— Humm — Ela soa cautelosa. — Achei que não era nada sério.
— Agora é. Você ia gostar dela. Só tira nota boa, tem dois empregos e acabou de passar na faculdade de direito de Harvard.
— Harvard? Isso não é em Boston?
Sua voz parece tomada pela preocupação. Eu entendo. Ela está com medo de que eu não volte para casa se me apaixonar por uma menina de Boston, e foi por esse motivo que ela veio para cima de mim com essa história da Dani Solis antes mesmo de sairmos do carro.
— É. Em Cambridge. — Não posso nem garantir nada, porque, a esta altura, não sei nem o que vou fazer a respeito de Boston, Patterson nem nada disso. A única coisa de que tenho certeza é que quero ficar com Beatriz.
— Quanto tempo é a faculdade de direito?
— Três anos.
Ou seja, tempo demais para ficar separado.
— Seu plano ainda é voltar pra casa e começar um negócio, não é? Estava conversando com Stewart Randolph outro dia. Você se lembra dele? É o dono da imobiliária de Pleasant. Ele tá pensando em se aposentar, e aquele filho dele não quer sair de Austin. Parece que Randy estaria interessado em vender, dependendo da oferta.
Aperto o volante um pouquinho mais forte. Beatriz me perguntou se alguma coisa me afetava. Bem, fazer minha mãe infeliz está no topo da lista. Mas a ideia de comprar a imobiliária de Stewart Randolph não perde por muito. Na verdade, só de pensar em mim na sala de Randolph usando gravata todos os dias faz minha pele pinicar. Tenho alguns planos para o que vou fazer quando me formar, e ser um corretor de imóveis não é um deles, principalmente em Patterson, uma cidade de dez mil habitantes.
— Vou falar com ele — ouço-me dizendo.
— Ótimo. — Pelo menos alguém está satisfeito. — Ah, a propósito, os Solis vão jantar com a gente hoje.
— Deus do céu, mãe.
— Olha a blasfêmia, Roberto.
Inspiro fundo e peço paciência, imaginando quando vou conseguir mandar uma mensagem para Beatriz.
++++
— Minha mãe te declarou oficialmente um “bom partido”. — Dani senta ao meu lado nos degraus dos fundos da pequena casa de dois andares onde morei a vida inteira.
Toco minha taça de sangria na dela.
— Que honra. Vou escrever isso no meu perfil do Tinder.
— Ela também falou que você tem um dinheiro escondido que vai esbanjar comigo, quando eu lhe der o indispensável primogênito. — O sorriso de Dani vai de orelha a orelha. Está na cara que está adorando isso.
— Minha mãe me disse que você era linda e inteligente. — Abafo um suspiro, pensando na outra garota linda e inteligente para quem não consegui escrever mais nada desde que mandei uma mensagem dizendo “Pousei”, horas atrás.
O “Eba! Que bom” que ela me mandou de volta não foi suficiente para satisfazer minha necessidade diária de Beatriz. Acho que a distância faz mesmo a gente valorizar mais o que tinha, porque estou morrendo de saudade.
— E você respondeu o quê?
Volto a atenção para minha amiga.
— Que achava que você era lésbica, e minha mãe respondeu que talvez você fosse bi.
Com isso, Dani desata a gargalhar. Ela se dobra de tanto rir, derramando sangria para todo lado.
Tiro a taça da sua mão, para não levar um banho, e a pouso do meu outro lado. Dani leva um tempo para se recompor, então termino minha bebida e viro o restante da taça dela.
— Desculpa, Beto — suspira, passando a mão encharcada de vinho no rosto. — A ideia da sra. Sobral torcendo para que eu fosse bissexual para a gente poder ficar junto é engraçada demais.
— Ainda bem que tenho confiança em mim mesmo — digo, secamente. — Ou essas gargalhadas todas podiam ter feito minhas bolas murcharem.
Dani fica séria na mesma hora.
— Ai, não! Te ofendi? Você… sente alguma coisa por mim?
— Não, e não tô dizendo que você não é gostosa, porque você é, mas sei que você joga no outro time desde que a gente tava no colégio.
— É, eu sempre soube. — Ela morde o lábio. — Sua mãe ficou chateada?
— Ela não pensa menos de você, se é isso que você tá perguntando. Só ficou decepcionada.
Dani faz que sim com a cabeça, pensativa.
— Patterson é tão careta, né? Não me importo de vir visitar às vezes, mas jamais moraria aqui. — Ela pontua a declaração com um arrepio de desgosto. — Me espanta que você esteja voltando.
— Por quê?
— Beto, você joga hóquei. — Ela pronuncia a última palavra como se tivesse um significado adicional, mas sou burro, então tenho que pedir para explicar.
— Tem um time de hóquei em Dallas — lembro a ela. — Não é tão incomum assim.
— É sim. Isso aqui é a terra do futebol americano, mas não, você, um menino do Texas, ama o gelo e o frio. Tô surpresa que não vá ficar em Boston.
Estico as pernas e ergo os olhos para o céu escuro. Patterson é uma daquelas cidades que parou no tempo — já foi autossustentável um dia, mas quase todas as pequenas empresas perderam lugar para as megastores regionais, que oferecem preços mais baixos e mais opções de escolha. Quase todos os que vivem neste lugar são fazendeiros ou trabalham na fábrica de tratores das redondezas. Já pensei em morar em Boston, mas todas as vezes que falei disso com minha mãe nos últimos quatro anos ela rejeitou a ideia.
— Mamãe ama este lugar. Esta é a casa do meu pai, que ele comprou quando eles eram casados. — Dou um tapinha nos degraus. — Ela não quer sair daqui.
— Quer dizer que você não conheceu ninguém na Briar? Passou quatro anos lá e vai voltar pra casa para sossegar e ser o corretor de imóveis número um de Patterson? — Ela ergue o dedo indicador e usa uma voz grave.
Tenho que admitir, isso não soa nada promissor.
— Também tá sabendo desses planos?
— Tô, foi parte da propaganda. Junto com a sua conta bancária enorme, você ia me dar uma vida inteira de luxo vendendo casas neste lugar. A boa notícia para a sua mãe é que todas as solteiras de Patterson dariam o peito esquerdo para ser a mulher de Roberto Sobral.
Só existe uma garota a quem eu daria esse título, e não estou muito certo de que ela queira.
— Tenho uma menina lá em Briar — confesso. Falar de Beatriz parece aproximá-la um pouco. Cara, tô ficando todo sentimental. Mas acho que não ligo para isso, porque pego meu telefone. — Quer ver?
Dani faz que sim, ansiosa.
Abro a foto que tirei de Beatriz no bar onde jantamos na última vez em que fui até Boston para vê-la. Está com o cabelo escuro solto e seus cachos caindo sobre os ombros, e seus olhos exibem um brilho malicioso, porque ela tinha acabado de dar um tapa na minha bunda, na saída do bar.
— Nossa, que gostosa! — Dani toma o celular de mim para dar zoom na imagem, primeiro no rosto de Beatriz e depois no restante do corpo. — Tem certeza de que ela não é bi? Porque é um crime uma mulher dessas ter que suportar a vida com um homem.
— Ei, sou bom de língua.
Dani me lança um olhar de desprezo.
— Nenhum homem jamais vai ser tão bom de oral quanto uma lésbica. Tá provado cientificamente.
— Ah é? Então desembucha aí os seus segredos, Solis. Se não for por mim, que seja pela pobre Beatriz.
Dani curva os lábios num sorriso sensual.
— Quer saber? É isso mesmo que vou fazer.
E então passa a me dar uma lição muito explícita do que constitui um bom oral.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏19. beto ⋆✴︎˚。⋆
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