Capítulo 33

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   Camila tentou usar o seu poder com olhos cheio de água, não deu certo. Não podia curar o incurável. Seu pai tinha morrido e não havia nada que ela pudesse fazer a respeito.

   O lanista voltava da arena com uma fortuna em ganhos das apostas e foi assaltado em plena luz do dia. Os bandidos levaram os sacos de ouro e deixaram a morte.

   Pelo menos foi isso que as autoridades contaram.

   Se Lucios fosse um nobre, o cortejo dele começaria no fórum, onde algum político discursaria palavras acaloradas, depois uma procissão de pessoas usando mascaras com o formato do rosto dele acompanharia o caixão até uma cripta, onde ocorreria a incineração. No mesmo dia teria um banquete enorme em homenagem ao morto. Até a morte era motivo para celebração.

   Mas isso não ocorreu. Ele não era nobre e também não deixara muitas moedas para que sua mãe patrocinasse algo em grande estilo.

   Sua incineração ocorreu fora da cidade, num monte próximo. O único investimento foram duas moedas que Ilithya colocara sobre os olhos do falecido para pagar o mercador da morte.

   Ilithya trajava um vestido negro e, mesmo arrasada, estava muito bela. Ela queria realizar uma pequena luta de gladiadores. Uma morte para seu pai morto.

   Camila insistiu para que isso não ocorresse. O único argumento que a dissuadiu foi que não estavam em condições de perder nenhum escravo nesse momento.

   Começaram então os sete dias de luto da morte do Lucios.

   Nos primeiros dias, Camila e a mãe se limitavam a rezar, se alimentar, dormir e rezar novamente. Camila não suportou mais essa rotina, e lá pelo terceiro dia resolveu organizar as papeladas da escola de gladiadores.

   Haviam diversas lutas marcadas ao longo do mês que renderiam bons valores. Assim como existiam pilhas de dividas acumuladas. Ela achou a situação difícil, porém, administrável.

   Pagavam fortunas por apresentações dos gladiadores do ludus Titanus, com tempo e paciência dos credores, era possível se reerguer.

   Tinha prometido ir ver o Marcus apenas depois da semana de luto, mas no quinto dia não aguentou de saudade e foi visita-lo.

   Ao final do sétimo dia, ele já dormia em seu quarto.

   Na manhã da segunda-feira, Camila estava no escritório do seu pai reavaliando as contas. Tinha que se organizar para pagar uma fortuna para mercadores de grãos. O estoque já estava abaixo da metade.

   Sua mãe se recuperava mais lentamente e mal saia do quarto. Estava sozinha nesse trabalho. O Centurião levantou cedo e foi treinar no ludus.

   Mesmo ela dizendo que ele não precisava mais frequentar os treinos, ele foi mesmo assim, alegando que precisava manter-se em forma.

   De repente, alguém bateu na porta de mogno do escritório.

   — Pode entrar — disse a Camila.

   Um guarda abriu e colocou-se de frente a mesa dela.

   — Senhorita, o General Solonius se encontra no salão de espera e solicita um momento com a sua mãe.

   Camila estremeceu de raiva. O homem tinha lhe sequestrado e não podia nem ao menos denuncia-lo as autoridades, não existiam provas. Era perigoso acusar alguém de posição social tão elevada.

   — Diga que estamos ocupados e não poderemos atende-lo. — suspirou pesadamente — Não, melhor, diga que ele não é bem vindo nessa casa e avise a todos os guardas para não permitirem mais a entrada dele.

A Domina e o Centurião - COMPLETOWhere stories live. Discover now