De todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
— Tá, talvez não oitenta por cento. Mas acontece, cara, e é nojento. Ah, e a placenta? Um saco sangrento que cai no chão depois que a criança sai? Depois de ver isso, garanto que você nunca mais vai querer enfiar o pau lá de novo.
— Estou com muita pena da Camila agora — observa Ulisses.
— Vou insistir em marcar uma cesárea — diz Ronaldo, decidido, mas o brilho em seus olhos me diz que está só brincando. Sempre dá pra contar com Ronaldo para aliviar o clima.
— Olha — digo —, sei que é um choque enorme. E, de verdade, a ficha ainda não caiu totalmente pra mim. Mas am… gosto muito da Beatriz. — Me corrijo antes de dizer a palavra “amo”. De jeito nenhum vou confessar isso para os meus amigos antes de falar para ela. — Basilio tá errado. Ela é obstinada, sim, mas não é fria nem crítica. Beatriz tem o maior coração do mundo. Ela é… incrível pra caralho.
Um nó fecha a minha garganta. Droga. Queria que Beatriz pudesse se ver pelos meus olhos. Ela acha que está me arrastando para a sarjeta com ela, mas não é verdade. Está me dando a única coisa que sempre quis — uma família. Claro que isso aconteceu um pouco antes do que eu tinha planejado, mas a vida nem sempre segue um roteiro.
— Então você vai mesmo fazer isso, né? — Ulisses soa um pouco impressionado.
— Vou.
— Posso ser o padrinho?
— Vai se foder! — exclama Ronaldo. — O padrinho vou ser eu. Claro.
— Até parece. Tá na cara que sou a melhor opção.
— Tá na cara que você é o mais egocêntrico, isso sim.
Rio.
— Se continuarem assim, não vou escolher nenhum dos dois. Mas é bom saber que estão ansiosos pra assumir o cargo. Acho que vou inventar algum tipo de competição, botar os dois pra suar.
— Tá no papo — diz Ulisses na mesma hora.
— Quero só ver!
Saio da cozinha e deixo meus amigos discutindo. Basilio pode ter sido um babaca diante da notícia, mas é um alívio saber que pelo menos tenho o apoio de Ulisses e de Ronaldo.
Com certeza vou precisar.
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A mensagem de Fitzy aparece assim que estaciono na frente do Malone’s. Vim direto para cá, porque contar para meus amigos sobre o bebê não é o único item na agenda de hoje. Ainda preciso encontrar um lugar para morar, e estou torcendo para que Fitz possa me ajudar com isso.
Digito uma resposta rápida.
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Guardo o celular, tranco a caminhonete e sigo para o bar. Fitzy está tomando uma cerveja quando sento na frente dele. Pediu uma para mim também, que aceito com gratidão.
— Oi. Obrigado por ter vindo.
Ele dá de ombros.
— Sem problema. Estava ficando louco em casa. Meu apartamento é pequeno pra caralho.
Hum. Não estava esperando uma oportunidade tão no início da conversa, mas de jeito nenhum vou deixar a chance passar.
— É disso mesmo que eu queria falar com você.
Fitzy arqueia a sobrancelha.
— Do meu apartamento pequeno?
— Mais ou menos. — Deslizo o dedo pelo rótulo da cerveja. — Você disse que o seu contrato termina em maio, né?
— É. Por quê?
— Já pensou no que vai fazer depois disso? Vai renovar? Se mudar?
Ele abre um sorriso meio sem jeito.
— Qual é a do questionário?
— Só quero saber o que você tá pensando em fazer. — Dou outro gole. — Não vou voltar pro Texas depois da formatura.
Ele me fita por cima do gargalo da garrafa.
— Quando você decidiu isso?
— Quando soube que vou ter um filho, em agosto.
Fitz engasga do outro lado da mesa. Eu provavelmente não deveria ter soltado a bomba com ele no meio do gole. Me sinto mal de vê-lo tossindo descontroladamente.
— Vo… você… — Ele tosse de novo. Pigarreia. — Você vai ter um filho?
— Vou. Beatriz tá grávida.
— Ah. — Ele ergue um braço tatuado e esfrega a têmpora. — Merda. Quer dizer. Parabéns, acho?
Um sorriso involuntário toma meus lábios.
— Obrigado.
Ele me estuda com cuidado.
— Você parece tranquilo.
— É porque tô tranquilo — digo, simplesmente. — Mas, sim, preciso arrumar um lugar em Boston. E lembro que você comentou que não seria contra a ideia de morar na cidade, então… — Dou de ombros. — Achei que não tinha mal nenhum em perguntar se você topa dividir alguma coisa.
— Ah. — Seus olhos brilham com uma pontada de culpa. — Acabei mudando de ideia. Primeiro achei que a viagem de carro não ia incomodar, mas depois falei disso com Hollis, e ele me lembrou como é uma merda dirigir de Boston pra Hastings no inverno, então vou passar o último ano aqui.
Engulo a decepção.
— Ah, ok. Faz sentido.
— Pergunta idiota, mas… Por que você não vai morar com a Beatriz?
Pergunta idiota coisa nenhuma.
— A gente ainda não tá nesse pé — respondo, porque a alternativa é vergonhosa demais. Porque ela não quer ficar comigo.
— Certo. Bem, se você estiver falando sério sobre morar em Boston, conheço uma pessoa que tá precisando de alguém pra dividir o apartamento.
Me animo novamente.
— Quem?
— Você não vai gostar — avisa ele.
— Quem? — insisto.
— O irmão do Henry. O proprietário quer subir o aluguel, e ele não sabe se consegue manter o lugar sozinho.
Ah, merda. Brody Hollis, o rei dos babacas? Melhor não. Mas não posso me dar ao luxo de ficar escolhendo. Afinal, não tenho opção melhor. Brody é meio… arruaceiro, mas o apartamento dele é grande, limpo e tem dois quartos.
E fica a cinco minutos de carro da casa de Beatriz.
Por mais que odeie a ideia, não posso negar que é conveniente.