•47•

17.8K 1.4K 263
                                    

+ 90
Bruna 🎡

Eu estava fora de mim, e aparentemente tudo voltava para a minha mente, de pouco a pouco toda a adrenalina passava e eu sentia o meu corpo reagir de alguma forma diferente. Lobão estava na minha frente, e por alguma razão eu tentava fugir dele.


Eu sabia que eu iria desabar, e não queria que ele estivesse próximo a mim quando isso acontecesse. Minhas mãos tremiam e doíam, e eu desviava o meu olhar do dele, ou pelo menos tentava.

Lobão : Qual foi loira, deixa eu te ajudar, no papo reto! -Pegou a minha mão observando ela e eu suspirei.

Bruna : Lobão... -Neguei com a cabeça, soltando a minha respiração. -Não tô afim de ir no posto, de verdade, eu me viro.

Lobão : Não tem caô, a gente resolve isso. -Engoli em seco, tentando formular alguma outra ideia, mas foi impossível, meu corpo falhou e eu senti os braços dele me segurar com força.

Bruna : Pro hospital não. -Murmurei baixo, e ao mesmo tempo que eu estava longe, percebia quase tudo ao meu redor. Lapsos de escuridão adentravam minha visão, uma sensação de queda, mas algo me sustentava, e era ele.

(...)

Voltei por completo, e assustei. Estava no sofá da minha casa, deitada com a cabeça em um travesseiro. Pisquei algumas vezes franzi o cenho, observando o Lobão passar algo na minha mão.

Lobão : Tua pressão baixou. -Murmurou depois de um tempo com uma voz suave, permanecia com um timbre forte, mas aquele tom pra mim era irreconhecível. -Tá melhor? Machucou sua mão toda.

Bruna : Tô. -Tentei raciocinar, relembrando de tudo. Me dava ânsia, relembrar de todos aqueles áudios vazados. Era uma situação que eu escondia a sete chaves, o meu maior segredo. Minha intenção era levar ele comigo para o caixão.

Lobão : Vai resolver isso aí, mas é parada momentânea, mas acredito que vá resolver. -Deslizou a pomada pela mesa de centro, onde ele estava sentado, e suspirou. -Quer trocar uma ideia?

Eu só fechei os olhos, encolhendo minhas pernas na intenção de esquecer tudo o que havia acontecido, porém, foi involuntário as minhas lágrimas, eu não conseguia controlar. Era um desespero e uma angústia sem fim, meu peito doía e o meu coração acelerava em frequências irreconhecíveis para mim.

Ao mesmo tempo que eu sentia minha mente aliviar de um peso enorme, novos sentimentos e traumas adentravam, era impossível conter, e então eu me dei conta que chorava pelo fato dele estar ali também.

Bruna : Sai daqui, por favor! -Minha voz falhou, mais do que eu imaginei. Tampei o meu rosto outra vez, notando a presença dele me consumindo. -Sai, Lobão, sai! -Gritei irritada o suficiente para pegar uma almofada e jogar na direção dele, que me puxou pelos braços com força.

Lobão : Calma, pô! Tá suave. -Sussurrou no meu ouvido, me abraçando. Tentei empurrar ele pelo peitoral, mas não era tão fácil como eu sempre idealizava ser. Mas não passou daquilo, eu não tentei fingir mais. -Você tem todo direito de ficar bolada com a situação, loira, mas não é válido tu se maltratar assim. Teu sentimento de raiva só te deixa mal, e pior.

A voz dele soou serena no meu ouvido, em um contraste com os meus suspiros. Meu rosto estava enterrado na volta do pescoço dele, que deslizava a palma da mão pelas minhas costas.

Lobão : Não sei o que passa na sua cabeça, mas pode botar fé que você é maior que tudo isso. Não sei se alguém já te disse, mas você é foda pra caralho, papo reto. Te admiro pela força que tem, e acho que você tem total capacidade para superar isso.

Eu fiquei calada, e depois de um tempo ele me afastou, me olhando nos olhos. Passei o meu cabelo todo para trás, tentando secar o meu rosto e olhei para baixo. Eu tentava falar, de alguma forma me expressar, mas o silêncio me tomava. Um nódulo na minha garganta inibia todas as minhas tentativas.

Lobão : Tua cabeça tá lotadona, né não? -Perguntou, soltando a respiração. -Se importa de eu te ajudar? -Tirou o meu cabelo do rosto. -Toma um banho, come alguma coisa e fica suave. -Sugeriu, mais como uma ordem. Ele levantou, e me puxou. Deu dois toques nas minhas costas e pegou o caminho para o meu quarto, como se fizesse uma escolta.

Lobão : Quer ajuda ou consegue sozinha? -Apontou com a cabeça pro banheiro e eu só confirmei com a cabeça. Tirei o meu relógio, jogando em qualquer canto ali e entrei para o meu banho.

A água se misturava com as lágrimas, não conseguia diferenciar. Ao mesmo tempo era como se eu quisesse que tudo fosse pelo ralo. Passei longos minutos ali, me dei conta quando o Lobão bateu na porta, ele disse que iria entrar, e após uns segundos, pelo box eu identifiquei a sombra dele.

Lobão : Vou deixar tuas paradas aqui. -Saiu outra vez e eu demorei mais um tempo. Me deparei com minha blusa do Vasco e um shorts, após me secar eu vesti e fui na direção da minha cama. Sentei, apoiando a cabeça na cabeceira, evitando pensar no que estavam falando agora.

Fitei a parede, e minha visão foi completamente tomada por ele, com um copo de suco e pão com mortadela.

Lobão : Foi a única coisa que eu achei. -Murmurou, e eu soltei um riso. -Come ai, pra não ficar mal.

Bruna : Mais? -Perguntei no impulso e ele engoliu em seco. Mordi dois pedaços, intercalando com o suco. -Só é difícil, entende? -Perguntei depois de um tempo. -A vida toda eu lidei com isso sozinha, era algo intocável, sempre tive medo que usassem contra mim, para me afetar. É complicado, me sinto derrotada. Vou precisar enfrentar uma realidade onde eu saio de casa e as pessoas me olham com maldade, na intenção de me prejudicar.

Lobão : Você se mostrou maior, na minha mente em nenhum momento ali você foi derrotada, muito pelo contrário. Me admira, tua força, sem neurose mermo. Em nenhum momento você demonstrou vulnerabilidade, tomou conta da situação e deu a volta por cima, por mais que estivesse doendo por dentro.

Bruna : Não é fácil criar uma outra narrativa para isso. É como se eu voltasse a ser criança e reviver aqueles dias. Um ciclo sem fim.

Lobão : Mais um motivo pra você procurar apoio, às vezes é necessário admitir que outras pessoas tenham acesso às nossas vivências, pra de alguma forma contribuir e ajudar a gente lidar com o problema.

Lobão : Já falei que te acho blindadona, mas não é assim cem por cento do tempo, o que adianta você sustentar essa postura, sendo que na hora de deitar a cabeça no travesseiro precisa lidar com tudo sozinha? -Não aguentei comer mais, e estendi meu braço para colocar o prato e copo no criado.

Me encolhi na cama, apoiando a cabeça no travesseiro, puxei a coberta e ele permaneceu onde estava, digitando rápido no celular.

Bruna : Estão falando muito de mim? -Perguntei, curiosa e ele deu de ombros.

Lobão : Não tem motivo pra você se preocupar, foi feio pra Laura, né não? -Não tirou o celular da tela. -Sou teu empresário agora, tentando fechar com alguma agência, montar um filme boladão, Barbie em o fósforo e a gasolina.

Eu sorri, negando com a cabeça e ele desligou o aparelho, colocando dentro do bolso, ajustou o boné e levantou.

Lobão : Preciso resolver uma parada ali, você fica bem sozinha? -Confirmei. -Jae, vou te esperar dormir, mas qualquer lance é só me acionar, jae? Te dei o papo, você é boladona, loira! Tô ligado que vai ser só uma fase e vai dar a volta por cima.

Bruna : Obrigada! -Murmurei baixo e ele não respondeu, só sorriu. Não sei quanto tempo passou, para tudo apagar e eu me refugiar em sonhos.

(...)




Vivência [M] Onde as histórias ganham vida. Descobre agora