Capítulo 1 - Parte 1

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   — Avise-me se ela chegar! — disse Camila a Panda, sua escrava pessoal, enquanto curava a Fabia, a escrava cozinheira.

   Fábia chorava e tremia. A coitada derrubara uma panela de banha fervente quando fritava línguas de rouxinol. A queimadura invadia o pulso e o braço numa chuva de pintas vermelhas, a mão era só carne-viva.

   Camila pairou suas mãos sobre o ferimento e rezou mentalmente para o deus da cura, Esculápio. Por favor, use o seu poder através de mim e cure essa pobre moça.

   Apesar de ficar com os olhos fechados durante todo o procedimento, deixou uma miniatura de mármore do deus próximo, sobre um criado-mudo. Sentia-se confortável dessa forma.

   Em pouco tempo, uma luz esverdeada foi expelida das mãos da Camila e uma nuvem esmeralda rastejou sobre os ferimentos da escrava. Fábia fez uma expressão de alívio. Tudo estava dando certo. Depois de tanto tempo sem orar para Eusculápio, Camila temia que o deus tivesse lhe dado às costas.

   Sentiu que tinha terminado. Abriu os olhos e viu a mão da cozinheira sem nenhuma marca ou cicatriz. Obrigada, Esculápio, farei preces a você essa noite.

   Fábia estava ofegando, ao mesmo tempo, analisava as mãos com perplexidade.

   — Não sei como agradecer! — disse a cozinheira, com olhos cheios de água.

   — De duas formas. Não contando o que viu aqui a ninguém e fazendo aquele pudim de claras que eu amo!

   — Vou caprichar! — A moça devia ter a mesma idade da Camila, mas não podia ficar mais um minuto ali por causa das suas atribuições.

   Camila passou a mão pelos seus cabelos castanhos e se esticou. Sempre sentia-se bem após curar alguém. Depois, prometeu a si mesma que não faria isso novamente tão cedo. Quando seus pais descobriram que ela tinha essa capacidade, proibiram-na  de usá-la. Mulheres com esse tipo de poder eram recrutadas para serem sacerdotisas.

   E sacerdotisas não conseguiam um bom marido. Nenhum nobre toleraria sua esposa passando o dia trabalhando, ao invés de cuidar da casa ou enfeitar-se para ele. Eles tem razão. Outro dia encontrou uma ex-babá na sarjeta. Simplesmente porque o marido morrera e não deixara um vintém para ela. Uma mulher não podia viver sem um bom partido.

   Panda voltou do corredor piscando aceleradamente e Camila pegou a estatueta de Esculápio e colocou, com cuidado reverente, embaixo da cama. Ilithya surgiu pelas cortinas da entrada em arco do quarto, junto com uma animação incomum, até mesmo para ela.

   — Filha, tenho notícias fantásticas.

   Mais um marido deve ter entrado em cena. Camila sentou-se na cama sem se preocupar em fingir interesse. Mesmo sem dizer nada, a mãe continuou.

   — Sabe quem veio comprar um gladiador novo hoje? Seus antigos colegas de estudo.

   Camila arregalou os olhos até o limite, ficara genuinamente interessada.

   — Tibérius esteve aqui? Ninguém me chamou?

   — E o Vettius também! — completou a mãe — Eles estão no escritório do seu pai, achei que você poderia aparecer, casualmente. — comentou a Ilithya e Camila gostou da ideia.

   Ilithya saiu do quarto e Camila demorou a absorver o que estava acontecendo.

   Hoje era o aniversário de dezoito anos do Vettius, um amigo muito rico e chato, o qual sua mãe queria lhe empurrar para um casamento.

   À noite, Vettius celebraria sua festa e Camila não estava nem um pouco a fim de ir. Não até agora. Ela levantou da cama agitada com um sorriso radiante. Ver o Tibérius seria um sonho.

A Domina e o Centurião - COMPLETOHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin