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Lobão 🐺

Papo reto mermo? Eu tava boladão, na minha mente só vinha o desgraçado do pai da loira e meu maior desejo momentâneo era poder voltar no tempo, só pra fazer ele ter uma morte mais lenta e dolorosa. Ter a sensação de ver ele implorando pra sobreviver na minha frente, pálido de tanto sangrar e sentir dor. 

Ia fazer o imbecíl se arrepender de ter nascido e tocado nela, com toda aquela inocência e falta de compreensão de uma criança, não entrava na minha mente como essa fita ai era possível, a filha dele, porra! Filha e criança, sem maldade alguma no coração. 

Olhei de relance e vi ela subir o morro, rosto estava vermelho para um caralho e por algum motivo eu tive a sensação que o desejo dela era desmoronar ali. Daniela subiu atrás dela, com outras duas garotas e eu me afastei do Kaue, tirando a chave do bolso. 

K3 : Qual foi… -Entrou na minha frente e eu empurrei ele, subindo na moto. Rodei a chave e ouvi os comentários dos moleques. 

Lobão : Papo que eu não tô aguentando olhar pra tua cara, não vou desenrolar isso com você agora, mas minha consideração acabou total. Tua única obrigação era ser sincero e agir limpo comigo, nada além disso! -Dei o toque de leve na moto e parei na frente da roda, fechando a cara e eles encerrarem o assunto. -Se eu ouvir o nome da Bruna saindo da boca de qualquer um aqui, vou resolver da pior forma e vocês tão ligado como é, arrasta o papo e manda o Ricardo da lan house me procurar. 

Eles só acenaram e eu segui o caminho, meu ódio era capaz de matar qualquer um ali, sem caô! Estacionei na praça e vi o movimento formar, desci da moto, apoiando o capacete ali e o Peruquinha veio correndo na minha direção, jogando o cabelo longo pra trás. 

Peruquinha : Qual foi, Lobão? Bruna vai acabar com a raça da Laura. -Engoli em seco e franzi o cenho enquanto cruzava os braços. 

Lobão : Não quero ninguém impedindo ela de nada, roda o papo! -Falei sério e ele assustou, mas também não contestou, foi entrando no meio da muvuca e eu me aproximei. 

Bruna 🎡

Você não pode chorar. Você não pode demonstrar vulnerabilidade. Você não pode deixar eles descobrirem suas fraquezas. Você não pode deixar que eles vejam suas lágrimas e saibam da sua ferida. 

Eu tentava repetir isso pra mim, enquanto lia e ouvia todos os áudios daquela publicação. Me causou enjoo e nojo. Me trouxe gatilhos e eu não estava sozinha para sustar e chorar. 

Eu esperava qualquer coisa dela, menos isso, me senti traída e pela primeira vez em muito tempo, derrotada. Sentia olhares de pena sobre mim e controlava as minhas lágrimas pra elas não descerem pelo meu rosto que provavelmente estava vermelho. 

Daniela : Bruna… -Colocou a mão sob o meu braço e eu levantei, colocando minha cadeira no lugar. 

Virei de costas e joguei o cabelo pra trás, passei a mão pelas minhas bochechas e suspirei antes de começar a andar. Eu tremia por dentro e simplesmente não tinha controle. Meu salto fazia barulho sobre o chão da quadra e mesmo com medo de cair eu não fui capaz de tirar. 

Subi o morro, parando na praça e avistei a Laura com umas amigas. Coloquei minha mão na cintura e o olhar dela bateu no meu. Mas foi frouxa, levantou e correu pra dentro de um dos imóveis dela e do Lobão, e uma das amigas dela, com medo, foi atrás. 

Eu ri em falso, jogando a cabeça pra trás e vi as outras me encararem, com dúvida, receio e medo. Continuei com os meus passos lentos e parei em frente a casa, batendo no portão. 

Bruna : Você não é superior aos outros, Laura? Pra ficar julgando e falando merda? -Perguntei alto, tendo a certeza que ela escutaria. -Não tem capacidade pra sustentar os seus problemas, suas confusões. -Bati na porta de lata, que gerou barulho. -Uma hora você vai precisar sair e eu te garanto que não me importo em esperar. 

Ouvir a voz da amiga dela, sussurrando algo e sorri. Ia fazer escândalo, mas rempensei, esperei o tempo dela e quando eu vi que tava demais me aproximei do portão outra vez. 

Bruna : Vou facilitar as coisas pra você, tenho duas opções! Ou você sai em cinco minutos ou eu vou ser obrigada a resolver da minha maneira. 

-Laura… -Ouvir voz de desespero. -Faz alguma coisa. 

Laura : Ela é uma louca, surtada! Cala a boca, Lidiane, uma hora ela cansa e o Lobão chega, que inferno! -Umideci os meus lábios e olhei o meu relógio, bufei e tirei minhas argolas da orelha. 

Bruna : Quatro minutos. -Dei o último aviso e virei de costas. Distribuir minha visão pelo lugar e vi o Peruquinha na bicicleta dele. Me aproximei e o molequinho ficou branco de susto. -Ta afim de ganhar uma grana? -Perguntei e ele me olhou com incerteza. 

Peruquinha : Ao troco de que, tia? -Arregalou os olhos e eu tirei dinheiro do meu bolso, colocando na mão dele. 

Bruna : Desce ali no posto e busca gasolina pra mim, avisa o Sérgio que eu que tô mandando, na volta compra uma caixa de fósforo e aqui eu desenrolo tua grana. -Ele confirmou e seguiu o caminho na bicicleta. 

Cai na bobeira de encarar as pessoas ali e meu olhar cruzou com o do Lobão. Ele estava de cara fechada e me olhava em uma das suas piores expressões, com os braços cruzados. Como resposta eu dei as costas pra ele, continuei em frente a casa observando e era cômico só ouvir a outra garota chorando. 

Peruquinha : Ta na mão, tia. -Chegou com o galão e todo mundo ali começou a sussurrar, como se não estivessem acreditando. -Termina tua fita ai que depois a gente desenrola o preço do corre.

Bruna : É que eu ainda não tô morta, pra ficar aceitando ser feita de besta por maluca que não tem coragem de assumir as responsabilidades. -Abrir o galão e comecei a derramar o líquido com todo o o meu ódio. -Ta achando que vai me fazer de besta, de otária! 

-Laura, que cheiro é esse, Laura? -Gritou e eu bati na porta outra vez, largando o galão ali.

Bruna : Ou morre no fogo ou vira mulher de verdade pra assumir o erro e vir resolver cara a cara comigo, quero vê me pintar e ter coragem de falar tudo na minha frente. 

Lobão : Se encostar nela vai comprar briga comigo! -Ouvir ele falar e quando eu olhei pra trás ele se referia ao Foguinho que estava a alguns metros de mim. -Em nenhum momento vi teu nome rodando e nem ninguém aqui te chamando na conversa, pega o teu caminho e volta pro seu trampo. 

Foguinho me olhava em transe, como se não quisesse que eu fizesse aquilo, negou com a cabeça e eu me perdi nos pensamentos. Lembrei de todo mal que me fizeram, voltei a sentir na pele a dor do Nogueira me tocando. 

Recordei os áudios da Laura, falando em todo aquele ódio de mim. Quem só soube ajudar e apoiar ela. Jogou todas as minhas inseguranças no ventilador, enfiou uma faca no meu peito sem se importar com o que isso acarretaria para mim. 

Eu sorri, sentindo as lágrimas surgirem e acendi o fósforo enquanto encarava ele. A chama brilhou o meu olhar, se ofuscando pela visão embasada. Umideci os lábios e joguei  os palitos sobre o chão, observando o fogo se alastrar. 





Vivência [M] Where stories live. Discover now