͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏21. beto ⋆✴︎˚。⋆

Começar do início
                                        

— Não. — Ela agarra meu pulso, mas seus dedos estão fracos. — Mais umas horinhas e vou ficar bem. Só peguei pesado esta semana. — As lágrimas escorrem pelo seu rosto. — Ai, aquilo foi nojento. Desculpa.

— Imagina, linda, pra que se desculpar? — Seguro-a contra o peito e afasto os lençóis para que ela volte a deitar.

Depois de cobri-la, saio para buscar uma toalha de rosto e um copo d’água. No caminho de volta, pego a lixeira e coloco no chão ao lado dela.

Odeio vê-la tão abatida. Meu lado protetor aflora, e pouso a toalha na sua testa.

— Faz quanto tempo que você tá vomitando assim?

— Não sei. Um tempo. Peguei uma virose. Vovó ficou mal primeiro, mas finalmente melhorou. É só esperar um pouco. Daqui a algumas horas vou estar melhor.

— Tá com febre? Tomou aspirina? — Toco seu rosto com as costas da mão. Não parece quente.

— Sem febre — murmura ela. — Só enjoada e cansada.

Um alarme dispara na minha cabeça.

Mordendo a bochecha por dentro, repasso os sintomas. Enjoo pela manhã, mas que melhora à tarde, seios sensíveis, fadiga. Nenhum sinal de febre. E o fato de que ela nunca ficou menstruada, ou pelo menos nunca falou disso, nos mais ou menos dois meses em que estamos transando.

— Você tá grávida? — deixo escapar.

Suas pálpebras se abrem.

— O quê?

— Grávida.

Listo os sintomas, pontuando com os dedos, e termino com a falta de menstruação.

— Não. Não tô. Fiquei menstruada… — Ela faz uma pausa e pensa. Seu rosto fica pálido. — Há uns três meses — sussurra. — Mas… Minha menstruação sempre foi fraquinha, mesmo com a pílula. E tive uns sangramentos nos últimos dois meses. Achei…

Fico de pé e cato minhas roupas.

— Aonde você vai? — murmura.

— Comprar um teste de gravidez. — Ou cinco. Pego um pacote de biscoitos da bancada e jogo na direção dela. — Tenta comer, tá? Volto já.

Beatriz ainda está reclamando quando saio do quarto.

Tem uma farmácia vinte e quatro horas a oito quarteirões. Corro até ela como se estivesse tentando me qualificar para as Olimpíadas, indiferente ao fato de que esqueci o casaco no hotel.

Na farmácia, encontro três testes diferentes. Compro todos.

O vendedor me lança um olhar de simpatia e abre a boca para dizer alguma besteira. A expressão de ódio na minha cara o faz ficar quieto.

Quando chego de volta, Beatriz está sentada na beirada da cama, comendo os biscoitos. Acho que a esta altura não precisamos dos testes. Ela poderia estar num comercial para grávidas.

Estou surpreendentemente calmo ao abrir as caixas.

— Aqui. Três diferentes.

— A gente sempre usa camisinha — diz ela, num tom distante, como se estivesse falando para si mesma, e não para mim. — Tô tomando pílula.

— Menos na primeira vez.

Ela faz uma careta.

— Foi só a pontinha.

Deixo escapar uma risada involuntária.

— Então fazer xixi nesses palitinhos só vai nos dar paz de espírito, certo?

Ela termina o biscoito em silêncio. Não sei se devo sentar do seu lado ou no sofá. Opto pelo sofá, para lhe dar mais espaço. Às vezes é muito difícil ler Beatriz. Agora, por exemplo, não tenho a menor ideia do que está passando na sua cabeça.

Ela levanta lentamente e se aproxima das pequenas caixas de papelão empilhadas sobre a mesa como se fossem cobras venenosas. Mas enfim as alcança e desaparece no banheiro com as caixas nos braços.

Não corro para a porta com um copo no ouvido, embora esteja tentado pra caralho. Em vez disso, ligo a televisão e assisto a duas mulheres tentarem me vender um casaco de veludo em vários tipos de estampas de animal — por apenas 69,99 dólares.

O entorpecimento mental dura dez minutos infinitos, e então a porta do banheiro se abre. O rosto de Beatriz adquiriu uma cor muito próxima à do roupão branco do hotel que está usando.

— Positivo? — pergunto, embora nem precisasse.

Ela levanta uma caixa vazia.

— Você precisa comprar mais dez disso.

Dou um tapinha na almofada do sofá ao meu lado.

— Não vou comprar mais nada. Vem, linda, senta aqui.

Como uma criança emburrada, ela vem pisando duro. Em seguida, desaba ao meu lado e cobre o rosto com as mãos.

— Não posso ter um filho, Roberto. Não posso.

Um mal-estar invade meu estômago. É uma estranha mistura de alívio e decepção. As palavras eu te amo — que eu queria dizer antes, quando estava enterrado dentro dela — estão presas na minha garganta. Não posso dizer isso agora.

— Faz o que achar melhor — sussurro, colado ao seu cabelo. — Vou apoiar você de qualquer jeito.

Sinto que é tudo o que posso dizer agora, e sei que não é o bastante.

A Conquista | BETRIZ Onde histórias criam vida. Descubra agora