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Bruna 🎡

Nós estávamos sentados enquanto comíamos. Lobão e K3 não paravam de conversar sobre futebol ou assuntos relacionados ao tráfico, eu ficava perplexa, porque era como se eu não estivesse ali. Os bofes falavam mesmo e eu guardava tudo na minha mente, até porque nunca se sabe o dia de amanhã.

K3 : Papo reto, vou ficar boladão se esse exposed ai for lance de corna e amante, não vou entender maneiro. Por que não posta logo, porra? Fazer esse auê todo? Vai se fuder caralho.

Bruna : Você é fofoqueiro, né? Língua grande. Nunca te conto nada, isso sim. Deve ser fofoca de gente grande, algum trafica das bocas lá, incluindo vocês. -Eu ri e o K3 arregalou maior olho.

K3 : Sem caô carai. -Falou rápido. -Aposto cinquentinha que é de vocês dois, já pensou? Soltando que vocês tão de conversinha?

Bruna : Nada haver! -Falei imediatamente. -Nem faz sentido também.

Olhei pro Lobão, questionando se era algo possível mas ele permaneceu imóvel, mastigando a comida dele. E sinceramente? Eu iria odiar, minha última escolha é ser vista ao lado dele.

Eu entendo que ele vem se mostrando diferente nos últimos dias, ontem mesmo ele foi capaz de me apresentar uma versão irreconhecível dele. Apesar de tudo, eu gostei da forma como eu fui tratada e como ele lidou com a situação, me deixando respirar, sem muito questionamento.

Ele me disse que iria mudar a forma como me tratava, e realmente eu consigo enxergar uma mudança sincera e eu fico aliviada por ter perdoado ele, foi bom. Mas é tudo muito recente, gostei de ficar com ele, e é apenas isso. Identifico melhorias, porém não seria uma opção viável pra mim ser vista com ele com um olhar de maldade.

Imagina, o quanto eu vou ser comentada? Depois de todas as nossas brigas e discussões que de alguma forma foram pautadas naquela página? Não quero e pronto. Se for pra gente criar um vínculo de amizade, que seja da forma mais natural possível, sem existir pensamentos precipitados de terceiros.

Lobão : Caô essa ideia tua. -Apontou com o dedo indicador pro Kaue, a mão ocupava um copo arredondado que possuía cerveja. -Já dei recado que não quero nome meu rodando, tu sabe muito bem o que aconteceu da última vez que foram fazer aquela graça la.

Ele não me olhou de volta, após a fala dele e eu também tentei não criar neurose. Como eu havia feito praticamente tudo eles arrumaram a cozinha. O que eu fiz foi escovar os meus dentes e deitar na cama enquanto mexia no celular.

E realmente a página de fofoca estava engajada em soltar o babado, pedindo divulgação e tudo, entrei no perfil e já eram mais de vinte mil seguidores.

Lobão : Qual foi, loira! -Entrou no quarto e eu virei na direção dele. -Barra ta lotado de cana hoje, teve arrastão e eles tão por cima, quer brotar em outra praia qualquer?

Bruna : Não. -Falei. -Ta tarde pra pegar praia, já tinha desanimado de ir. Se vocês quiserem a gente sobe.

Lobão : Jae, bora então, arruma tuas coisas tranquila ai. -Pra falar a verdade tudo já estava no lugar, eu só tirei a blusa do Lobão e substituir por uma minha.

Arrumei a cama que eu havia bagunçado enquanto cantarolava uma música qualquer. Coloquei os travesseiros em seus devidos lugares e quando eu ergui o meu corpo para o outro lado dei de cara com ele encostado no batente da porta do banheiro.

Lobão : Tirou aquela por que? -Apontou pra blusa do vasco dele que estava dobrada sobre a cama e eu dei de ombros enquanto deslizava os meus dedos pelo meu cabelo.

Bruna : Porque é sua. -Respondi o óbvio, enquanto sorria e fiz um rabo de cavalo no cabelo, passando a palma da mão sobre o friz.

Lobão : Mas fica maneirinha em você. -Se afastou da porta e veio na minha direção. Prendeu o meu queixo em suas mãos e eu franzi o cenho, sustentando o olhar. -Sobre ontem... -Passou a mão no rosto e eu neguei.

Bruna : Lobão, de verdade, a última coisa que eu quero é lembrar desse assunto.

Lobão : Eu sei, não vou ficar insistindo no bagulho, mas é um erro do caralho você fugir de tudo que te machuca, papo reto. É tiro no próprio pé, Bruna! Você se permiti ficar nesse ciclo.

Bruna : Eu me permito? Sinceramente, Lobão. Você não sabe das metades das coisas que eu passei, chegou há alguns dias na minha vida e acredita mesmo que idealiza o que é melhor pra mim. Eu agradeço a preocupação, mas prefiro que não não sinta ela. Se eu falo que eu estou bem e que lido muito bem com isso, é porque eu estou bem e lido muito bem com isso.

Lobão : Lida bem? -Perguntou em ar de riso. -Porra, Bruna! Olha pras suas atitudes consigo mesma. Você tentou se matar. Isso é lidar bem? Não sabe medir as consequências de absolutamente nada. Essa tua postura te prejudica pra caralho, ta ligada que não é tua verdadeira versão.

Bruna : Ah, agora eu entendi. -Sorri, falsa. -Você ta tentando justificar as minhas atitudes relacionadas a você. Me culpar por algo que foi induzido pelo seu comportamento perante a mim. -Coloquei o meu dedo sobre o peitoral dele. -Mas quer saber de uma coisa? Eu nunca descarreguei os meus sentimentos pessoais de raiva em ninguém. Tudo sempre foi questão de reciprocidade.

Bruna : No dia que eu peguei a arma da tua mão eu queria morrer pra adiantar o processo, até porque eu tinha noção que você teria coragem de me matar em algum momento, e eu nunca aceitaria isso, te deixar com a sensação que venceu...e nós dois aqui sabemos o que você é capaz de fazer.

Bruna : E em relação a não medir consequências, desculpa, não consigo compreender, ta falando de que? Do meu comportamento perante ao Nunes por não aceitar ser assediada? Por não ter deixado você sustentar sozinho uma confusão que eu mesma causei, ou por ter dado a minha cara a tapa no hospital pra te livrar da operação policial?

Bruna : Minha crise de ontem é algo interior e pessoal meu, eu te agradeço mas peço que você respeite o meu momento e a minha decisão de passar por isso sozinha...não quero sentimento de pena e muito menos ajuda. Te agradeço, mas de verdade? Não julga o que você não sabe.

Soltei a minha respiração e ele ficou me encarando, ia falar algo, mas se calou e eu sai do quarto com a minha bolsa nas costas.




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