͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏02. beto ⋆✴︎˚。⋆

Start from the beginning
                                        

Embora Basilio tenha dito que não sente nada por Beatriz, quero ter certeza de que não ficou alguma questão mal resolvida desse lado. Mas o tom dela ao falar nele era de raiva, não de ressentimento, o que considero um bom sinal. Raiva pode advir de um monte de coisas. Já ressentimento em geral vem da mágoa.

Quando — e não “se” — formos para a cama, tem que ser porque ela quer ficar comigo, e não para se vingar de Basilio.

Seu olhar viaja por sobre meu ombro para onde meu colega de time ainda está sentado, e então de volta para mim. Ela e eu bebemos em silêncio por um tempo. Seus olhos castanhos são difíceis de decifrar, mas tenho a sensação de que está digerindo minhas palavras com cuidado. Talvez imagine que eu vá falar alguma coisa, tentar preencher o silêncio, mas estou esperando por ela. Além do mais, isso me dá um tempo para analisá-la de perto. E, daqui, Beatriz é ainda mais bonita do que eu tinha imaginado.

Não são só as pernas intermináveis e a bunda espetacular. Os seios são do tipo que podem converter um homem. Algo como “obrigado, Jesus, por criar essa criatura maravilhosa” e “por favor, Senhor, faça com que ela não seja lésbica”. Não secar descaradamente as curvas bonitas do seu decote é uma das coisas mais difíceis que já tive que fazer.

Por fim, ela pousa a longneck no balcão.

— Só porque você é bonito não significa que tô interessada.

Sorrio.

— Esse me parece um bom ponto de partida.

Um sorriso relutante curva os cantos de sua boca. Ela limpa a mão na saia e a estende para mim.

— Beatriz Dourado. Já ouvi todas as piadas possíveis sobre ser uma bruxa, e não, não estou a fim de Basilio Oliveira.

Pego sua mão e uso o contato para puxá-la um centímetro na minha direção. Com essa, vou ter que avançar a passos de tartaruga.

— Roberto Sobral. Que bom, mas acho que você devia saber que Basilio é como um irmão pra mim. Faz quatro anos que a gente apoia um ao outro dentro do rinque, três que a gente mora junto, pretendo ser padrinho dele no dia em que se casar e espero que ele faça o mesmo por mim. Dito isto, ele é meu amigo, não meu pai.

— Espera, você vai se casar? — pergunta ela, confusa.

É meio engraçado que, de tudo o que falei, ela tenha escolhido questionar essa parte. Deslizo a mão ao longo de seu braço e faço círculos leves com os dedos em seu pulso.

— No futuro, princesa. No futuro.

— Ah. — Ela pega sua garrafa e logo a pousa de volta no balcão, quando percebe que está vazia. — Espera. Você quer se casar?

— Um dia. — Rio de seu espanto. — Não hoje, mas, sim, um dia quero casar e ter um filho ou três. E você?

O barman se aproxima, e deslizo outra nota de vinte na sua direção.

Mas Beatriz faz que não com a cabeça.

— Tô de carro. Uma cerveja é meu limite.

Peço duas águas então, e ele volta num instante com dois copos altos.

As luzes piscam de novo, e sou tomado pelo senso de urgência. Tenho que agilizar aqui, antes que tudo vá por água abaixo.

— Obrigada — diz ela, enquanto bebe a água. — E não. Não me vejo tendo filhos ou um marido num futuro próximo. Além do mais, achei que vocês jogadores de hóquei gostassem de passar o rodo.

— Um dia, até os grandes se aposentam. — Sorrio por cima do copo.

Ela ri.

— Tudo bem. Eu entendo. Então, tá cursando o quê, Roberto?

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now