͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏06. beto ⋆✴︎˚。⋆

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Mesmo assim, é uma merda. Quando a gente sentou um do lado do outro naquele banco no outro dia, tudo o que queria era puxá-la para o meu colo e transar com ela ali mesmo, sem me importar com as pessoas à nossa volta. O próprio Basilio poderia estar ali batendo o pé, e eu não teria parado. Precisei de toda a minha força de vontade para suprimir meus instintos primitivos, mas, cara, tem alguma coisa naquela menina…

Não é só a beleza, embora isso não atrapalhe. É… é… droga, não sei nem explicar. Ela tem essa casca dura, mas por dentro é mole feito manteiga. Vejo lampejos de vulnerabilidade naqueles profundos olhos escuros e tudo o que quero é… cuidar dela.

Meus amigos iriam rir da minha cara se soubessem o que estou pensando agora. Ou não, sei lá. Eles já me enchem o saco todo dia em casa por causa do meu lado “mãe”. Sou o cozinheiro da casa, faço a maior parte da limpeza, tomo o cuidado de manter tudo em ordem.

Mas foi assim que minha mãe me criou. Não tenho pai. Ele morreu quando eu tinha três anos, e mal me lembro dele. Mas minha mãe supriu muito bem essa ausência, e a figura paterna que faltava veio na forma dos meus treinadores de hóquei.

O Texas é um estado do futebol americano. Eu provavelmente teria seguido por esse caminho se não fosse por umas férias que passamos em Wisconsin quando eu tinha cinco anos. Uma vez por ano, minha mãe e eu visitávamos a irmã do meu pai em Green Bay. Ou pelo menos tentávamos visitar. Às vezes o dinheiro não dava, mas fazíamos o possível.

Naquele ano, a tia Nancy me encasacou todo e me levou para patinar. Faz um frio desgraçado em Green Bay — imagino que seja o pior pesadelo da maioria das pessoas, mas eu amei o frio no rosto, o assobio do ar gelado nos meus ouvidos enquanto eu patinava na lagoa ao ar livre. Umas crianças mais velhas estavam jogando hóquei, e fiquei louco de vê-las voando no gelo. Parecia tão divertido. Quando voltamos para o Texas na semana seguinte, falei para minha mãe que queria jogar hóquei. Ela riu, achando graça, mas acabou cedendo e encontrou um rinque que funcionava o ano inteiro, a uma hora da nossa casa.

Acho que imaginou que eu acabaria enjoando. Em vez disso, me apaixonei ainda mais.

Agora estou aqui, numa universidade da Ivy League na Costa Leste, jogando hóquei para um time que ganhou três campeonatos nacionais — consecutivos. Mas tenho a sensação de que não vai ter um quarto, não do jeito que estamos jogando ultimamente.

— O que foi, perdeu a língua?

Olho para o lado e vejo Basilio me encarando com uma expressão cautelosa. O quê? Ah, é, ele quer saber onde passei o fim de semana.

— Saí com uns amigos — digo, vagamente.

— Que amigos? Todos os seus amigos estão aqui… — Ele gesticula para o rinque. — E tenho certeza de que você não estava com nenhum deles.

Dou de ombros.

— Você não conhece esses amigos.

Então me viro para o rinque, com Basilio resmungando ao meu lado.

— Fala sério, você é pior do que Antoine e Marie-Thérèse.

Minha cabeça gira de volta para ele.

— Como é que é?

— Esquece — murmura.

Quem diabos são Antoine e Marie-Thérèse? Da mesma forma que Basilio conhece todos os meus amigos, conheço todos os dele, e tenho certeza de que não sei de ninguém com esses nomes. Tanto faz. Não o quero me pressionando com um monte de perguntas, então também não vou pressionar o cara.

— É isso aí, porra! — grita uma voz na outra ponta do banco.

Volto minha atenção para o gelo em tempo de ver Ulisses mandar uma bomba no gol de Patrick, um aluno do último ano. É o primeiro e único gol do treino coletivo, e todos os jogadores no banco comemoram, batendo as luvas contra a parede.

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now