— Tentei explicar que sou homem demais pra você, mas Jo insiste que você é mulher demais pra mim. Ela tá errada, claro.
Meus lábios se contorcem, bem-humorados.
— Claro. O que mais? Como tá a temporada?
Sua expressão descontraída vacila um pouco.
— O time já perdeu dois jogos.
Sinto uma onda de compaixão apertar o peito. Sei como o futebol é importante para ele.
— Vocês ainda vão dar a volta por cima — garanto, embora não tenha a menor ideia de que isso seja verdade.
Ao que parece, não é.
— Que nada, estamos fodidos — diz, triste. — Duas derrotas é praticamente certeza de que não vamos chegar nas finais.
Ah, merda. E é o último ano dele na Briar.
— Mas pelo menos você ganhou um campeonato pro time enquanto estava aqui — lembro. — Isso conta para alguma coisa, não conta?
— Claro. — Mas ele não parece convencido. Limpa a garganta e oferece um sorriso que já não tem o brilho de antes. — De qualquer forma, ainda bem que esbarrei com você. Prometi não contar isso pra ninguém, mas acho que tudo bem comentar com você, já que é a outra parte envolvida.
Enrugo a testa.
— A outra parte envolvida no quê?
Ele abre um amplo sorriso, e, desta vez, isso se reflete em seus olhos.
— A busca épica de Beto por você.
Ai, não.
— Do que você tá falando? — exclamo.
— Rá. Para de se fazer de desentendida, gata. Faz uma semana que ele veio atrás de mim na academia, e conheço o cara: de jeito nenhum ele ia passar uma semana sem correr atrás de você.
A ansiedade aflora em minha barriga. Beau e eu podemos até ter terminado de forma amigável, mas isso não significa que me sinto à vontade discutindo outros caras com ele.
Como se pressentisse, ele suaviza o tom.
— Tá tranquilo, Bea. Você não tem que me dar detalhes se não quiser. — Ele dá de ombros. — Só quero que você saiba que ele é um cara decente.
Peraí, o quê?
— Peraí, o quê? — pergunto, em voz alta.
Beau ri.
— Beto — esclarece ele, como se eu não soubesse de quem estamos falando. — Sei que você tem esse ódio contra jogadores de hóquei…
— Tenho nada! — protesto.
— Ah, tem sim! — Está gargalhando agora. — Quer que eu liste todas as vezes em que tive que ouvir você reclamar do Oliveira? Na verdade, é impossível. De tantas vezes que você fez isso.
— Posso ter reclamado umas duas vezes — admito, resmungando.
— Duas, cem, mesma coisa, né? Mas não vou nem tentar defender o Beto — que é gente boa pra caramba, aliás. Sei que você não vai mudar de ideia. Mas Beto é legal de verdade. É um dos caras mais bacanas que já conheci.
Eu também, penso, com ironia. Em voz alta, pergunto:
— Por que você tá me falando isso?
— Porque conheço você. — Ele estende a mão e brinca com uma mecha do meu cabelo. Atrás de nós, ouço um suspiro indignado do grupinho de tietes. — Aposto que já inventou um milhão de razões pra não dar uma chance pro cara. E se uma dessas razões é que você realmente não tá a fim, então beleza, não sai com ele. Mas, se você tá a fim, não deixa esse seu cérebro gigante… — ele dá um tapinha na minha cabeça — … te convencer do contrário, tá legal?
— Acho melhor você parar de me tocar. Suas fãs estão ficando magoadas.
Ele deixa escapar uma risada.
— Acha mesmo que tocar você vai impedir que uma ou duas ou todas elas venham pra cima de mim hoje?
Fico pálida.
— Que nojo, Beau.
— É sério, Beatriz. — Ele agita as sobrancelhas. — Sou um deus por aqui. Não tem nada que eu possa fazer.
Hum. Deve ser bom viver num mundo em que você recebe tudo numa bandeja de prata e os seus erros não significam nada.
Não compartilho o pensamento cínico.
— Então, o que foi que o Beto te falou?
— Que tá a fim de você. — Beau dá de ombros de novo. — Queria saber se a nossa história ia ser um problema. Respondi que não.
Fico boquiaberta.
— Então ele basicamente te pediu permissão pra sair comigo?
— Permissão? — Beau gargalha alto o suficiente para todos os seus amigos olharem na nossa direção. — Até parece. Ele meio que anunciou que tava a fim de você, e que se eu tivesse um problema com isso, azar.
Luto contra a alegria que está ameaçando aparecer. Mesmo com todas as palavras gentis e os sorrisos tímidos, Beto é um cara firme. Não sei por que isso me deixa tão animada.
— De qualquer forma, não vai dar uma de idiota — diz Beau, com firmeza. — Um cara como Beto pode ser bom pra você. Pode te salvar de morrer de tanto estudar.
— Ah! — Exclamo. — Antes que esqueça… passei em Harvard!
— Sério? — Seu rosto irrompe no maior sorriso. — Parabéns, porra!
E então me puxa de novo num abraço apertado, enquanto as meninas bonitas no pé da escada praticamente me fuzilam com os olhos.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏12. beatriz ⋆✴︎˚。⋆
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