Capítulo 15

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   Camila atrevessava o corredor após o seu quarto, em direção ao atrio da macieira, o lugar mais belo da sua cara. Estava com medo. Panda avisou que o seu pai a aguardava sob a árvore.

   Poderia qualificar a noite anterior como a mais estranha da sua vida. Uma sucessão de acontecimentos que culminaram com um escravo entre suas pernas, assim como, na briga mais feia que já tivera com a sua mãe.

   Como chefe de família, Lucios tinha autonomia para fazer o que quisesse com os membros da sua casa. Inclusive, poder sobre suas vidas. Claro que o seu pai nunca seria capaz de fazer isso a ela. 

   Mas, dessa vez não seria apenas uma repreensão. Entre dar um sermão e a morte, existia um abismo perturbador de possibilidades.

   A macieira encontrava-se num jardim aberto, cercada por pilastras de mármore, sempre limpas e lichadas para preservar a branquitude. O local do qual Lucios tinha mais orgulho em sua casa.

   Camila foi assaltada pelo cheiro adocicado das maças. A árvore ficava linda nessa época do ano. Inchada de folhas verdes, como uma cabeleira cheia, lotada de bolotas vermelhas suculentas que pesavam, amontoadas, nos galhos rebaixados.

   Viu o Lucios dentro do circulo de grama ao redor da árvore, analisando um fruto enorme na palma da mão. Camila caminhou em sua direção e pisou em cima de folhas secas, denunciando sua aproximação.

   O lanista virou-se para ela. Era o momento da verdade, engoliu em seco e ficou parada, encarando-o.

   — Vem cá minha filha, já viu uma maça desse tamanho?

   Ela não contou. Esperava que a Ilithya, ou algum guarda, tivesse lhe delatado.

   Só então notou que estava tampando a respiração e deu um sorriso refrescado.

   — Nunca pai, nunca — disse ela, dando um passo, tropeçou numa maça no chão, e conseguiu se equilibrar um metro a frente.

   — Cuidado, menima. Você está bem?

   — Estou desastrada hoje, pai. Então, você queria me ver?

   — Então...— 0 lanista passou a mão atrás da cabeça, parecendo encabulado para iniciar um assunto — Tenho uma proposta de casamento para você.

   Camila puxou o ar de susto. Será que ele falou com o Edil?

   — O General acha interessante uma união entre você e o Vettius. Fez uma proposta muito generosa...

   — Pai, não. — respondeu a Camila, antes que ele pudesse terminar. Imaginou apenas agora o pior castigo que ela poderia receber. Seu pai poderia obriga-la a se casar — Por favor, não me obrigue.

   — Que isso, filha. Me ofende em saber que você acha que eu seria capaz de fazer isso.

   Ele aproximou-se e acariciou seu rosto afetuosamente.

   — Você vai casar quando você quiser e com quem você quiser.

   — Quem eu quero talvez não me queira — Camila baixou a cabeça, lembrando do seu encontro com o Tiberius na praça e a complicação do seu retorno a Roma.

   Seus olhos se encheram de água. Notou apenas agora como estava sensível e abalada por ter brigado com a mãe.

   — Sei de quem você está falando. É um ótimo rapaz. Mas, os obstáculos existem para serem superados. Se ele não estiver interessado em superar essa dificuldade, ele não seria um marido a sua altura, afinal.

A Domina e o Centurião - COMPLETOWhere stories live. Discover now