— Isso é ótimo — digo a ela, mas, na minha cabeça, não entendo.
Porque alguém iria largar um trabalho pago de cantora por algo que parece arriscado pra burro? Se eu tivesse um trabalho bom agora, talvez tivesse esse bebê. Acho que se tivesse ficado grávida no final do curso de direito, e não no início, estaria vendo as coisas de forma bem diferente.
— É assustador, na verdade. Tive que pegar um emprego de garçonete, o que nunca fiz antes. Mas é o único jeito de pagar as contas. E largar a Broadway agora pode significar que nunca mais consiga voltar.
— Eu, hã, eu… — gaguejo. A possibilidade de perder tudo o que planejei para a minha vida por causa dessa gravidez me deixou paralisada. Joanna parece estar pulando de propósito de um penhasco, sem rede de proteção. — Espero que você corra atrás do seu sonho — termino, sem convicção.
— É exatamente o que tô fazendo. — Ela suspira. — E, apesar do que meus pais acham, não tô numa crise existencial porque Beau morreu. Na verdade, ele me apoiaria cem por cento, você não acha?
Beau amava a irmã, então, sim, se isso a faria feliz, ele teria apoiado.
— Ele iria querer te ver feliz — concordo.
Joanna morde o lábio inferior.
— Sabia que Beau na verdade não queria virar profissional? Quer dizer, o time estava indo mal no ano passado, e ele tinha recebido propostas para ir para outras universidades, talvez ganhar outro campeonato. Isso o teria colocado numa posição melhor para ser convocado por um time profissional, mas ele amava o time da Briar e não estava interessado em seguir carreira. Beau só queria ser feliz.
Ela começa a engasgar, e peço a Deus que as lágrimas não transbordem, porque, se ela chorar, vou começar a chorar também.
A gravidez me transformou numa chorona.
— Então você tem que fazer isso — digo, com firmeza.
— Eu sei.
Ela limpa o rosto com a manga, enquanto vasculho a bolsa para ver se encontro um lenço. Tem um amassado no canto, mas está limpo, e Joanna o aceita com gratidão.
— Ele gostava muito de você — diz, com uma voz suave. — Vocês teriam dado um casal lindo, mas talvez tenha sido melhor você não ter se apaixonado por ele. — Seu rosto se contorce, à medida que a dor que estava tentando conter transborda. — Senão você ia estar um trapo que nem eu.
Sem dizer uma palavra, eu a guio para a mesa, arrasto uma cadeira vazia para junto da minha e sento ao seu lado, enquanto ela chora. Alguns dos outros clientes nos lançam olhares estranhos. Respondo a indiscrição com uma expressão furiosa.
Felizmente, Joanna se recompõe em dois tempos. Logo está assoando o nariz e me lançando um olhar desanimado por sob a cortina de cabelo.
— Merda. Passei o dia inteiro sem chorar — murmura. — Era um novo recorde.
— Se eu fosse você, não conseguiria sair da cama.
— Foi o que eu fiz nas duas primeiras semanas, aí um dia acordei e pensei que Beau ia me dar uma bronca se me visse jogando a vida no lixo. Então aqui estou, tentando algo estúpido e novo.
— Pra mim não parece tão estúpido.
E já não parece mesmo. Joanna é jovem. Se correr atrás de uma carreira diferente na música for o seu sonho, melhor tentar agora do que mais tarde.
— Acredita mesmo nisso?
— Claro.
Ela enfia o lenço no bolso do casaco.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏26. beatriz ⋆✴︎˚。⋆
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