Capítulo 2

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   Antes de entrar na carroça, Camila teve a oportunidade de ver o gladiador que o filho do General comprara. Fazia o tipo ameaçador. Alto, inchado e repleto de marcas de feridas espalhadas pelo torso nu. Era moreno e tinha cabelo grande e irregular. Abaixava a cabeça, submisso, mesmo assim, aqueles olhos brutais davam medo.

   O gladiador foi junto com os soldados no banco de guia. Iam amarra-lo na lateral do veiculo e coloca-lo para ir correndo, mas Vetius interveio. Não queria o seu lutador ficasse cansado antes do tempo. Se os soldados não gostaram de ir ao lado de um escravo, não se pronunciaram.

   — Quero chegar em casa logo, para fazer o ritual de submissão. Esse garotão vai lutar hoje ainda. — comentou o Vettius, ansioso.

   — Faz muito bem, jovem Vettius. — disse o lanista — O ritual de submissão não deve ser negligenciado.

   Camila achava essa prática que forçava a obediência uma violência terrível. Mas não queria pensar nisso agora.

   Arrumou-se da melhor forma que pôde. Prendeu os cabelos castanhos num broche no formato de um escaravelho azul. Um belo colar com uma pedra turmalina verde balançava no pescoço numa corrente de ouro. Escolheu um vestido de seda azul, o qual moldava suavemente ao seu corpo esguio. Foi sutil no decote.

   Já a sua mãe não economizou nesse sentido. Vettius só faltava babar. Se os peitos dela secassem com a encarada dele, estariam mais murchos que o saco de um boi. Só parou quando o General Solonius deu uma cotovelada discreta, todos fingiram não perceber. Seu pai ficou com uma cara fechada.

   — Então Camila, você tem algum gladiador patrocinado? — perguntou o Vettius.

   Mais conversas sobre gladiadores, suspirou com tédio.

   — Não me interesso por essa moda.

   — Que desperdício. Se o meu pai fosse um lanista, eu pegaria sempre o melhor para lutar por mim.

   — No meu aniversário, você tinha um ótimo patrocinado — lembrou a Camila — Venceu várias lutas naquele dia, o que houve com ele?

   — Ah, ele morreu. Já não estava aguentando o tranco, eu mandei que o sacrificassem antes que me envergonhasse na arena — falou com a mesma naturalidade que o pai ao lado, quando disse que mandou matar leitões pra a festa.

   Aquilo só a deixou com mais repulsa dele, mas não demonstrou. Afinal, era o seu aniversário.

   O rapaz continuou a tagarelar sobre suas vitorias e ela abriu um sorriso fingido, como se tivesse prestando atenção. A única coisa que conseguia pensar era no seu reencontro com o Tiberius.

   A carroça atravessara a área sul da cidade e, de modo abrupto, o cenário urbano de construções grudadas deu lugar a amplas chácaras e fazendas. Vettius, às vezes, perdia a compostura e voltava a olhar para a sua mãe. Assim eram os homens.

   O crepúsculo já fazia a sua mágica e a estrada iniciou uma subida obscurecida. A certa altura, o veiculo percorrera um cercado alto de troncos e arame farpado. Por fim, parou em frente a um portão grande de tabuas e pilares altos. Um guarda abriu rapidamente e a carroça entrou na propriedade.

   Começou um caminho sinuoso por um bosque escuro, periodicamente iluminado por postes de tocha. Aquilo causava um efeito bonito na trilha. Camila respirou o ar puro de mata virgem e sentiu o ar resfriado encher seus pulmões. Sentia as mãos trêmulas pela ansiedade de encontrar o Tiberius. Preciso me acalmar.

   — Que paraíso! — comentou a Ilithya — Se eu morasse num lugar como esse, nunca sairia de casa.

   Teve que se segurar para não dar uma risada, não conhecia ninguém mais consumista e dependente dos confortos da cidade do que a mãe.

A Domina e o Centurião - COMPLETOWhere stories live. Discover now