga Glorinha para os dois idiotas discutindo ao nosso lado. — Amor, tira essa boneca daqui. E, Ronaldo, me lembra de nunca deixar você tomar conta dos meus futuros filhos. — Com isso, ela se concentra em Beatriz. — Certo, deixando Úrsula Mary de lado um pouco, em que outros nomes vocês estão pensando?
Beatriz e eu trocamos outro olhar.
— Ainda não discutimos isso — admite ela.
— Tem algum nome em geral que você gosta?
Beatriz pensa um pouco.
— Gosto de Celeste.
— Ah, adorei! — exclama Camila. — Celeste Sobral. Soa bem.
— Celeste Dourado — corrige Beatriz.
Olho feio para ela.
— O sobrenome vai ser Sobral.
— Não vai, não. Vai ser Dourado.
— E que tal Dourado-Sobral? — sugere Fitzy, enquanto pega uma cerveja na geladeira.
— Não — respondemos em uníssono. Não porque somos contra hifens, mas porque somos dois teimosos.
Não sabia que iria me sentir tão determinado a dar meu sobrenome para a minha filha, mas é assim que me sinto. Droga, se dependesse de mim, Beatriz também teria o meu sobrenome. Mas, para isso, a gente teria que se casar, o que significa que eu teria de pedi-la em casamento, e tenho certeza de que ela se mudaria para outro continente se eu fizesse isso. Podemos estar dormindo juntos de novo, mas sei que ela ainda está lutando contra a ideia de sermos um casal.
Por alguma razão, a boba pensa que tem que fazer tudo sozinha.
— Certo. — Glorinha sorri. — Que tal se a gente discutisse o primeiro nome só depois de vocês terem resolvido o problema do sobrenome?
Parece uma boa ideia. A última coisa que quero é discutir com Beatriz na frente de todos os meus amigos.
— Vamos lá pra cima empacotar alguma coisa — digo a Beatriz.
Assentindo, ela me permite ajudá-la a levantar da cadeira.
Em seu canto na bancada, Ulisses parece triste.
— Não acredito que você vai se mudar.
Reviro os olhos.
— Vocês também vão.
— É, mas só daqui a duas semanas.
Noto que Ronaldo também parece decepcionado com a perspectiva da minha partida hoje. Eles queriam fazer uma festa de despedida para mim, mas não deixei, porque tecnicamente isto não é um adeus. Só estou me mudando para Boston, que é onde os dois vão estar daqui a alguns meses, de qualquer forma.
Mas Basilio está indo para Nova York. Ele desistiu da faculdade de direito e arrumou um emprego como professor numa escola preparatória. Flora conseguiu um papel num programa de TV que vai ser filmado em Manhattan, então acho que eles vão morar juntos.
Na verdade, estou ao mesmo tempo triste e aliviado por Basilio estar indo morar em outro estado. Ele não foi exatamente solidário com a minha paternidade iminente, mas ainda é um dos meus melhores amigos, droga.
— Já decidiram quem vai ficar com a suíte?
Ulisses está falando com Fitzy agora, que encolhe os ombros tatuados.
— Eu. Claro.
— Não sei, não — adverte Ronaldo. — Henry e o calouro vão brigar por ela.
Fitzy levanta uma sobrancelha e depois flexiona o bíceps enorme.
— Eles que tentem.
Contenho o riso. Pois é, Henry e Hunter não têm a menor chance contra Colin Fitzgerald. Mas, considerando como ele é um cara reservado, ainda estou surpreso que tenha concordado em dividir o aluguel da casa com os dois. Achei que iria procurar outro lugar só para ele, mas acho que Henry conseguiu convencê-lo.
Beatriz e eu subimos até o segundo andar, onde dou uma conferida no meu quarto vazio. A cama já foi retirada, e não temos onde sentar. Vejo Beatriz esfregando a base das costas, então faço uma nota mental para não a deixar de pé por muito tempo.
— Certo — começa ela, decidida, ao abrir a porta do armário. — Vamos dobrar tudo bonitinho? Ou só jogar nas caixas de qualquer jeito?
— Caixas? Que caixas? — Pego uma embalagem de sacos de lixo do chão. — As roupas vão aqui.
— Meu Deus. Só homem mesmo.
— E não é isso que eu sou? — Sorrindo, corro a mão pelo abdome e seguro o pau por cima da calça jeans. — Quer dar uma conferida para ter certeza?
— Você me chamou aqui em cima pra empacotar suas coisas ou pra me comer?
— Os dois?
Ela gesticula para o quarto à nossa volta.
— Não tem cama.
— Quem precisa de cama?
— A pobre da grávida gorda aqui — responde Beatriz, sorrindo, num tom de autocrítica.
— Que tal se a gente fizer assim: — Contraponho. — Vamos empacotar tudo o mais rápido que a gente puder, aí eu te sigo de volta para Boston e nós dois podemos ir à loucura na sua cama grande e confortável.
Ela fica na ponta dos pés e planta um beijo nos meus lábios.
— Combinado.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏33. beto ⋆✴︎˚。⋆
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