Beto pega a minha mão e entrelaça nossos dedos enluvados, e ficamos ali, olhando a pista por um tempo. Meu coração dá um pulo, porque parece que somos um casal de verdade. Só duas pessoas felizes passando a tarde no parque, desfrutando da companhia um do outro.
— Ai, merda, tá vendo aquele homem ali? — pergunta Beto, de repente.
Eu sigo seu olhar até encontrar um homem alto e grisalho numa parca azul e de patins pretos.
— Tô… Você conhece?
Ele aperta os olhos.
— Não. Por um segundo achei que conhecia, mas é só um sósia.
— De quem? — pergunto, curiosa.
— Do treinador Mort.
Quase engasgo com minha própria língua.
— Tá legal. Volta um pouquinho. Você acabou de falar “treinador Morte”?
Suas gargalhadas fazem cócegas no meu rosto.
— É. E não estava nem brincando, princesa. Meu primeiro treinador de hóquei se chamava Paul Mort. Parece que é um nome britânico. Ou galês, talvez. Não lembro agora.
Fico de costas para o corrimão.
— E ele era tão malvado quanto o nome sugere?
— O cara mais legal que existe — declara Beto.
— Sério?
— Muito. Foi a primeira pessoa que me disse que eu tinha potencial. Eu tinha cinco anos na época. Implorei para a minha mãe me botar na escolinha de hóquei, então ela me levou numa arena a uma hora de casa, porque Patterson não tem rinque. O treinador Mort se abaixou, apertou minha mão e disse: “Positivo, dá pra ver, filho. Você tem potencial” — Beto solta uma risada. — Positivo era o bordão dele. Comecei a falar dentro de casa, e minha mãe ficava louca.
Eu rio.
— Então, o treinador Mort era o seu ídolo na infância?
— Basicamente. — Ele inclina a cabeça. — E você? Quem era o seu ídolo?
— Eu tinha cinco. — Sorrio para ele. — Se chamavam One Direction.
Beto deixa o queixo cair.
— Ah, não, princesa, diz que não. Você gostava de boy bands?
— Muito, você nem imagina. Minha avó me levou num show do One Direction quando eu tinha doze anos. Juro que tive meu primeiro orgasmo naquela noite.
Ele joga a cabeça para trás numa gargalhada.
— Já falei, não tem graça — resmungo. — Fiquei obcecada. Rabiscava Beatriz Styles em todos os meus cadernos.
— Não consigo imaginar isso.
— Por que não?
— Porque você é tão séria o tempo todo. Quando te imagino criança, vejo você lendo por diversão e estudando para as provas de conclusão do ensino médio com quatro anos de antecedência.
Um sorriso irônico surge em meus lábios.
— Fiz tudo isso também. Mas sempre tinha tempo pro Harry. Eu fazia pausas nos estudos para beijar sua foto. De língua.
Beto dá uma gargalhada.
— Caramba, Beatriz. Depois dessa, não sei mais se posso continuar com você.
E, simples assim, meu bom humor vai embora. Não por causa do que ele falou, sei que está brincando — mas por causa… Por causa do elefante rosa ou azul entre nós, droga.
Beto e eu estávamos namorando havia só uns poucos meses quando essa bomba caiu no nosso colo. Será que a gente ia ter um futuro juntos? Amo passar o tempo com ele. É fácil ficar com ele, mais fácil do que jamais foi com qualquer um. Eu estava começando a ver um futuro para nós, mas e ele? E se ele estiver cansado de mim e querendo me largar?
Se tivermos esse filho, então o futuro está decidido. Vamos fazer parte da vida um do outro, independentemente do que quisermos. Independentemente do que ele quiser.
— Qual é o problema? — pergunta, preocupado.
Engulo em seco sobre o nó na garganta.
— Eu… — Meu rosto se contorce. — Ainda não me decidi.
Sua voz fica rouca.
— Eu sei.
— Tô… com medo. — Olho para as minhas botas. — Tô com muito medo, Beto.
— Eu sei — diz ele de novo. Em seguida, esfrega o próprio rosto. — Eu também.
Meus olhos voam para os seus.
— Jura?
— Tá brincando? Tô apavorado. — Ele deixa escapar um gemido. — Tô aqui tentando ser forte pra você, Beatriz. Tentando pra caralho.
Pisco para afastar as lágrimas.
— Em geral, a forte sou eu. Mas agora não me sinto nada forte.
Ele me puxa para os seus braços, e, de repente, estamos abraçados de novo. Tenho certeza de que todo mundo no gelo está olhando para nós, perguntando-se por que estamos nos enlaçando feito dois loucos, mas não ligo. Estou sobrecarregada emocionalmente, e é isso que me leva a dizer:
— Acho que não quero ter esse filho.
Beto se afasta um pouco. Sua expressão é séria.
— Tem certeza?
— Não.
— Então você precisa de mais tempo pra pensar — diz ele, em voz baixa. — Certo?
— Certo. — murmuro.
Depois de um longo tempo, ele pega na minha mão de novo.
— Vem, vamos continuar andando. Vou te contar mais sobre o treinador Mort, e você pode me contar tudo sobre como beijava seu pôster do Styles de língua.
Deixo escapar uma risada. Nossa. Esse cara… Sério mesmo… Esse cara. Quero agradecê-lo. Beijá-lo. Dizer como é maravilhoso.
Mas tudo o que faço é entrelaçar os dedos nos seus e deixá-lo me guiar de volta para a trilha do parque.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏25. beatriz ⋆✴︎˚。⋆
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