— Estava falando sério — digo, com uma voz suave. — Sem pressão. Mas se você estiver preocupada que eu vá julgar o lugar onde mora, pode ir parando. Não me importo se é uma mansão ou um barraco. Só quero passar um tempo com você, onde e quando não importa.
Quando acaricio seus lábios com o polegar, os ombros tornam-se menos tensos.
— Tá — sussurra, por fim. — Vamos pra minha casa.
Avalio seu rosto.
— Tem certeza?
— Tenho, não tem problema. Queria estar num lugar gostoso e quentinho agora. Não que minha casa seja gostosa e quentinha, mas é mais quente do que aqui, na rua.
Decidida, ela abre a porta e entra no carro. Sento no banco do passageiro. E ela não estava errada — minhas pernas não estão felizes. Mesmo depois de empurrar o banco o máximo possível para trás, não tenho espaço para me esticar.
Ela liga o carro e deixa o estacionamento.
— Moro aqui perto.
Depois disso, não fala muito durante o caminho. Não sei se está nervosa ou arrependida de se encontrar comigo, mas estou torcendo para que não seja a última opção.
Não insisto que fale, porque sei como ela pode ser arisca. O negócio aqui é ser paciente, e ter paciência com Beatriz Dourado compensa. É tão cheia de vida, então basta deixá-la confortável que ela se entrega de corpo e alma.
Quando viramos na rua dela, finjo que é a primeira vez que venho aqui. Que não reconheço as casas geminadas estreitas e malcuidadas. Que não dormi no meu carro junto do meio-fio desigual na noite em que a segui até em casa para ter certeza de que ela chegaria bem.
Beatriz entra na pequena garagem nos fundos da casa. Ela desliga o carro e salta em silêncio.
— Por aqui — murmura, enquanto contorno o Honda.
Sem pegar na minha mão, confere se estou atrás dela subindo os três degraus baixos da varanda dos fundos. Ela abre a porta, e seu chaveiro faz um barulhinho baixo na noite silenciosa.
No segundo seguinte, entramos numa pequena cozinha com um papel de parede amarelo e rosa de mau gosto e uma mesa de madeira quadrada no centro, com quatro cadeiras. Os eletrodomésticos parecem velhos, mas, pelas panelas sujas em cima do fogão, dá para ver que funcionam.
Beatriz empalidece diante da bagunça.
— Minha avó nunca arruma a cozinha — diz, sem encontrar meu olhar.
Dou uma olhada no espaço apertado à minha volta.
— São só vocês duas aqui?
— Não. Meu padrasto também mora com a gente. — Ela não explica, e não peço mais detalhes. — Mas não se preocupe. Sexta é dia de pôquer… Em geral ele passa a noite fora e chega lá pelo meio-dia. E vovó toma um sonífero toda noite antes de deitar. Ela dorme feito uma pedra.
Não estava preocupado, mas tenho a sensação de que ela está tentando tranquilizar a si mesma, e não a mim.
— Meu quarto é pra cá. — Ela entra no corredor antes que eu possa dizer uma palavra.
Vou atrás, reparando em como o corredor é estreito, como o carpete está sujo e como não tem nenhuma foto de família nas paredes. Meu coração sente uma pontada, porque os ombros caídos de Beatriz me dizem que ela tem vergonha deste lugar.
Merda. Odeio vê-la assim tão derrotada. Quero contar para ela da pintura descascando na parede da minha casa no Texas, sobre como passei o ensino médio inteiro no menor quarto da casa para minha mãe poder montar um salão de beleza no quarto maior e complementar a renda de cabeleireira num salão no centro da cidade.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏09. beto ⋆✴︎˚。⋆
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