Até mesmo o pagão ficou olhando assustado para o Marcus
Já sentira essa sensação antes. A raiva se avolumava e escapava quente através da sua pele. Não estava mais hesitando, não estava mais com cautela, queria guerra, sem pensar nas consequências.
O legado do Marte proporcionava o rompimento dos limites humanos da dor e do cansaço. Todas as feridas do não mais o incomodavam mais. Todo o cansaço se dissipara como uma nuvem sobre um sol furioso.
Ser um Beserker significava parar apenas quando o inimigo não mais respirasse, mesmo que seu corpo estivesse em frangalhos.
O pagão respondeu fúria com fúria e foi pra cima do Centurião rugindo.
A luta recomeçou quando as quatro armas se encontraram repetidamente, lançando barulhos metálicos pela arena. Marcus não sentia mais a pressão dos golpes do monstro em seu pulso.
Acertou um golpe no abdômen do pagão, deixando uma fissura ali, a espada do degolador resvalou em seu braço direito. Sentiu o sangue escorrer. Sem dor.
O Degolador girou a espada direita diagonalmente. Esticou demais o braço. Marcus bloqueou o golpe com a lança e posicionou o gládio direito atrás do braço do gaulês e puxou. Tudo numa fração de segundo.
Sentiu a lamina chegar no osso do monstro, que gritou.
O pagão era um demônio. Mesmo com um braço pendendo, lançou um ataque desesperado com a outra espada. Marcus inclinou o corpo pra trás e sentiu o vento da arma passar a centímetros do rosto.
Em seguida, cravou o gladio direito fundo na lateral do abdômen do monstro. O pagão urrou alto. O sangue melou a empunhadura do gládio, em seguida, sua mão.
O Degolador lhe acertou um golpe com a coronha da espada esquerda e o fez dar uns passos atrás.
O gládio do Marcos ficou preso dentro dele, que o puxou para fora como se tivesse sido pintado de vermelho.
Marcus, que agora estava apenas com a lança, se agachou e pegou uma lasca grande do escudo do Nicolas, no formato de uma estaca.
O monstro berrou enraivecido e foi pra cima do Centurião. Um rio de sangue descia da barriga e escorria pelas pernas. Sem contar o braço direito pendurado e inútil.
Veio com um ataque com a esquerda mirando a cabeça do Marcus, que bloqueou com força usando a lança. O Degolador tentou dar outro ataque com a mesma espada e Marcus teve tempo de esquivar com facilidade.
Logo depois, o Centurião avançou a fim de afundar a estaca no peito do pagão, no coração, parou a um palmo.
O que estava fazendo? Cravar essa estaca significava o mesmo que matar a Camila.
Deu um passo pra trás e o público reclamou em coro. Olhou para o Nicolas, o movimentar do peito dele significava vida. Não sabia por quanto tempo.
Ficou ofegando, enquanto afastava a adrenalina de Marte que o impelia a continuar. Caiu de joelhos e fincou as armas na areia.
Olhou para o tablado principal e viu o General aplaudindo.
O Degolador se aproximou, trazendo uma sombra de morte. O público rugiu irritado. Pareciam perceber que ele perdia de propósito e queriam que ele fosse punido por isso.
Há um segundo o exaltavam como um deus, agora ansiavam que ele tivesse a morte mais brutal possível.
O editor colocou o polegar no meio e Marcus olhou mais uma vez ao tablado. Viu uma mulher com o vestido branco brilhante flamulando ao vento. Minerva viera ver a sua despedida?
— Marcus!
Era a Camila, sua mãe e o Flamma ao lado.
E, então...Marcus levantou, pegou as suas armas e as afundou o através das costelas do pagão.
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Com o final da luta, Marcus acompanhou escravos da arena carregarem o Nicolas numa maca para a enfermaria. Certificou-se que o fizessem com o devido cuidado.
O grego deixou para trás uma enorme quantidade de sangue. Estava pálido, rosto encovado, olhos abrindo e fechando.
Chegando lá, o Centurião deu espaço para que o médico o examinasse. Não lembrava de outro momento em que a possibilidade de uma morte o afetasse tanto.
Seu pai morrera de uma doença quando ele estava numa longa campanha em terras distantes. Quanto retornou para visita-lo, recebeu apenas as cinzas pelas mãos do fazendeiro que o empregava.
Foi um golpe só. Dolorido. Mas de uma vez só.
Lembrava do Nicolas cheio de energia e sonhos. Vivia repetindo que queria acumular moedas para pagar suas dívidas e proporcionar uma vida decente ao irmão mais novo.
Marcus também estava com vários ferimentos pelo corpo. Sem a benção de Marte, a dor das fissuras era excruciante. Mas não permitiria ser tratado antes que tivesse uma resolução do estado de saído do amigo.
Camila surgiu no aposento correndo e o abraçou. Ele devolveu o abraço. Ve-la bem era o melhor prêmio que ele podia receber no final dessa luta insana.
Foi quando um calor o cobriu e foi se esgueirando pela sua pele. Entrando em seus músculos e aliviando dores por onde passava. Ele se mexeu espantado e ela murmurou.
— Vai ficar tudo bem, vou cuidar de você.
Sentiu as aberturas das feridas se fecharem sozinhas, como se uma linha invisível as costurasse.
— Espere! — então, ele segurou as mãos dela e a puxou ate o canto do aposento, onde o médico, lambuzado de sangue, se esforçava com fios de tripas de bode para costurar o rasgo abissal no peito do jovem grego.
— Por favor, cuide dele!
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Era impressionante como os pequenos detalhes faziam a diferença. Sua mãe ouvira a conversa que o General teve com o Marcus, pois estava naquele exato momento no aposento ao lado com o Flamma. Preferiu não perguntar a ela o que estava fazendo lá.
No dia em que o General levou sua família para a festa do Vettius. Sua mãe notara grilhões no chão da carroça.
Por causa disso, pensou na possibilidade da Camila estar presa lá. Foi até a área de estacionamento, com o Flamma, e assim a salvou. Flamma teve que matar três guardas no processo.
Viram o cocheiro dentro do veiculo morto com olhos arregalados, pescoço queimado e uma língua roxa para o lado de fora. Camila não quis explicar o que tinha acontecido lá dentro.
Nesse instante, estava com vontade de ficar com o Marcus. Apenas isso. Sentiu-se orgulhosa por ter salvado a vida do gladiador grego.
Viu medo nos olhos do Marcus e entendeu que o companheiro de ludus lhe era caro.
Sua mãe vira e mexe aproximava-se, a abraçava e a mimava de algum modo. Seu pai não havia chegado em casa ainda.
Provavelmente devia estar descontando os altos valores que apostou nessa luta. Respirou fundo. Não acredito que essa maldita luta tinha realmente acabado.
Tudo começou quando ela resolveu passar por cima do que acreditava para comprar um escravo. Mas, sabia que se fosse diferente não teria conhecido o Marcus. E agora, provavelmente, estaria a caminho de se casar com o Tiberius.
Eram estranhos os caminhos dos deuses.
Um barulho estridente de coisas caindo no chão chamou a atenção. Ela saiu do seu quarto e foi até o átrio central da casa.
Uma escrava tinha deixado cair uma bandeja e agora catava tudo. Um guarda com rosto exasperado contava algo pra sua mãe.
Ilithya alojou as mãos nos cabelos loiros e seu rosto contorceu-se em desespero.
— O que houve mãe? — perguntou a Camila, ao se aproximar.
Sua mãe estava com a boca aberta, soltando ruídos agudos chorosos e caindo de joelhos com o rosto vermelho.
Camila olhou para o guarda procurando uma explicação, quando outros guardas chegaram trazendo uma maca de pano com marcas vermelhas.
O corpo do seu pai jazia inerte ali dentro.