— Pois é. Até o final do terceiro trimestre ainda dá pra tirar.
A falta de apoio machuca, mas de alguma forma me torna ainda mais decidida. A minha vida inteira tem sido provar para as pessoas que duvidam de mim que sou capaz.
— Não — digo com firmeza. — É isso que eu quero.
— E Harvard? — pergunta Hope.
— Ainda vou. Nada mudou.
Minhas amigas trocam um olhar de quem concorda que estou louca e que uma delas tem que me dar a notícia. Acho que Hope ganha, porque ela diz:
— Acha mesmo que nada vai mudar? Você vai ter um filho.
— Eu sei. Mas milhões de mulheres têm filhos todos os dias e ainda conseguem levar uma vida de adulto normal.
— Vai ser muito difícil pra você. Quem vai cuidar do bebê enquanto você estiver na aula? Como é que você vai estudar? — Ela estende o braço por cima da mesa e aperta a minha mão inerte. — Não quero que você se sinta como se estivesse cometendo um erro.
Fecho a cara.
— Ainda vou para Harvard.
Não sei se é o meu tom ou a minha expressão que convence as duas de que já me decidi, mas, seja como for, elas entendem o recado. Apesar do ceticismo ainda presente em seus rostos, as duas seguem em frente com as perguntas.
— É menino ou menina? — começa Cora. — Espera… O pai é o Beto, né?
— Claro que o pai é o Beto, e não sei o sexo. Ainda não fizemos o ultrassom.
— O que ele disse quando você contou? — acrescenta Hope.
Que não estou sozinha.
— Por ele, tudo certo. Não desatou a chorar nem gritou de raiva. Não chutou a mesa ou se enfureceu com a injustiça da situação. Só me abraçou e disse que eu não estava sozinha. Acho que tá um pouco assustado, mas vai me apoiar em cada passo do caminho. — Engulo o nó na minha garganta. — E, por mais que eu queira protegê-lo, vou me segurar nele pelo tempo que for possível. É egoísta pra cacete da minha parte, mas, neste momento, a ideia de enfrentar o futuro sozinha me tira o sono.
— Pelo menos isso é bom — diz Cora, com carinho.
— Ele é incrível. Não mereço esse cara. — Deus, se minhas melhores amigas não estão sabendo lidar com a situação, não posso nem imaginar o que está se passando na cabeça de Beto.
Hope franze a testa.
— Por que você tá falando isso? Afinal, você não engravidou sozinha.
— Ele não teve escolha.
— Besteira. Sempre que a gente faz sexo tem risco. Nenhum contraceptivo é cem por cento eficaz, nem vasectomia. Quer se divertir, tem que pagar o preço.
— É um preço muito alto.
Ela me dispensa com um gesto da mão.
— Que você também tá pagando.
— Dá pra parar de ser tão deprimente? — intervém Cora. — Vamos falar das coisas importantes. Quando você vai fazer o ultrassom? Quero começar a comprar coisinhas de bebê.
Abro a boca para dizer que não sei, quando somos interrompidas pelo telefone de Cora.
— Merda. — Ela o tira da bolsa e levanta do banco. — É meu orientador. Tenho que atender.
Enquanto ela desaparece na direção do banheiro, Hope volta o olhar preocupado para mim.
— Droga, Bea. Espero mesmo que você saiba o que tá fazendo.
— Eu também. — Sei que ela me ama e que é por isso que está tão preocupada, mas, como disse Cora, não quero me concentrar nos aspectos negativos. Já tomei minha decisão, e se elas continuarem pondo dúvidas na minha cabeça só vou me sentir mal.
— Só quero que você seja feliz — diz ela, com carinho.
— Eu sei. — Desta vez, sou eu que estendo o braço por cima da mesa. — Tô com medo, mas é isso que eu quero. Juro.
Ela segura a minha mão com força.
— Tá bom. Então vou estar aqui. Pro que der e vier.
Cora volta e empurra Hope para o lado no banco.
— Vou aprender a tricotar — anuncia.
— Tricotar? — repito, com ironia.
— É, sapatinhos de bebê. Você tá de cinco meses? Isso me dá uns quatro pra aprender a tricotar, então se prepare para ser surpreendida pela minha nova habilidade.
Abro um sorriso, por fim.
— Pode deixar, tô preparada.
Em mais de um sentido, mas, ei, tenho minhas amigas e tenho Beto, que é mais do que jamais imaginei e provavelmente mais do que mereço.
Mas não vou recusar.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏29. beatriz ⋆✴︎˚。⋆
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