͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏20. beatriz ⋆✴︎˚。⋆

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Nós duas avaliamos o punhado de mesas ocupadas.

Com um aceno decisivo, ela diz:

— É, melhor você ir embora. Você não vai ganhar muito mais do que vinte dólares. Vai pra casa e descansa um pouco.

Ela não precisa falar duas vezes. Ter algumas horas de sono a mais antes de ir para o correio separar correspondências parece um sonho. Então corro para casa e caio na cama sem conferir o celular de novo. Ele ainda vai estar lá de manhã.

Às três e quarenta, meu alarme toca. Quando sento na cama, quase desmaio de tontura. O lanche que engoli às pressas ontem na boate ameaça voltar.

Fecho os olhos e inspiro fundo várias vezes. Quando acho que vou conseguir levantar sem vomitar, abaixo para pegar o telefone.

O que é um grande erro.

Meu estômago se revolta. Estou com vômito na boca antes de alcançar o banheiro, e já despejo tudo antes de conseguir levantar a tampa do vaso sanitário. Caio de joelhos, e parece que tudo que comi na última semana jorra de dentro de mim.

Nossa. Eu me sinto péssima.

Tenho ânsias até não sair mais nada além de uma bile aguada e clara. Ainda de joelhos, pego uma toalha e limpo o rosto. Percebo que estou suando. Estou tremendo, suando e enjoada até não aguentar mais. Fraca, dou descarga duas vezes antes de me levantar.

Na pia, enxáguo a boca e encaro meu reflexo pálido. Tenho que ir para o trabalho. No fim de ano sempre falta mão de obra no correio, e os funcionários recebem hora extra. Não posso me dar ao luxo de ficar em casa.

Volto meio trôpega até o meu quarto, mas paro na porta. Ai, não. A água que engoli não caiu bem. Minha testa começa a suar, obrigando-me a correr de novo para o banheiro.

Ao dar descarga, a ficha começa a cair.

Vou ter que avisar no trabalho que estou doente. Não tenho condições de ir hoje.

O relógio na cabeceira me diz que são 4:05. Já estou atrasada. Pego o telefone e ligo. Kam, meu supervisor, atende na mesma hora.

— Kam, é Beatriz. Tô vomitando muito…

— Você tem um atestado médico? — interrompe ele.

— Não, mas…

— Desculpa, Beatriz, você precisa vir. A gente precisa de toda mão de obra possível. Você pediu pra pegar esses turnos.

— Eu sei, mas…

— Nada de “mas”. Desculpa.

— Eu não paro de vomitar…

— Olha, tenho que ir, mas vou te fazer um favor, vou bater seu ponto, pra você não ser descontada nem levar advertência pelo atraso. Mas você precisa vir. Tem caixa pra cacete pra organizar, não dá nem pra ver a outra parede da sala. Ninguém faz compras no shopping mais?

Aparentemente foi uma pergunta retórica, porque ele desliga logo depois.

Olho para o telefone e fico de pé. Não tenho escolha a não ser ir para o trabalho, então.

++++

— Você tá um lixo — comenta uma das funcionárias temporárias quando entro no correio, vinte minutos depois. — Não chega nem perto. Não quero ficar doente.

Olho feio para ela e fico tentada a vomitar no seu uniforme engomado inteirinho.

— Nem eu — respondo, seca.

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now