Capítulo 4

29 4 3
                                    


   Camila andava ao lado do Tiberius, sem interesse algum em ver uma luta de gladiadores, e frustrada. A festa inteira seguiu Vettius para dentro da mansão, qualquer possibilidade de privacidade havia sido descartada, não tinha nem como conversar no meio de tanto falatório.

   A câmara era larga, acima havia um teto solar revelando a noite estrelada, o piso composto por pedras negra polidas e espelhadas, numa parede, havia um espécie de altar de armaduras romanas vestidas em postes de ferro.

   Os convidados aglutinaram-se em volta de um espaço previamente preparado para as lutas. O local fora delimitado por quatro bacias acobreadas que queimavam carvão em seu interior. Vetius pediu passagem para o seu novo campeão. O homem não estava mais acorrentado, sua postura livre o deixava ainda mais alto.

   Dava para ver a marca de queimadura em forma de "V" no braço, o ritual de submissão havia sido realizado. O ferimento era feio demais, Camila achou que o homem deveria ser considerado vencedor apenas por apresentar disposição para lutar com aquele estrago no corpo.

   Pelo menos, Tiberius ainda permaneceu ao seu lado. Lhe parecia surreal estar na presença dele. O rapaz permeou a sua mente nos últimos dois anos e agora podia toca-lo, se quisesse. E ela queria.

   Vettius perguntou por desafiantes e logo um rapaz ansioso resolveu colocar o seu patrocinado na rinha. Um gladiador um pouco mais baixo que o do Vettius se apresentou para o combate. Era careca, tinha cabeça irregular, como uma panela amassada e mal concertada, e bochechas enrugadas, semelhante a casca de maracujá.

   Uma escrava abraçando espadas de madeira surgiu e entregou uma para cada gladiador. Ambos pareciam à vontade, encarando-se como inimigos mortais. Camila ouviu alguns resmungos de convidados pelas armas serem de treino.

   Vettius falou algumas coisas no ouvido do seu escravo e o outro patrocinador fez o mesmo com o seu.

   — O que tanto cochicham? — perguntou Camila para o Tibérius.

   — O que?

   — O que tanto falam pros escravos? — repetiu, quase berrando.

   — Ah, estão fazendo ameaças. É algo como, se apanhar aqui vai apanhar o dobro em casa. — respondeu o Tiberius.

   A luta não demorou muito. O recém-comprado do Vetius recebeu diversos golpes, ganhando vários roxos e luxações pelo corpo. Ele não conseguia evita-los, a queimadura no braço devia estar prejudicando os seus movimentos.

   Se fossem armas de aço, ele já estaria morto. Mas não eram. Em dado momento, o homem do Vetius cansou de apanhar e deu vazão a um ímpeto selvagem. Deixando de lado qualquer etiqueta de combate.

   Agarrou o pescoço do careca, apertou e balançou. Balançou de novo. Balançou novamente. Sacudia a vítima como um cachorro raivoso. Então, o público o batizou.

   — Cão! Cão! Cão!

   Vettius aprovou com uma risada e Camila fez uma careta como se fosse ela a esforçada. O Cão continuou até sua presa não expressar mais reação e ficar amolecida, e um pouco mais além disso.

   — Quer horror! — Camila fechou os olhos e escondeu o rosto no peito do Tiberius.

   Uma salva de palmas explodiu, o careca foi jogado no chão com pescoço roxo e o corpo desconjuntado. Escravos correram para puxar o homem no chão.

   Será que Vétius perceberia se ela e o Tibérius saíssem de fininho?

   Sim, perceberia.

A Domina e o Centurião - COMPLETOWhere stories live. Discover now