Capítulo 27 - Versões.

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Capítulo 27 — Versões.

Gregório acordou péssimo naquela segunda-feira, tinha dormido mal a noite por conta do que o ex-namorado havia feito. Não sabia o que significava aquela solicitação de amizade de Otávio, chegava até mesmo a pensar que talvez ele já saberia da sua relação com Francisco ou que desconfiava de algo.

Ele conseguia fazer com que se sentisse mal mesmo longe, aquele homem deixava um rastro de medo em seu peito e traumas, pois Gregório sabia do que ele seria capaz. Por um momento chegou a pensar que nunca mais seria feliz e que sempre viveria na sombra do que havia vivido com Otávio.

O gerente pegou o seu celular ao lado da cama e vasculhou suas mensagens. Seu dia instantaneamente ficou melhor em ver uma mensagem de Francisco:

"Sua carteira ficou aqui em casa, te entrego ela hoje".

Abriu um sorriso e estava prestes a responder quando viu o horário, levantando-se no mesmo momento para se trocar, estava atrasado. Não conseguiu chegar em ponto ou adiantado como sempre fazia, pois pela sua péssima noite de sono, ignorou os primeiros despertadores.

Chegou à JSM às oito e quarenta, o que para ele era o cúmulo do atraso, mesmo assim, tentaria não deixar que aquilo atrapalhasse seu dia. Quando se deu conta de que mal havia olhado para o lado, levantou-se de sua mesa e espiou pela persiana, achando quem procurava. O estagiário encontrava-se concentrado ao computador e enquanto o observava, não conseguiu deixar de sorrir, sentindo paz em meio àquela manhã atribulada.

O gerente separou os papéis da reunião que teria em breve e organizou outra pasta para encaminhar ao departamento financeiro, com os contratos recém-assinados e respectivos valores a serem recebidos.

Ligou o seu computador para conferir os e-mails e seu cronograma, em seguida colocando-se a responder o que estava acumulado. Não sabia se era pelo atraso ou pelas funções que deveria desempenhar naquele dia, mas enquanto digitava, sentia-se cansado, indisposto.

Era um pouco rara aquela sensação, pois o local que mais amava ficar, era aquele escritório. Até riu consigo mesmo ao pensar que agora poderia saber o que as outras pessoas não-workaholics sentiam, será mesmo que Francisco, com apenas uma noite, tinha conseguido lhe mostrar que a vida valia muito mais a pena do que somente trabalhar?

Fez uma pausa para um expresso, deslizando a cadeira para perto de sua cafeteira. Assim que a bebida ficou pronta, pegou um sachê, pegando uma espátula descartável e mexeu para dissolver todo o açúcar do fundo, dando o primeiro gole sem pressa.

Não sabia o porquê, mas simplesmente estava distraindo-se mais com aquele café do que com o seu trabalho acumulado. E como se não bastasse, retirou seu celular do bolso e Gregório percebeu que estava sendo um completo inútil apenas bons minutos depois, pois estava olhando sua rede social despretensiosamente, concluindo que era uma das primeiras vezes que sentiu preguiça de trabalhar, mal vendo a hora de poder dar a sua primeira pausa.

Do lado de fora, Francisco parava de digitar para observar as janelas de vidro do escritório do gerente, pensando ter visto alguma movimentação por ali. Voltou a olhar para o monitor, com receio de que seus colegas de trabalho reparassem na sua aproximação com Gregório, sua preocupação poderia ser considerada bobagem, mas por estar escondendo o acontecimento até de seu melhor amigo, cada paranoia fazia todo o sentido.

Conforme o tempo passava, trabalhava no seu ritmo, até parar para olhar a imagem do mal caminho saindo do cômodo à sua frente. Observou o gerente andar apressado, carregando uma pasta. Acompanhou-o com os olhos até vê-lo desaparecer no corredor, tendo um sobressalto ao sentir mãos pousarem com força em seu ombro.

WorkaholicWhere stories live. Discover now