͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏05. beatriz ⋆✴︎˚。⋆

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— A questão é que eu entendo, tá legal? — termina ele. — Você tá sobrecarregada, e não estou te pedindo pra usar minha camisa do time ou meu anel de formatura e ser minha namorada.

Tenho que rir da vida perfeita que ele pintou.

— Então o que você tá me pedindo?

— Um encontro — diz ele, simplesmente. — Só um encontro. Talvez acabe com a gente transando de novo…

Meu corpo exulta de prazer.

— … ou talvez não. Seja como for, quero te ver de novo.

Observo-o, enquanto ele corre a mão pelos cabelos dourados. Droga, nunca tinha conhecido um loiro tão gato.

— Não importa quando. Se você quiser comer alguma coisa tarde da noite, tudo bem. De manhã, tudo bem também, contanto que eu não tenha treino. Tô disposto a seguir as suas regras, me adaptar à sua rotina.

O prazer e a suspeita batalham dentro de mim, mas a última vence.

— Por quê? Quer dizer, sei que a gente virou o mundo um do outro de ponta-cabeça por uma noite, mas por que você quer tanto me ver de novo?

Beto me encara com um olhar firme, intenso, e engulo em seco. Então ele me assusta ainda mais, perguntando:

— Você acredita em amor à primeira vista?

Ai, meu Deus.

Começo a me levantar.

Ele me puxa de volta para o banco com uma risada profunda.

— Relaxa, Beatriz. Isso não quer dizer que tô apaixonado por você.

É melhor não estar! Inspirando fundo, pouso no colo o sanduíche comido pela metade e tento escolher um tom que não transmita o pânico que corre em minhas veias.

— Então o que isso quer dizer?

— Já tinha visto você pela faculdade antes da noite no Malone’s — admite. — E sim, te achei gostosa, mas não fiquei desesperado pra descobrir quem você era.

— Puxa, obrigada.

— Se decide, princesa. Quer que eu esteja apaixonado por você ou quer que eu não dê a mínima?

As duas coisas! Quero as duas coisas, e o problema é esse, droga.

— De qualquer forma, já tinha te visto antes. Mas naquela noite, quando nossos olhos se cruzaram, cada um num canto do bar, aconteceu alguma coisa de mágico — diz, com toda a franqueza. — Sei que você também sentiu.

Pego o sanduíche e dou uma pequena mordida, mastigando bem devagar, para adiar minha resposta. Beto está me assustando de novo, com esse olhar confiante e o tom pragmático. Nunca conheci um cara capaz de soltar frases como “amor à primeira vista” e “aconteceu alguma coisa de mágico” sem pelo menos ter a decência de corar ou parecer mortificado.

Por fim, me obrigo a responder.

— A única coisa mágica que aconteceu foi que gostamos do que vimos. Feromônios, Roberto. Só isso.

— Em parte — concorda ele. — Mas teve mais do que isso, e você sabe. No momento em que a gente se olhou teve uma conexão.

Levo minha Coca aos lábios e viro quase metade.

— Quero explorar isso. Acho que seria burrice ignorar.

— E eu acho que… — Tenho dificuldade em encontrar as palavras certas. — Acho que…

Acho que você é o cara mais fascinante que já conheci.

Acho que é incrível na cama e quero você de novo.

Acho que, se existisse alguém capaz de partir meu coração, essa pessoa seria você.

— Acho que fui bem clara naquela noite — termino. — Não tô disponível para um relacionamento nem pra uma amizade colorida. Queria sexo. Você fez seu trabalho. Pronto, acabou.

Não deixo de notar a decepção que inunda seus olhos. Isso provoca uma pontada de arrependimento e faz meu estômago revirar dolorosamente, mas já decidi o que quero e agora preciso manter o foco. Sou muito boa em manter o foco.

— Sei que atletas são seres teimosos e que não desistem quando querem uma coisa, mas… —  Inspiro. — Tô pedindo pra você desistir.

Ele tensiona a mandíbula.

— Beatriz…

— Por favor. — O tom de desespero em minha voz me assusta. — Desiste, tá legal? Não quero começar nada. Não quero sair com ninguém. Eu quero… — Levanto, as pernas bambas. — Quero ir pra aula, só isso.

Depois de um silêncio interminavelmente longo, ele também levanta.

— Claro, princesa. Se é o que você quer.

Não é uma provocação. Sua resposta não contém nem mesmo um quê de promessa, do tipo claro, princesa, vou desistir — por enquanto. Mas pode ter certeza de que vou continuar te perseguindo até você entregar os pontos.

Não, suas palavras possuem uma irrevogabilidade que me deixa triste. Roberto Sobral é obviamente um homem de palavra, e, embora seja algo de se admirar, de repente virei uma hipócrita, porque agora sou eu que estou decepcionada.

— Te vejo por aí — diz ele, brusco.

E, sem mais uma palavra, vai embora, e fico olhando-o se afastar, consternada.

Fiz a coisa certa. Sei que fiz. Mesmo que tivesse tempo de sobra para tentar alguma coisa com ele, não tenho espaço na minha vida para alguém como Beto. Ele é gentil, sincero e tá na cara que tem dinheiro; já eu sou uma chata, vivo estressada e moro na sarjeta. Ele pode falar o quanto quiser sobre amor à primeira vista, mas isso não muda a verdade.

Não sou boa suficiente para Roberto Sobral, e nunca vou ser.

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now