Engulo outra golfada de culpa.
— Sinto muito. — Minha voz treme de leve. — Obrigada pelo almoço. De verdade.
Passamos para a outra ponta do balcão e esperamos em silêncio, enquanto uma menina prepara meu sanduíche de presunto com queijo. Ela o embrulha para mim, e o coloco debaixo do braço conforme abro a Coca Diet que pedi. Então voltamos a caminhar. Beto me segue para fora do prédio, achando graça porque tento equilibrar bebida e bolsa e desembrulhar meu sanduíche ao mesmo tempo.
— Deixa eu segurar isso pra você. — Ele toma a garrafa da minha mão. Há uma suavidade em suas feições enquanto me observa enfiar os dentes no pão de centeio levemente torrado.
Mal mastigo e já estou dando uma segunda mordida, o que o faz rir.
— Com fome? — brinca.
— Morrendo — admito, e nem me importo com a falta de educação de falar com a boca cheia.
Desço depressa os degraus largos. Mais uma vez, ele acompanha o passo.
— Você não deveria comer andando — aconselha.
— Não tenho tempo. Minha próxima aula é do outro lado do campus, então… ei! — exclamo, quando ele me segura pelo braço e me arrasta para fora do caminho. — O que você tá fazendo?
Ignorando meus protestos, ele me conduz até um dos bancos de ferro forjado no gramado. Ainda não nevou neste inverno, mas a grama está coberta por uma camada prateada de gelo. Beto me obriga a sentar, em seguida senta ao meu lado e pousa uma das mãos no meu joelho, como se estivesse com medo de que eu fugisse. E era exatamente o que eu estava pensando em fazer, antes de aquela mão grande fazer contato. O calor dele atravessa minha meia-calça e aquece meu cerne.
— Coma — diz, num tom gentil. — Você tem direito a se dar dois minutos para recarregar as energias, princesa.
Acabo obedecendo, do mesmo jeito que obedeci na outra noite, quando ele me mandou sentar na sua cara, e quando me mandou gozar. Um arrepio percorre minha coluna. Ai, por que não consigo tirar esse cara da cabeça?
— O que você escreveu nas mensagens? — deixo escapar.
Ele abre um sorriso misterioso.
— Acho que você nunca vai saber.
Apesar de tudo, sorrio de volta.
— Era sacanagem, não era?
Ele assobia, inocente.
— Era! — acuso, e depois experimento uma onda de autocensura, porque, droga, aposto que era alguma coisa imunda, deliciosa e perfeita.
— Escuta, não vou tomar muito do seu tempo — diz ele. — Sei que você é ocupada. Sei que mora em Boston. Que tem vários empregos…
— Dois — corrijo. Ergo a cabeça, em tom de desafio. — E como você sabe disso?
Ele dá de ombros.
— Andei sondando.
Andou, é? Droga. Por mais lisonjeiro que isso seja, tenho medo de saber com quem ele falou e o que as pessoas disseram. Tirando Hope e Cora, não passo muito tempo com meus colegas. Sei que às vezes pareço meio reservada…
Tá bom, esnobe. Reservada é só uma palavra bonita para esnobe. E, embora não goste muito da ideia de que meus colegas me achem uma bruxa, não tem muito o que eu possa fazer sobre isso. Não tenho tempo nem energia para conversa fiada, nem para tomar um café depois da aula ou fingir que tenho alguma coisa em comum com os jovens ricos e elitistas que compõem a maior parte dos alunos desta faculdade.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏05. beatriz ⋆✴︎˚。⋆
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