Capítulo 6

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   Alguns minutos atrás...

   Marcus arfava, concentrando-se para parar de tremer. O vazio que sempre sentira após uma batalha, transformara-se num abismo, nessas duas semanas em que vivia entre escravos.

   As vezes, segurava a barra da carroça-jaula, fantasiando estar segurando uma espada. Era enloquecedor.

   Sentiu o frio peneirado no rosto. Estava chovendo fininho. Virou para olhar os colegas de cela e se arrependeu na hora, o cheiro de urina e suor tinha tomado o interior do veiculo superlotado.

   Era melhor deixar o rosto virado para o lado de fora mesmo.

   Não tinha ideia quanto tempo demoraria a amanhecer, mas temia pela viagem. Os traficantes estavam com pressa, pois pegaram estrada à noite.

   Estavam por conta de tochas presas na parte frontal da carroça. Se a chuva continuasse, poderiam dar adeus a parca iluminação.

   Malditos incompetentes.

   Foi quando viraram a direita numa bifurcação e um caminho bem iluminado se revelou. Como era uma descida, deu pra ver vários pontinhos de tochas ao longo do caminho sinuoso. Aquilo indicava que estavam próximos de alguma cidade.

   Respirou fundo e sentiu algo familiar. Era maresia. Estavam próximos a orla.

   Será que serei jogado num navio para ser negociado em outro país?

   Ouviu um chicote estalar no lombo dos cavalos, que relincharam em protesto. Colocaram velocidade no veiculo pesado, devem estar próximo do destino.

   Marcus pediu aos deuses que lhe colocassem no caminho de um militar de alta patente, que lhe ajudaria a sair desse merda onde havia se enfiado até o pescoço. Talvez, ainda pudesse ser salvo pela sua reputação.

   Estaria disposto a trabalhar de graça por um ano se fosse necessário. Aceitaria ate voltar a ser um soldado raso, qualquer coisa para sair desse pesadelo.

   Foi quando viu uma carroça nitidamente de luxo viajar em velocidade baixa. Logo se aproximaram.

   Em dado momento, quando estavam emparelhados na estrada, a janelinha da carroça de luxo foi empurrada com força, um rosto saiu de dentro da cortina.

   Um homem de meia idade pôs a cabeça toda pra fora, ergueu até ficar com uma boa parte do corpo no exterior e vomitou.

   O jorro roxo foi direto nos escravos na jaula. Marcus sentiu o liquido espesso e morno cair no seu ombro, com um cheiro azedo de vinho estragado.

   Tentou limpar-se como pode. O cara que estava ao seu lado teve mais azar, foi alvejado no cabelo e uma boa quantidade escorria pela testa e a bochecha.

   Os escravos começaram a xingar e o homem se assustou com o que viu, como ne notasse apenas agora o enorme veiculo. Voltou rapidamente para dentro.

   — Calem a boca! — gritou um dos traficantes lá na frente.

   O escravo com a cara vomitada levou a mão na boca, segurando o próprio vomito, que, inevitavelmente, vazou entre os dedos a mirrada alimentação que tinha feito.

   O interior do veiculo se sacudiu e Marcus achou que ia virar.

   — Para com isso porra, se a gente parar alguém vai morrer! — um dos traficantes bateu na grade de aço com um pedaço de madeira e a confusão arrefeceu.

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   Lucios voltou pra dentro da carroça, com olhos arregalados pelo que acabara de fazer.

A Domina e o Centurião - COMPLETOWhere stories live. Discover now