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Bruna 🎡

Minhas mãos estavam suadas e eu simplesmente não conseguia parar de chorar. Me apoiei em frente a pia e abrir a torneira, molhando o meu rosto com a água gelada.

Meu corpo tremia e toda vez que eu fechava os olhos eu relembrava aquela cena, vinha na minha mente como um pesadelo. Comprimir os meus lábios e olhei pra cima, tentando respirar.

Era natal, meus pais já eram separados e o final de semana era dele, do Nogueira. Eu havia ficado com a baba na virada do dia vinte e quatro e tinha apenas sete anos de idade.

25/12/2010
00:54

Nogueira : Oi minha linda! -Abriu a porta e eu corri na direção dele, para abraçar. -Papai trouxe o seu presente.

Eu abrir os olhos animada com a embalagem reluzente que estava a minha frente. Ia pegar, mas ele impediu, deslizando o pacote para embaixo da árvore.

Nogueira : Que tal a gente brincar? De pique esconde? -Sorri, concordando com a cabeça e ele iniciou a contagem.

Corri pela casa até chegar na cozinha, me escondi próximo a pia, entre a geladeira e com as pernas cruzadas. Ouvir os passos dele e tampei a boca para não soltar uma risada.

Assustei com a sombra dele e gritei, enquanto gargalhava, até eu ser colocada na pedra de mármore, sobre a pia.

E naquele momento toda a minha felicidade se expirou, eu estava sozinha e desamparada. O que era pra ser o meu colo e refúgio era o meu desespero.

Estar naquela cozinha com o Lobão me fez ter diversos gatilhos, todas as vezes que eu sentia o toque da mão dele em mim, próximo a pia eu relembrava o meu pai. Eu me esforcei pra esquecer, mas era algo inevitável.

Nós estávamos na praia quando eu comecei a recordar. Queria ocupar meus pensamentos com qualquer outra coisa, pelo menos por hoje. Me esquecer por um único momento...ter a sensação de um natal feliz, que não me trouxesse lembranças ruins.

Meu rosto estava tomado por lágrimas, sentia elas descerem pelo meu pescoço e minha cabeça estava ao ponto de explodir. Me agachei no chão, envolvendo os meus joelhos com os braços e apoiei o meu rosto na parede.

Passou um período de tempo e eu não me dei conta que a porta havia sido aberta, eu estava em um transe gigantesco, paralisada.

Lobão : Pô, qual foi? -Ouvir a voz dele ocupar o banheiro, mas eu não consegui responder. Estava sem voz e total com a garganta fechada. Ele agachou na minha frente e apoiou o peso do corpo sobre os pés. -Te fiz alguma parada, algo que não queria? -Encostou no meu queixo e eu permaneci imóvel. -Bruna, fala comigo! -Me sacudiu com força e minha consciência voltou.

Eu neguei com a cabeça, mas eu estava me odiando, por permitir que ele me visse daquela forma. Era uma das minhas piores versões, uma vulnerabilidade que eu escondia a sete chaves.

Bruna : Me deixa sozinha. -Falei, entre meio a voz arfada e espalhei as lágrimas, na tentativa de conte-las.

Lobão : Não, me fala o que ta pegando. -Segurou as minhas mãos e eu olhei pra parede atrás dele. -Ta passando mal?

Bruna : Não, Lobão! Só me deixa. -Estendi a palma da minha mão sobre a testa e ele suspirou, soltando a respiração. Levantou e quando eu acreditei que ele iria sair me puxou pelo braço e me pegou no colo.

Lobão : Maior pesada você, em garota. -Resmungou rindo e me levou para o quarto.

Me colocou sentada sobre a cama e afundou os braços dele no colchão, fixando os nossos olhares, desviei para parede atrás dele, porém ele acompanhou com a cabeça para manter o contato.

Lobão : Tô te perguntando no maior papo sincero, fiz alguma coisa contra a tua vontade? -Eu neguei, em um movimento com a cabeça e ele suspirou, jogando a cabeça pra trás. -Toma um banho e deita ai pra ficar de boa, se quiser a gente pega caminho pra casa. -Tirou o meu cabelo do rosto, colocando para trás da orelha.

Lobão tirou um dos braços do colchão e levou a mão até as minhas sandálias, retirou elas e colocou sobre o chão.

Lobão : Se não for por tua vontade eu vou te levar na marra. -Resmungou, mas depois de uns segundos eu levantei. -Vou pegar tuas coisas e te deixar sozinha, mas se precisar de alguma parada pode me acionar.

Fui para o banheiro e encostei a porta, me olhando no reflexo do espelho e eu estava acabada, era visível. Peguei um sabonete novo no gabinete e tirei a minha roupa antes de abrir o registro e ser tomada por uma água morna e gostosa.

Enfiei minha cabeça, deixando o meu cabelo molhar e deslizei minha mão pela nuca. De alguma forma me acalmou e relaxou, passei longos minutos ali e quando eu sai peguei uma toalha no armário.

Voltei para o quarto e o Lobão estava na janela fumando. Peguei a roupa que ele havia colocado na cama, era uma blusa e bermuda de cadarço dele, sorri enquanto negava com a cabeça e vesti, penteando o meu cabelo com os dedos logo em seguida.

Lobão : Pensei que tinha descido pelo ralo. -Falou após notar a minha presença no quarto e eu revirei os meus olhos. -Ta melhor?

Bruna : Tô, desculpa se te fiz acreditar que me fez algo. -Ele deu de ombros e saiu da janela, andando pela mesma direção que eu estava.

Lobão : Eu tô de boa, zero caô. -Sentei na cama, cruzando as minhas pernas e ele saiu do quarto, voltou depois de um tempo com um copo de água e o meu celular, me entregou os dois e eu peguei, agradecendo.

Pegou um travesseiro, deitando na cama e ficou batendo os dedos no controle, coloquei o copo sobre o criado e liguei a tela do celular vendo que já eram quase cinco da manhã.

Bruna : Nossa, cinco horas praticamente. -Ajeitei o travesseiro, colocando sobre o meu colo e ele acenou com a cabeça.

Lobão : Você ficou mais de uma hora e meia no banheiro... -Realmente, eu não tinha noção, as vezes que acontecia isso eu estava sozinha. -Tem certeza que não quer trocar uma ideia? Não tá disposta a largar o orgulho e procurar ajuda?

Bruna : Não quero falar sobre os meus problemas e eu assumo a responsabilidade de ficar mal por isso.

Lobão : Jae pô, não vou insistir. Mas as vezes dar o primeiro passo é importante. -Passou o polegar sobre a minha cintura e eu soltei a respiração.

Bruna : Só esquece isso, ta? Já é um fardo pra mim saber que você me viu daquela forma...não comenta com ninguém, só te peço isso. -Deitei por completo e comecei a encarar o teto.

Lobão : Qual foi Bruna, não sou nenhum moleque pra da essa mancada. Momento teu e é isso ai mermo, todo mundo passa por isso. -Me respondeu e se inclinou na cama de forma que desse para me ver.

Lobão : E se tua preocupação sou eu ter te visto daquela forma, fica de boa. -Passou o polegar no meu queixo e ajeitou o meu cabelo. -Você tem essa tua marra toda ai de brabona, mas eu tô ligado que tem suas razões, relaxa que eu não vou te xoxar! Pra geral você ainda vai continuar sendo a barbie girl boladona.

Levantei minha sobrancelha e franzi a minha testa, ia retrucar o abuso dele mas não consegui, porque o bofe segurou a minha mandíbula e me deu um celinho demorado, antes de sair de cima de mim e estender o cobertor sobre nós dois.

Vivência [M] Where stories live. Discover now