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Atrasado, mas em homenagem ao aniversário das minhas lindas @brunaxnt e @anacarol320  obrigada por ser presente, meninas, amo muito vocês!  💗

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Bruna 🎡

Foi o pior sono da minha vida, o mais pesado e agoniante de todos, e por mais que eu quisesse esquecer de tudo durante aquele período, eu não conseguia. 

Mas da mesma forma, durou dois dias, era um loop infinito, todas as cenas me atormentavam, me perseguiam, me deixavam mal, muito mal! Porém eu me esforcei, tomei banho e deixei a água levar tudo pelo ralo. Lavei os meus cabelos e vesti a roupa mais confortável que encontrei. 

Meus olhos estavam fundos e eu me odiei ao me ver naquele espelho, daquela forma. Soltei um suspiro e só fiz um coque. Me perguntei por onde iria começar e o primeiro passo foi arrumar o meu quarto. 

Ouvi baterem na porta e revirei os meus olhos, a pessoa instituiu e eu fui naquela direção, era o Foguinho e eu estranhei, mas da mesma forma deixei ele entrar. 

Foguinho : E ai. -Murmurou com a voz baixa, passando a mão na nuca. -Você sumiu pô, fiquei preocupado contigo. 

Bruna : Precisei resolver umas coisas pessoais. -Cocei a minha testa. -Mas tô bem. 

Foguinho : Que bom, não tinha noção desses bagulho todo ai, sinto muito, tu sabe. Se precisar de qualquer lance, tamo aí. 

Bruna : Agradeço, mas acredito que não seja necessário, é um momento que eu pretendo esquecer e eu vou ficar feliz se não ficarem tocando nesse assunto. -Passei o meu cabelo pra trás. 

Foguinho : Jae, mas da merma forma quero te pedir desculpas pela nossa última conversa, não sei se você me interpretou de forma errada. -Para falar a verdade, eu já tinha me esquecido desse dia, e principalmente que havíamos ficado. Mas me recordei, da mentira dele também, em relação ao Lobão estar mantendo os meninos em cativeiro. 

Bruna : Interpretar uma mentira de forma errada é meio complicado, né? Mas assim, tá suave, só fiquei perplexa com você julgando o Lobão, sendo que você faz igual, tira seu sustento do tráfico. Pra julgar a gente precisa ser exemplo. 

Foguinho : Você tá certa, é que por algum momento eu pensei na possibilidade de vocês estarem juntos, bota fé? Me bateu neurose, pelo fato de vocês estarem se aproximando, não sei pô, odiei essa idealização, sendo sincero contigo. 

Bruna : E tem alguma razão pra isso? -Cruzei os meus braços, interessada em saber. 

Foguinho : Pra falar a verdade não, é que eu te conheço desde que nós era novin, né não? Acompanhei o seu crescimento e você o meu, apesar de tudo eu conheço o teu coração e o dele também. Ia ficar boladão se você rendesse papo pra ele, depois de tudo o que ele te fez passar. Mas eu conheço teu gênio, sei que foi um pensamento errado. 

Bruna : Errado mesmo, não tenho nada com o Lobão e também não faço questão. -Falei decidida. -Muito me surpreende isso passar pela sua cabeça, até porque ele seria a última pessoa desse mundo que eu renderia assunto com outras intenções. 

Foguinho : Muito bom ouvir isso de você, papo reto, você é uma irmã pra mim e eu quero te ver bem, desculpa por ter pensado nessa possibilidade. 

Bruna : Ta certo! -Murmurei e ele deu um sorriso de lado, me abraçou e eu fechei os olhos. 

Foguinho realmente sempre foi um irmão para mim, desde quando eu não tinha amigos, foi ele que me abraçou e me ajudou. E era difícil ouvir aquelas palavras partindo dele, eu estava conhecendo uma nova versão do Lobão, mas me vinha a dúvida, até quando ela vai existir? 

Ele ficou pouco tempo ali, foi embora e eu agradeci, não tocou no assunto das postagens. foi bom, não queria reviver aquilo outra vez. Não peguei no meu celular depois de toda aquela situação, até porque eu tinha medo e receio do que estaria por vir. 

O restante do dia demorou pra passar, as vezes eu ainda me via perdida, chorava do nada e só me tocava depois de um tempo, mas sabia que precisava me reerguer. 

Desci pra cozinha, na intenção de fazer algo para comer e sabia que seria uma missão falha. Abri a geladeira e quando virei de costas, dei de cara com o Lobão no reflexo da janela. Coloquei a mão no peito assustada e ele bateu diversas vezes, pra chamar minha atenção. 

Bruna : Qual o seu problema? - Eu abri a porta da cozinha, e ele deu a volta, ajeitando o boné na cabeça. 

Lobão : Se eu batesse na porta principal você não iria atender, que eu tô ligado. -Respondeu e eu reparei nas sacolas na mão dele. -Última vez que eu vim aqui só tinha pão e mortadela. 

Bruna : Não tá muito diferente. -Eu ri e dei licença para ele passar e tranquei a porta, ajeitando o meu pijama no corpo. 

Lobão : Imaginei, não tá fazendo esforço nenhum pra se alimentar então, né? -Fiquei calada, e ele negou com a cabeça, tirando algumas coisas da sacola e eu já senti o cheiro do macarrão na chapa da tia Ana. -Come ai, garota. -Empurrou pra mim e eu peguei. 

Puxei uma cadeira pra sentar, e ele fez o mesmo, antes de abrir um litro de coca e me entregar um copo para beber. 

Lobão : Pô, não sei se é o momento ideal pra tocar nesse assunto contigo, mas o dia que a gente tava no ap lá da Barra…

Bruna : O problema não foi você, Lobão! Só foi o momento, sabe? Data, lugar, enfim, só juntou tudo na minha mente e eu explodi, mas pode ter certeza que era algo que eu queria, só que em outro contexto, entende? -Larguei o meu garfo na bandeja e ele concordou. 

Lobão : Saquei, e eu ainda bato na tecla que você não precisa passar por essa situação toda sozinha, se abrir faz parte, dividir esse peso. -Eu fiquei mexendo na comida, e intercalei entre alguns suspiros, passou um tempo e eu umedeci os meus lábios. 

Bruna : Meus pais estavam separados e pra mim aquilo já era um fardo, minha mãe sofria por amar ele, e todas as vezes que eu ia pra casa dele, algo de estranho acontecia, mas na minha mente era normal, por ele ser meu pai. A primeira vez que realmente aconteceu, foi na véspera de Natal, eu tinha sete anos e após tudo, ele me manipulou de todas as formas possíveis. 

Bruna : Me fazia acreditar que se eu falasse, seria mais um fardo pra minha mãe, e então virou uma rotina todas aquelas torturas e abusos, ele me buscava com uma frequência maior. Então minha mãe conheceu outro cara, e engravidou, se antes já era complicado eu ter uma abertura para demonstrar que havia algo de errado, tudo só piorou. As atenções voltaram pra ela, era uma gravidez de risco e o meu medo era ela perder minha irmã por minha culpa. 

Lobão : Não precisa segurar teu choro, pô! -Falou baixo e eu percebi que os meus olhos estavam tomados de lágrimas. -Tá suave, a culpa não é sua e nunca foi, loira! Guarda isso pra si, papo reto, você era só uma criança. Sei que deve ser mais complicado do que eu imagino, mas não é difícil perceber que você é forte o suficiente pra dar a volta por cima e superar isso. 

Bruna : É que sempre foi algo tão íntimo meu, sabe? Não queria que tirasse esse segredo de mim. 

Lobão : A Laura foi suja, não concordo com as atitudes dela, nunca vou, principalmente por ter sido com você, que batia no peito pra defender ela. Mas por que você não aproveita essa situação pra dar a volta por cima? - Perguntou e eu passei a mão no meu rosto. Consegui um horário na psicóloga  amanhã, só depende de você querer ir, te passo o endereço e você vê se tá a vontade pra ir.

Respirei fundo e pensei nas possibilidades daquilo acontecer, sempre que eu marcava, eu desmarcava e simplesmente sumia.




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