Capítulo 30

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   Camila estava transitando pelas ruas de Napoles, sozinha. Era domingo de manhã, o dia em que o Marcus lutaria na arena. Não quis requisita-lo para acompanha-la. Não queria cansa-lo nem por um segundo.

   Por outro lado, se pedisse que algum guarda a acompanhasse teria que dar explicações. Resolveu ir sozinha mesmo.

   Que bandido ou pirata acordaria cedo para atacar alguém no domingo de manhã? Essa hora esses indivíduos deviam estar bêbados e dormindo em alguma sarjeta.

   Deixou o documento de emancipação no fórum. Em alguns dias seria dona do próprio nariz. Seu pai poderia lhe deserdar por isso. Não se importava.

   Estava com um frio na barriga pelo passo que havia dado e com um medo cáustico do que poderia acontecer ao Centurião na sua apresentação na arena.

   Tudo daria certo, disse a si mesma. Se ele conseguiu lidar com dezenas de piratas e sair vivo, não seria uma luta na arena que iria lhe por em risco.

   Depois de uma boa caminhada, chegou na rua da sua casa. Afinal, não precisava mesmo de proteção. Resolveu dar uma passada no ludus para ver o Marcus antes da luta.

   Havia movimento em Napoles apenas no centro, próximo ao fórum. Nos arredores da sua casa, nem mesmo um gato passava.

   Por vezes, pisava na terra molhada e ela colava em seu sapato. Pelo menos não estava chovendo.

   Quando virou a esquina para a direita, em direção a escola de gladiadores, notou a carroça do General encostada poucos metros a frente. Parou para olhar e sentiu raiva.

   Soube que era para ele que o seu pai devia tanto. Por isso estava sempre por perto, como um abutre ganancioso.

   Talvez seja o Vettius querendo comprar outro gladiador, pois o Cão morrera no cruzeiro. Passou ao lado, torcendo para não ser notada. Ao cruzar com o veiculo, percebeu que o cocheiro a acompanhava com os olhos.

   Deixando-o para trás, ouviu um barulho arranhado da porta de madeira abrindo. Suspirou. Provavelmente o General e o Vettius iria acompanha-la até o ludus.

   No entanto, quem saiu do interior não era o General, tampouco seu filho. Era alguém muito mais alto, pois teve que curvar-se todo para sair de dentro.

   O individuo em pé na calçada fez correr gelo pelas suas veias. As mesmas cicatrizes, o mesmo olhar mortífero com desejo por sangue. O Degolador a encarava com um sorriso rasgado.

   Camila demorou um instante para absorver e conseguir se mover. Ver ele ali, na sua frente, solto, era tão aterrorizante e fora do lugar como um leão livre na cidade.

   Virou-se e começou a correr em pânico. Estava tão nervosa que a garganta não cedia espaço pra sair voz, como normalmente acontecia nessas ocasiões.

   Ouviu as passadas pesadas atrás, não era um pesadelo, o monstro estava perseguindo-a. Sentiu uma gota de suor fria descer pela sua nuca.

   Lembrou imediatamente da cabeça do Golias balançando na mão do monstro. Por Eusculápio, vou morrer.

   Seu coração batia tão forte que parecia que ia explodir. Precisava correr uns vinte metros até chegar a entrada do ludus.

   Talvez um guarda já conseguisse ve-la da guarita, apesar de duvidar da capacidade de um guarda de protege-la dessa aberração.

   Sua voz tinha começado a sair num grito esganiçado quando dois braços longos a abraçaram por trás, como cobras gigantes.

   Debateu-se. Uma mão fedorenta cobriu sua boca. Na verdade, a mão era tão imensa que cobria o seu rosto inteiro.

A Domina e o Centurião - COMPLETOWhere stories live. Discover now