Capítulo 9

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   Camila pisou na areia segurando uma espada e um escudo. O sol agredia a vista e a boca estava seca. Do portão, no outro lado, saiu um gladiador gigante. O Degolador.

   Tinha o mesmo sorriso cínico, a mesma ganância por morte. Camila sentiu seu escudo pesado demais, era inútil. O demônio não teve piedade.

   Cravou a espada em sua barriga e ela caiu de joelhos. O suor escorria do pescoço e sangue da barriga, areia sendo pintada de vermelho. Segurou o liquido escarlate como se pudesse conter sua evasão. A única cor nesse mundo cinza

   Quando olhou para a plataforma, o mediador estava obscurecido, com apenas o polegar a luz. Sua vida acabaria assim. Ao olhar de um público que saudava a morte com gritos e pulos de alegria.

   O gladiador elevou a espada com a satisfação de um carrasco. Um pânico sufocante lhe oprimiu e fechou sua garganta. Nem gritar ela conseguia. Um pouco antes do aço a tocar, viu o rosto do mediador na plataforma.

   Era ela mesma, como um reflexo distorcido num espelho.

   Acordou no seu quarto, suada e ofegante. Mesmo depois de dois dias aquilo ainda mexia com a sua mente.

   Olhou em volta e respirou fundo. O odor familiar dos incensos aromáticos a acalmou. Antes de dormir, sempre pedia para uma escrava acender algum.

   Sentou na cama, só para assustar-se novamente com a Panda, que surgiu de um canto sem fazer barulho. A escrava segurava uma bandeja com o café da manha. Camila pediu um copo de água.

   Panda colocou a bandeja numa mesa no canto, pegou uma das pequenas ânforas de barro e encheu um copo de vidro.

   Bebeu um longo gole e olhou para a escrava. A moça de pele morena tinha a sua idade e já a servia pessoalmente há alguns anos.

   — Então, como foi o encontro na arena? — perguntou Panda, ansiosa.

   — Vou disputar uma noite num cruzeiro com o Tiberius. — respondeu Camila, sonolenta.

   — Disputar? — indagou Panda, franzindo as sombrancelhas

   Camila explicou tudo o que houve. Inclusive sua recente entrada ao mundo da patronagem de gladiadores.

   — Mas que filhotinho de cobra a senhorita Lucille se relevou, hein.

   — Acho que o Edil prefere ela como nora. — Camila resmungou, jogando-se de costas na cama  — Também, o pai da Lucille é um político importante, ela é um partido melhor.

   — Partido melhor? Depois do escândalo que ela passou ano passado?

   Lucille fora flagrada transando com um militar, pelo menos dez anos mais velho, numa comemoração na casa dos pais. A coisa piorou muito porque a mãe dela era uma mulherzinha histérica que fez um escândalo na hora.

   — Eu fui a única que apoiou ela na época — Camila sempre teve medo de ser exposta dessa forma. A sociedade moralista podia ser cruel quando queria. Por isso, se compadeceu muito com o que ela estava passando.

   — O seu gladiador é bonito? — perguntou Panda, com malícia na voz.

   — Nem reparei — mentiu a Camila.

   — Eu não me aguento quando passo na arena e vejo aqueles deuses treinando. — Panda abanou-se com a mão — Já viu o Flamma?

   — Claro que sim, ele é o campeão do ludos. Mas, eu só tenho olhos para o Tiberius.

   — Compre outros olhos, minha querida, você precisa aproveitar mais a paisagem.

   Camila deu uma risada.

A Domina e o Centurião - COMPLETOΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα