Capítulo 5

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   Era a vez do Lucios. O lanista precisava de um número maior que dez, na soma de dois dados, para vencer essa rodada. Fez os dados de madeira girarem na palma da mão, deu um gole no vinho, e os arremeteu na mesa.

   Ficou tonto, fechou e abriu os olhos com força. A bebida finalmente estava pegando ele.

   Tirou quatro nos dois dados. Esta se sentindo com sorte, pensou o General. Resultados iguais permitia repetir a jogada, com o acrescimento do dado repetido no próximo resultado.

   Lucios jogou os dados novamente. Tirou seis e três. A soma deu nove. Com o acréscimo do quatro anterior, ficou com treze. Venceu essa rodada.

   — Parece que é a sua noite de sorte, Lucios — falou o General Solonius.

   — Para variar um pouco — comentou o lanista, num tom de resmungo, em seguida deu uma baforada num fumo de tabaco

   Nada fora do controle. Observava o lanista como uma presa. Não um ratinho que devia ser engolido rapidamente, e sim, uma ave que se tirava uma pena por vez.

   Solonius tinha o legado da Deusa da Fortuna, mas nunca havia dado valor a isso em sua juventude. Há pouco tempo, descobriu grandes utilidades para a sua habilidade. Ele conseguia saber o que as pessoas estavam sentindo e, as vezes, tinha vislumbres do que pensavam. Nem sempre funcionava, mas estava se aprimorando.

   — Espero que não tenha ficado desapontado com o gladiador que comprou hoje. Tentei avisa-lo que colocar ele para lutar tão cedo era um erro, o ritual machuca demais a carne.

   — Não se preocupe com isso, Lucios. — disse o General, com frieza — O problema estava com o dono.

   — Não seja tão duro com o rapaz, estava apenas eufórico com o dia do seu nome e se deixou levar.

   — Deixe que do meu filho eu entendo — respondeu Solonius, com rispidez e deu um gole na  caneca de vinho — Então, mais uma partida?

   Se existia algo que tirava o General do prumo, era o filho. O menino se mostrou uma decepção desde que nascera. Não fazia nada direito, sua incompetência era flagrante.

   Segundo as leis de Roma, quem controlava exércitos não podia ser dono de terras. O certo seria passar a sua legião ao filho. Mas, se tivesse feito isso, Vetius já teria destruído toda a reputação que construíra a duras penas. Desistira das tropas e investiu sua fortuna em fazendas.

— Desculpe-me se fui impertinente — Lucios endureceu o rosto e reuniu os dados — O senhor pode começar.

— Não há o que se desculpar. O garoto sempre me deu dor de cabeça. Uma causa perdida. Mas vamos nos focar em assuntos mais agradáveis. Vamos apostar algumas moedas?

O General voltou a tomar o controle da situação.

— Assim o senhor tirará as minhas calças, ainda não paguei a grande soma que lhe devo.

   Solonius deu um sorriso, como se a única forma de aliviar o semblante austero fosse lembra-lo das suas vitórias. O que queria ia muito além de meras moedas. Esse lanista tinha a segunda maior escola de gladiadores da cidade. Exatamente o que precisava nesse momento.

   Suas fazendas estavam sendo invadidas por mendigos e miseráveis. Os malditos sugavam a terra sem pagar nada por isso, como uma praga que se multiplicava a cada dia. O exercito municipal não tinha capacidade de conte-los, ou pelo menos, parecia não se esforçar. 

   Isso porque os invasores estavam formando forças de defesa armada. Era verdade que eram mal treinados e mal armados. No entanto, eram numerosos. O General pediu auxilio ao senado, não teve nenhuma ajuda considerável. Ele não tinha mais nada a oferecer as velhas raposas. Não ia rebaixar-se pedindo novamente. Soaria desespero.

A Domina e o Centurião - COMPLETOWhere stories live. Discover now