14b. Sérgio e a Arara Vermelha

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Um barulho no vidro da janela do quarto, despertou Sérgio da atenção ao celular. A princípio não ligou, podia ser só uma frutinha de uma árvore do quintal, que ficava perto de sua janela.

Mas o barulho continuou. Era insistente e parecia que algo, ou alguém batia no vidro. Se levantou e foi dar uma olhada. Podia ser o pai, ou a mãe do lado de fora, querendo falar com ele.

Afastou a cortina e olhou para fora através do vidro. Mas não havia ninguém ali. Mas ele viu algo que achou estranho. Havia uma arara vermelha no galho da árvore. Uma arara vermelha aqui? Ele se perguntou. Na verdade, ele nunca tinha visto uma arara senão pela TV, ou em zoológicos ou lugares assim. Se lembrou de uma vez que tinha ido na cidade de Bonito, uma cidade turística do MS, que fazia jus ao nome. Era uma cidade maravilhosa! Em bonito ele vira muitas araras em um enorme viveiro. Elas eram lindas. E uma coisa que o marcou na época: elas eram muito barulhentas.

E agora uma estava ali, no galho da árvore e muito próximo da janela. O que Sérgio mais estranhou foi que ela não voou. Bom, ela não o vira, afinal, o vidro da janela permitia ver do lado de fora, mas não de fora para dentro.

Arara! Arara! – Sérgio podia jurar que a arara disse isso. E de uma forma tão forte que ele levou um susto.

Deixou a cortina cair de volta e se decidiu voltar para a cama.

Arara! Arara quer falar com Sérgio! – Não! Não podia ser! A Arara não disse aquilo. Ele tinha imaginado.

Virou as costas e voltou à cama e deitou-se. Voltou freneticamente os olhos ao celular e recomeçou a ler as mensagens que haviam chegado nos instantes em que ele tinha ido verificar a janela. Mas antes que pudesse se concentrar, escutou de novo as batidas na janela.

Droga! Quem estaria ali? Tinha alguém do lado de fora brincando com ele. Bom, que ficasse lá! Se a pessoa quisesse entrar, que desse a volta e entrasse pela porta e viesse até ele no quarto.

As batidas continuaram. E de novo! Ritmicamente, era enervante. E a arara continuava fazendo aquele barulho intenso, que parecia dizer: Arara! Arara! Arara quer falar com Sérgio! Arara precisa ver Sérgio! Que pássaro chato! Mas ... será que era mesmo o pássaro que fazia aquele barulho? E se fosse um de seus amigos lá fora imitando a arara só para incomodá-lo?

Decidiu ir ver de uma vez. Aproximou-se da janela, abriu a cortina e silencioso abriu a janela! De supetão! Quem quer que estivesse embaixo da janela, não teria como fugiu a tempo. Seria surpreendido.

Só que não havia ninguém lá. Sérgio olhou em volta, em baixo, na árvore e nada. Não havia ninguém. O que estaria acontecendo, afinal?

— Arara! Arara! Arara quer falar com Sérgio! Arara tem recado para Sérgio!

E não é que era mesmo a arara? Sérgio teve certeza de que ouviu, E VIU, a arara falar aquelas palavras. E antes que pudesse entender o que estava acontecendo, a arara voou de seu galho, passou pela janela e foi pousar na cama. E fez cocô na sua colcha! Sua mãe ia matar ele.

Ah! Droga! Isso não! Sérgio foi para cima da arara. Fazer sabe-se lá o quê. Pegá-la, talvez e arrancar as penas? Uma por uma, essa era a intenção que ele tinha quando se jogou em cima dela. Mas ela foi mais esperta e voou de novo. Ficou planando no quarto e sobre a cabeça do adolescente a uma altura em que ele não podia alcançá-la.

— Arara! Arara! Sérgio quer pegar Arara. Sérgio não consegue pegar Arara!

Isso era um fato. Ele não conseguia sequer tocar a arara que ia de um lado para outro, voando sobre ele. Ele subiu na cama, depois na cadeira, e nada. Pegou a guitarra e tentou acertá-la, mas nada também. E o quarto foi virando uma algazarra.

Porãsy e o estranho mundo das histórias de seu avô indígenaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora