— Ótimo. Praticamente um sonho.
Já fiz um ultrassom, então não fico preocupada quando a técnica se cala depois de começar o exame. Às vezes ela aponta alguma coisa, tipo a coluna do bebê, que parece um cordãozinho de pérolas, ou o fato de — graças a Deus — ele ter dez dedos nos pés e nas mãos.
Beto fica lá, num silêncio maravilhado, observando as imagens granuladas na tela. Em dado momento ele se abaixa e beija a minha testa, e ondas de calor inundam meu corpo. Estou feliz que ele esteja aqui. De verdade.
— Certo. Tudo pronto. — Depois de limpar a gosma da minha barriga, a técnica aperta um botão e a máquina faz um zumbido e imprime uma imagem. Mas ela não a entrega a nós. Em vez disso, anuncia: A médica já vem conversar com vocês. Se precisar esvaziar a bexiga, o banheiro fica na segunda porta à esquerda.
Beto ri diante da pressa com que eu pulo da mesa.
— Já volto — digo a ele, deixando a sala.
Faço o que tenho de fazer, lavo as mãos, e, quando volto para a sala de exame, a dra. Laura já está lá, conversando com Beto. Quando a conheci, não soube bem o que pensar. Acho estranho chamar um médico pelo primeiro nome. Talvez tenha imaginado que era um sinal de falta de profissionalismo ou algo assim, mas a mulher parece saber o que faz. Tem trinta e poucos anos e explica as coisas de um jeito direto que eu aprecio.
Então, o papai aqui está dizendo que vocês não chegaram a um acordo sobre descobrir o sexo do bebê — comenta ela, quando entro.
— O papai aqui está sendo teimoso — resmungo.
Beto abre a boca.
— Nada disso. A mamãe é que é a teimosa porque não gosta de surpresas.
Deslizo a mão sobre a barriga saliente, que aumentou bastante no último mês.
— Isso aqui não foi surpresa o suficiente para você? — pergunto, de forma contida.
A dra. Laura deixa escapar uma risada, antes de fitar a pasta com a minha ficha em sua mão.
— Bem, temos uma imagem muito clara do ultrassom. Como a minha paciente é a Beatriz, e não você, Roberto, vou dizer o sexo, se é isso que ela quer.
— Traidora — responde ele, com um olhar de decepção fingida.
— Quero saber — digo à médica, antes de me voltar para Beto. — Pode sair da sala agora, papai.
— Acho que não… Mudei de ideia. Quero saber.
Encaro-o, ansiosa.
— Tem certeza?
Ele responde com um aceno sério.
— Tudo bem então. Pode falar — peço à médica.
Seus olhos brilham.
— Parabéns. Vocês vão ter uma menina.
Arquejo, levando todo o oxigênio para os meus pulmões e prendendo o ar lá dentro. Meu pulso acelera, e é como se tudo à minha volta, o meu mundo inteiro, entrasse em foco e se tornasse mais nítido. As cores parecem mais brilhantes, e o ar mais leve, e toda esta experiência — esta vida crescendo dentro de mim — de repente parece real.
— Vamos ter uma menina — murmuro, voltando-me para Beto.
Seu olhar é quase reverente.
— Vamos ter uma menina — sussurra ele.
A dra. Laura deixa que nos encantemos em silêncio por alguns segundos, antes de limpar a garganta.
— De qualquer forma, está tudo indo muito bem. É uma bebê saudável, com pulsação forte e constante. Continue tomando as vitaminas pré-natais, tente não se esforçar demais, e a gente se vê de novo em quatro semanas.
Na porta, ela para e lança uma piscadinha para Beto por cima do ombro.
— Quanto ao outro assunto que você perguntou, tudo liberado.
Depois que ela vai embora, franzo a testa para ele.
— Que outro assunto?
Ele dá de ombros, o epítome do mistério.
— Só uma pergunta de pai. — Então pega na minha mão. — Vamos. Quero te mostrar uma coisa antes de te levar pra casa.
Minha testa se enche de rugas.
— Mostrar o quê?
— É surpresa.
— Não acabamos de concluir que não gosto de surpresas?
Ele ri.
— Vai por mim, dessa você vai gostar.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏31. beatriz ⋆✴︎˚。⋆
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