Camila pisou na areia segurando uma espada e um escudo. O sol agredia a vista e a boca estava seca. Do portão, no outro lado, saiu um gladiador gigante. O Degolador.
Tinha o mesmo sorriso cínico, a mesma ganância por morte. Camila sentiu seu escudo pesado demais, era inútil. O demônio não teve piedade.
Cravou a espada em sua barriga e ela caiu de joelhos. O suor escorria do pescoço e sangue da barriga, areia sendo pintada de vermelho. Segurou o liquido escarlate como se pudesse conter sua evasão. A única cor nesse mundo cinza
Quando olhou para a plataforma, o mediador estava obscurecido, com apenas o polegar a luz. Sua vida acabaria assim. Ao olhar de um público que saudava a morte com gritos e pulos de alegria.
O gladiador elevou a espada com a satisfação de um carrasco. Um pânico sufocante lhe oprimiu e fechou sua garganta. Nem gritar ela conseguia. Um pouco antes do aço a tocar, viu o rosto do mediador na plataforma.
Era ela mesma, como um reflexo distorcido num espelho.
Acordou no seu quarto, suada e ofegante. Mesmo depois de dois dias aquilo ainda mexia com a sua mente.
Olhou em volta e respirou fundo. O odor familiar dos incensos aromáticos a acalmou. Antes de dormir, sempre pedia para uma escrava acender algum.
Sentou na cama, só para assustar-se novamente com a Panda, que surgiu de um canto sem fazer barulho. A escrava segurava uma bandeja com o café da manha. Camila pediu um copo de água.
Panda colocou a bandeja numa mesa no canto, pegou uma das pequenas ânforas de barro e encheu um copo de vidro.
Bebeu um longo gole e olhou para a escrava. A moça de pele morena tinha a sua idade e já a servia pessoalmente há alguns anos.
— Então, como foi o encontro na arena? — perguntou Panda, ansiosa.
— Vou disputar uma noite num cruzeiro com o Tiberius. — respondeu Camila, sonolenta.
— Disputar? — indagou Panda, franzindo as sombrancelhas
Camila explicou tudo o que houve. Inclusive sua recente entrada ao mundo da patronagem de gladiadores.
— Mas que filhotinho de cobra a senhorita Lucille se relevou, hein.
— Acho que o Edil prefere ela como nora. — Camila resmungou, jogando-se de costas na cama — Também, o pai da Lucille é um político importante, ela é um partido melhor.
— Partido melhor? Depois do escândalo que ela passou ano passado?
Lucille fora flagrada transando com um militar, pelo menos dez anos mais velho, numa comemoração na casa dos pais. A coisa piorou muito porque a mãe dela era uma mulherzinha histérica que fez um escândalo na hora.
— Eu fui a única que apoiou ela na época — Camila sempre teve medo de ser exposta dessa forma. A sociedade moralista podia ser cruel quando queria. Por isso, se compadeceu muito com o que ela estava passando.
— O seu gladiador é bonito? — perguntou Panda, com malícia na voz.
— Nem reparei — mentiu a Camila.
— Eu não me aguento quando passo na arena e vejo aqueles deuses treinando. — Panda abanou-se com a mão — Já viu o Flamma?
— Claro que sim, ele é o campeão do ludos. Mas, eu só tenho olhos para o Tiberius.
— Compre outros olhos, minha querida, você precisa aproveitar mais a paisagem.
Camila deu uma risada.
ΔΙΑΒΑΖΕΙΣ
A Domina e o Centurião - COMPLETO
ΦαντασίαςNa sociedade romana, a cultura de gladiadores chegou em outro patamar. Todo mundo agora patrocina um gladiador e resolve suas questões pessoais em combates através dos seus patrocinados. Camila é filha do dono de uma das maiores escolas de gladiador...