Embora Basilio tenha dito que não sente nada por Beatriz, quero ter certeza de que não ficou alguma questão mal resolvida desse lado. Mas o tom dela ao falar nele era de raiva, não de ressentimento, o que considero um bom sinal. Raiva pode advir de um monte de coisas. Já ressentimento em geral vem da mágoa.
Quando — e não “se” — formos para a cama, tem que ser porque ela quer ficar comigo, e não para se vingar de Basilio.
Seu olhar viaja por sobre meu ombro para onde meu colega de time ainda está sentado, e então de volta para mim. Ela e eu bebemos em silêncio por um tempo. Seus olhos castanhos são difíceis de decifrar, mas tenho a sensação de que está digerindo minhas palavras com cuidado. Talvez imagine que eu vá falar alguma coisa, tentar preencher o silêncio, mas estou esperando por ela. Além do mais, isso me dá um tempo para analisá-la de perto. E, daqui, Beatriz é ainda mais bonita do que eu tinha imaginado.
Não são só as pernas intermináveis e a bunda espetacular. Os seios são do tipo que podem converter um homem. Algo como “obrigado, Jesus, por criar essa criatura maravilhosa” e “por favor, Senhor, faça com que ela não seja lésbica”. Não secar descaradamente as curvas bonitas do seu decote é uma das coisas mais difíceis que já tive que fazer.
Por fim, ela pousa a longneck no balcão.
— Só porque você é bonito não significa que tô interessada.
Sorrio.
— Esse me parece um bom ponto de partida.
Um sorriso relutante curva os cantos de sua boca. Ela limpa a mão na saia e a estende para mim.
— Beatriz Dourado. Já ouvi todas as piadas possíveis sobre ser uma bruxa, e não, não estou a fim de Basilio Oliveira.
Pego sua mão e uso o contato para puxá-la um centímetro na minha direção. Com essa, vou ter que avançar a passos de tartaruga.
— Roberto Sobral. Que bom, mas acho que você devia saber que Basilio é como um irmão pra mim. Faz quatro anos que a gente apoia um ao outro dentro do rinque, três que a gente mora junto, pretendo ser padrinho dele no dia em que se casar e espero que ele faça o mesmo por mim. Dito isto, ele é meu amigo, não meu pai.
— Espera, você vai se casar? — pergunta ela, confusa.
É meio engraçado que, de tudo o que falei, ela tenha escolhido questionar essa parte. Deslizo a mão ao longo de seu braço e faço círculos leves com os dedos em seu pulso.
— No futuro, princesa. No futuro.
— Ah. — Ela pega sua garrafa e logo a pousa de volta no balcão, quando percebe que está vazia. — Espera. Você quer se casar?
— Um dia. — Rio de seu espanto. — Não hoje, mas, sim, um dia quero casar e ter um filho ou três. E você?
O barman se aproxima, e deslizo outra nota de vinte na sua direção.
Mas Beatriz faz que não com a cabeça.
— Tô de carro. Uma cerveja é meu limite.
Peço duas águas então, e ele volta num instante com dois copos altos.
As luzes piscam de novo, e sou tomado pelo senso de urgência. Tenho que agilizar aqui, antes que tudo vá por água abaixo.
— Obrigada — diz ela, enquanto bebe a água. — E não. Não me vejo tendo filhos ou um marido num futuro próximo. Além do mais, achei que vocês jogadores de hóquei gostassem de passar o rodo.
— Um dia, até os grandes se aposentam. — Sorrio por cima do copo.
Ela ri.
— Tudo bem. Eu entendo. Então, tá cursando o quê, Roberto?
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏02. beto ⋆✴︎˚。⋆
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