͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏07. beatriz ⋆✴︎˚。⋆

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— Isto é para a assistência jurídica gratuita? Porque não...

Ele me interrompe.

— Não se preocupe. É para isso que serve a assistência jurídica. Para os necessitados. — A última palavra vem carregada de condescendência.

Meus cabelos da nuca se eriçam.

— Sei disso...

— Você não lê inglês? Habla español? — Ele arranca a prancheta da minha mão, vira a página e me devolve. O formulário agora está em espanhol.

— Falo inglês — rosno entre dentes.

— Ah, tá. Posso preencher o formulário, se você não souber ler nem escrever. Tem muita gente com esse tipo de problema aqui. É uma causa de família? Disputa de proprietário com inquilino? Não lidamos com delitos aqui. — Mais uma vez, ele me abre um sorriso condescendente.

— Sou uma aluna — digo a ele. — Quer dizer, vou ser uma aluna.

Nós nos encaramos por um momento, enquanto espero a ficha dele cair. Dá para ver o momento em que isso acontece, porque o sujeito branquelo fica ainda mais branco.

— Ah. Nossa, pensei...

Sei o que ele pensou. Deu uma olhada no meu casaco puído e me rotulou como uma pessoa carente que precisa de orientação jurídica de graça. E a parte mais humilhante é que ele não está errado. Se eu precisasse de um advogado, não seria capaz de pagar.

— Algum problema? — interrompe uma voz nova. Uma mulher girafa surge atrás de Kale, as mãos entrelaçadas nas costas.

— Não, problema nenhum, professora Stein. — Kale me lança um sorriso contido, mas seus olhos piscam em alerta, como se dissesse para eu não dar com a língua nos dentes.

O sorriso que lhe ofereço em resposta é o mais escancarado possível.

Dale aqui pensou que eu fosse uma cliente, mas na verdade tenho uma reunião com a professora Fromm.

A professora me examina, inteirando-se rapidamente da situação. Ela pega a prancheta e aponta as escadas com a cabeça.

— Segundo andar, primeira porta à esquerda. — Em seguida devolve o formulário para Kale.

— É Kale — sibila ele, e se afasta de nós, pisando duro.

A professora sacode a cabeça.

— Alunos novos — diz, como quem pede desculpas, antes de caminhar na direção oposta.

Assim que Kale desaparece no corredor, ouço uma voz estridente recebê-lo.

— Ai, meu Deus, isso foi demais. Você realmente confundiu aquela menina com uma imigrante de língua espanhola?

Eu devia sair dali, mas meus pés criaram raízes. A recepcionista me lança um olhar aflito.

— Viu a roupa dela? — protesta Kale, do corredor. — Parecia uma daquelas indigentes que vêm todo ano pegar roupa na cesta de doações para vítimas de violência doméstica.

Uma nova voz entra na conversa.

— Do que vocês estão rindo?

— Kale confundiu uma aluna que veio falar com a professora Fromm com uma mendiga.

Com as bochechas queimando, me volto para a recepcionista.

— Vocês têm que fazer alguma coisa com essa acústica.

Ela dá de ombros.

— Se acha que isso é o pior que ouço todo dia, você não vai ter uma surpresa muito boa.

A Conquista | BETRIZ Место, где живут истории. Откройте их для себя