Capítulo 28

14 2 0
                                    

   No pier de Napoles, Camila olhava para o mar. Uma coluna de fumaça preta saia do cruzeiro, como Marcus dissera que ocorreria. Eles colocaram fogo em tudo.

   Silhuetas e vários pequenos barcos iam e vinham procurando por sobreviventes e corpos para um cortejo apropriado. Apenas de nobres, claro.

   As pessoas iam se acumulando na plataforma de madeira para presenciar a tragédia sem precedentes. O prejuízo humano fora enorme para a cidade de Napoles.

   Podia sentir o cheiro do Marcus impregnado em sua pele e abraçou-se em saudade. Lagrimas tornavam a verter dos seus olhos. Ser feliz devia ser um erro, para os deuses o levarem dessa forma.

   Não, ele não pode estar morto. Ficou ali parada, prestando atenção sempre que um barco chegava, semeando esperanças.

   — Muito obrigado, o seu escravo salvou nossas vidas! — falou um nobre para outro — Que os deuses lhe paguem pela sua bravura.

   A bravura foi do nobre ou do seu escravo? Camila virou para a conversa a tempo de ver o homem mover a cabeça positivamente e responder.

   — O senhor me honra.

   — Infelizmente o meu se mostrou um inútil, não matou sequer um pirata antes de morrer.

   O coração da Camila batia forte como ondas numa pedreira e uma irritação a preencheu. Fazendo nascer uma tempestade.

   O ataque dos piratas ainda estava muito fresco em sua mente. Viu os gladiadores lutando com a vida, enquanto os outros homens de acovardaram atrás, incapazes de pegar uma arma para se defender.

   Correram para salvar suas peles, enquanto deixaram os escravos como sacrifício.

   — Bravura? — um nojo a dominou e ela não conseguiu conter a palavras — Todos vocês não passam de covardes!

   Recebeu vários olhares ofendidos e um nobre loiro, de estatura média e túnica vinho deu um passo a frente a encarando.

   — Como é menina?

   — Vocês são ridículos. Se sentem poderosos ostentando lutadores presos por correntes místicas. Se sentem poderosos achando que são vocês que levantam aquelas espadas. Precisam submeter escravas aos seus desejos sexuais imundos.

   O homem hesitou com olhos saltados e ela continuou.

   — Não se dão conta que todos vocês se tornaram dependentes e fracos. Não. Vocês não são bravos. Vocês precisam dos escravos muito mais do que eles de vocês. Se algum dia as correntes que prendem essas pessoas arrebentarem, todos vocês estão fodidos! Porque não sabem mais cuidar de si mesmos.

   Ela ofegava, mas não chorava. Transformou sua frustração em raiva e achava que se qualquer um daqueles homens levantasse a voz pra ela, partiria para agressão física.

   Mas ninguém fez isso. Ficaram apenas se olhando, provavelmente achando que ela era louca.

   Tibérius saiu do meio de um grupo com um cobertor e se aproximou para cobri-la.

   — Vamos, vou te levar para sua casa!

   — Me deixa! Você é igual a todos eles! — ela a empurrou e saiu dali, se desviando de todos que a encaravam.

   — Camila! — gritou o Tibérius e ela o ignorou — Camila! Marcus está na areia!

   Ela parou e saiu correndo até a beira do tablado e viu ele. Estava longe, mas perto o suficiente para ser reconhecido. Tossia de joelhos na areia da praia.

   Sentiu um alívio imediato e disparou correndo para sair da plataforma. Desceu a colina de areia, desesperada.

   Escorregou e sentiu uma dor quente na perna quando sua perna ralou-se numa pedra. Não ligou. Chegou na beira da praia e correu pela areia molhada.

   Chegou nele e o abraçou com força. Marcus estava pálido, a boca aberta, puxando ar e tremendo.

   Não tinha nenhum barco de resgate, ele chegou ali a nado.

   — Você esta vivo! — falou ela segurando o rosto do gladiador. Mal acreditando. O beijou. Sentiu que todos a olhavam da plataforma. Mas não se importou.

   O homem que ela amava estava vivo, e aquilo bastava naquele momento.

===

   O General, assim como todos que estavam no deque, correu até a beira para ver a Camila sair desesperada para receber o seu escravo, na beira-mar, vivo.

   Gostou de saber que o Marcus estava vivo. Ele era uma peça importante para que seus planos se concretizassem. Deixou que ele entregasse a sua vida para que pudessem se salvar, afinal de contas, nenhum plano faria sentido se ele e o seu único herdeiro fossem assassinados por piratas.

   Malditos. Realmente não esperava que fossem ousados o suficiente para lhe atacar num cruzeiro. O General tem gastado parte da sua fortuna com mercenários e já dizimou alguns acampamentos dos invasores de terras.

   Mas ele sabia que venceia apenas quando tivesse ao seu poder um exercito de gladiadores.

   Pois, seus oponentes também eram gladiadores. Ferro se combate com ferro.

   — Agora eu entendi. A menina não passa de uma prostituta que se esfrega em escravos. — falou o nobre que fora confrontado pela Camila. Outros homens começaram a rir.

   — Não diga besteira. Ele salvou a vida de muitos que estão aqui — devolveu o General. — Alias, o fato de ser um escravo é uma vergonha para Roma. Ele é um herói de guerra. Merece ser honrado como tal. A filha do bom Lucios nunca se envolveria com um homem qualquer.

   — É mesmo? — Comentou o nobre espantado.

   General precisava defender a honra da moça. Se ela saisse manchada demais disso, não poderia casar-la com o seu filho Vettius.

   De todo modo, concordava com o que ela dissera. Os motivos eram tolos, mas havia fundamento em suas palavras. Os aristocratas estavam acostumados demais com os confortos da cidade grande e as facilidades de ter escravos sempre disponíveis que ficaram incapazes de limpar o próprio rabo.

   Seu filho era um deles.

   Olhou para o Vettius. Estava num canto com rapazes mais novos, contando com entusiasmo a grande aventura que viveu.

   A moça era forte, talvez desse jeito em seu filho lesado. Mas havia algo que o incomodava. Ela parecia ter sentimentos verdadeiros pelo Centurião, mas será que ele também tinha por ela. Isso poderia diminuir o ímpeto do Marcus de honrar o acordo que fizera.

   Seus planos precisavam ser acelerados, e algum acerto de rota precisava ser realizado.

A Domina e o Centurião - COMPLETOWhere stories live. Discover now