— O que foi? — Tento esconder a impaciência. — Tava de saída.
Do sofá, Ronaldo arqueia a sobrancelha.
— Você tem feito isso bastante, ultimamente.
Dou de ombros.
— Um monte de coisa pra fazer.
— Você não vai contar o nome dela? — pergunta Glorinha, numa voz animada.
— Não sei do que você tá falando — respondo, inocente.
Ulisses me dispensa com um gesto da mão.
— Não tô nem ligando pra namorada misteriosa do Beto. Preciso de alguém pra me apoiar agora.
Sorrio.
— Apoiar com o quê?
— Basilio e Flora.
Ah. Estava me perguntando quando o assunto ia aparecer. Na volta do feriado de Ação de Graças, todo mundo descobriu que Basilio e Flora eram oficialmente um casal.
Não fiquei surpreso, porque já suspeitava que eles tinham ficado, mas estou um pouco chocado que estejam de fato namorando. Desde que conheço Basilio, ele nunca teve uma namorada.
— Aparentemente sou o único que acha que isso é a pior ideia desde cavalos — diz Ulisses, irritado.
— Cavalos? — Ronaldo e Fitzy repetem, em uníssono.
— Tipo, cavalos em geral? — pergunta Morris, confuso.
— Tipo, domesticar cavalos — resmunga Ulisses. — Eles tinham que estar na natureza. Fim de papo.
— Amor — Glorinha interrompe —, você só tá dizendo isso porque tem medo de cavalo?
O queixo de Ulisses cai.
— Não tenho medo de cavalo.
Ela ignora a negação.
— Ai, meu Deus, agora que eu tô entendendo. É por isso que você não quis ir à feira de Ação de Graças na Filadélfia. — Ela se volta para o restante de nós. — Meus tios queriam levar a gente para um festival superlegal, com barraquinhas e uma demonstração de bichos… e passeios a cavalo. Ele disse que tava com dor de estômago.
Ulisses cerra os dentes ostensivamente.
— Eu tava com dor de estômago. Enchi a cara de peru, Gina. Enfim, não tô gostando dessa história. Vou me ferrar quando eles se separarem.
— Talvez eles não se separem — comenta ela.
Franzo a sobrancelha.
— E como isso te afetaria?
Como não estou enxergando sua lógica, ele me explica tim-tim por tim-tim.
— Lados, cara. As pessoas terminam, os amigos escolhem de que lado vão ficar. Basilio é meu amigo, então obviamente tenho que ficar do lado dele. Mas essa aqui… — ele aponta para Glorinha — É minha namorada. Namorada ganha de amigo. Glorinha vai ficar do lado da Flora, e eu vou ter que ficar do lado da Glorinha, vis-à-vis, vou acabar ficando do lado da Flora.
— Acho que você não tá usando vis-à-vis direito — comenta Morris.
— É, acho que a palavra que você tá procurando é portanto. — Ronaldo está fazendo muita força pra segurar o riso.
— Não vou obrigar você a ficar do lado da Flora por minha causa — protesta Glorinha. — E você tá sendo infantil. É todo mundo adulto aqui. Se eles terminarem, a gente vai continuar sendo capaz de coexistir pacificamente.
— Ross e Rachel coexistiram em Friends — concorda Ronaldo.
Fitzy deixa escapar uma risada.
Ulisses está ocupado demais olhando para Glorinha.
— Não acredito que você tá tranquila com isso. Ela é a sua melhor amiga. Ele vai estragar tudo, você sabe disso.
Sua namorada dá de ombros.
— Só sei que a Flora tá feliz. E se a Flora tá feliz, por mim tudo bem.
— Beto, o que você acha? — pergunta Ulisses.
Hesito. Por um lado, Basilio parece gostar de Flora de verdade, pelo menos, pelas poucas interações entre eles que testemunhei. Por outro lado, o sujeito não tem um pingo de seriedade no corpo. Flora é uma garota legal. Não quero que ela se machuque.
De qualquer forma, não é da minha conta.
— Glorinha tá certa. Os dois são adultos. Se querem ficar juntos, o que a gente tem a ver com isso?
Ele me olha feio.
— Traidor.
— Uli, a menina nocauteou o cara ontem — comenta Ronaldo, com um sorriso. — Você conhece o ego do Basilio — se ele é capaz de aguentar esse tipo de coisa e ainda quer ficar com ela, então o negócio é sério.
Apesar de tudo, começo a rir. Cara, queria que os outros estivessem aqui ontem para testemunhar o caos. Depois da partida em Scranton, Basilio e eu encontramos a casa toda escura. Flora e a irmã de Basilio estavam assistindo a um filme de terror. As duas se assustaram, e Flora acidentalmente nocauteou Basilio com um peso de papel, e agora tenho munição para torturá-lo pelo resto da vida.
— Ah, por falar em ontem — começa Glorinha. — A irmã do Basilio chegou bem na Brown? Queria tanto conhecê-la.
— Vai por mim — resmunga Fitzy, do sofá. — Sorte sua que não conheceu.
Ronaldo dá um risinho.
— Coitadinho; a cacheada gostosa tava se atirando em você. Quem ela pensa que é?
O outro fica vermelho.
— Ela pediu pra ver o meu pau!
— E isso é um problema, porque…?
Morris e Ulisses começam a gargalhar, mas Fitzy se limita a encolher os ombros.
— Não gosto de mulher agressiva. Prefiro fazer as coisas no meu próprio tempo, tá legal?
Fico tentado a dizer que é mentira, porque ele realmente não pareceu se importar quando Carin o arrastou para dar uns amassos no carro dela. Mas Fitz e eu não conversamos sobre aquela noite, então fico quieto. Além do mais, se falar do encontro duplo, todo mundo vai querer saber com quem eu estava.
Na última vez em que nos vimos, Beatriz brincou comigo que não estou contando para as pessoas sobre a gente porque tenho vergonha dela. Não é isso. Meus amigos têm a mania de se meter na vida amorosa dos outros — vide a obsessão de Ulisses com Basilio e Flora. Então prefiro não ter um monte de gente dissecando o meu relacionamento com Beatriz, que ainda está tão no começo.
De qualquer maneira, sei que no fundo ela está aliviada por estarmos mantendo segredo. Usei a palavra relacionamento uma única vez para descrever a gente, e ela ficou toda esquisita comigo.
— Beleza, tenho que ir — digo para a sala. — Mais alguma questão adulta que a gente precisa discutir ou posso sair?
— Vai embora — resmunga Ulisses, me enxotando com a mão. — Você não ajudou em nada mesmo.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏17. beto ⋆✴︎˚。⋆
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