Os dois correram em sua direção com suas espadas curvas.
O mais rápido chegou se precipitando com um golpe em diagonal. Marcus bloqueou com a espada e cravou o machado no meio da cara do homem. Sentiu a arma sendo levada para baixo conforme o corpo caia, deu um puxão estalado.
O segundo chegou pelo flanco direito, tentando acertar sua cabeça, Marcus esquivou, golpeou com a espada de cima para baixo, o pirata deu um salto pra trás evitando o aço.
O gladiador afastou com os pés o cadáver fresco que acumulava sangue e gosma de cabeça no seu caminho e andou em direção ao oponente que fez uma expressão de concentração, enquanto recuava devagar.
Eles lutavam de forma extremamente previsível. Ler o padrão de luta desses homens era como olhar o fundo de um copo de água.
Sabia que o pirata não ia se expor novamente, o seu reforço provavelmente estava chegando.
Avançou abruptamente, se o homem virasse para correr, jogaria o machado nele. A maior vantagem dessa arma, em sua opinião.
Ele não correu. Então Marcus levantou o machado por cima do ombro e largou um ataque pesado. O pirata moveu a espada para coloca-la na direção do machado, a fim de bloquear, e reverter um golpe veloz. Uma espada curva tinha velocidade pra isso.
Marcus soltou a força do machado, deixando a arma ser arremessada para longe. Essa ação inesperada fez o contragolpe do pirata atrasar meio segundo, tempo suficiente para a espada do Centurião afundar no peito do homem.
Eram pequenos detalhes que definiam quem saia com vida no final do combate, e agora ele entendia que o legado da Minerva era entender essas minucias.
O gladiador puxou a espada produzindo um arco de sangue no movimento. Mais dois corpos estendidos.
Sem dar descanso, mais piratas chegaram do lado direito do navio. Atrás desses, outro grupo de características mais ameaçadoras ficou observando. A postura deles lembrava gladiadores.
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Camila encontrava-se sentada com as costas na murada do navio, Tiberius estava ao lado dizendo que um barco estava a caminho e que eles iriam sair desse inferno.
O único mais nervoso que ela era o Vettius. Pálido e agitado, toda hora repetia que ia morrer. Até que seu pai lhe dera um tapa, mandando-o se calar.
Nesse instante, deu pra ver um barco a vela se aproximando do porto Napoles.
— Vejam, o nosso resgate esta chegando! — falou um dos nobres.
— Só precisamos de um pouco mais de tempo, espero que o patrocinado da menina segure eles — comentou outro nobre.
— O patrocinado dela é um Centurião. — disse o General Solonius, com um orgulho militar – Conheço ele. Não cairá facilmente.
Todos ficaram estupefatos pela performace do Marcus ao abater os dois piratas, exceto, Tiberius, que olhava com certa má vontade.
De repente, vários outros bandidos irromperam na praça frontal do navio, se posicionando para cercar o Marcus. Camila levantou-se abruptamente e foi segurada pelo Tiberius.
— Vão matar ele, ele precisa de ajuda!
— Fique na posição, Magnus! — falou um dos nobres para o gladiador caolha.
— Isso mesmo, não saia de perto da gente, Cão. — disse o Vettius.
O último gladiador era do Tiberius e Camila olhou para ele, esperando que o mandasse para a luta.
— Portus, mantenha a posição! — ordenou friamente o filho do Edil.
— Maldito! — Camila o empurrou e correu, logo foi agarrada pelos braços férreos do General — Calma menina, Marcus saberá o que fazer.
A luta recomeçou, quatro piratas correram pra cima do patrocinado da Camila. Ele esquivava e atacava com velocidade, mas parecia um animal acuado.
Evitava um, dois, três golpes em sequência e ainda arrumava fôlego para devolver algum ataque. Todavia, ninguém fora acertado, o coração da Camila doía de tão acelerado.
Quando um inimigo direcionava um ataque, ela arfava e fechava os olhos. Em sua mente, imaginava o Marcus no meio desses cadáveres mutilados. A ideia lhe dava pânico e começava a debater-se. O sentimento de impotência era opressor.
E então, os movimentos do Marcus tornaram-se brutais e precisos.
A lamina passou por um pescoço espirrando sangue, um talho numa barriga, outra garganta cortada, uma espada cravada na perna e puxada pra cima. Assim caiu o quarto, esviscerado como um arenque por um peixeiro.
— Ele parece estar possuído pelo deus dos mortos! — falou o Tiberius.
— Quando se está no inferno, apenas Hades mostra a saída — disse o General.
Os pulmões ardiam de cansaço. Marcus balançou a cabeça para tirar o excesso de sangue que escorria para os olhos, não adiantava passar o braço, estava ainda mais ensopado.
Olhou para trás e notou que o barco de resgate se aproximava. Precisava resistir só mais um pouco.
Um grupo de homens se acumulava a frente. Eles pareciam não se importar nem um pouco com a horda de piratas mortos no convés do cruzeiro.
Não pareciam nem mesmo fazer parte do mesmo bando. Encaravam com uma postura confiante, como se a vitória já estivesse garantida, mesmo depois de verem o que ele acabou de fazer com os seus comparsas.
Deu alguns passos para trás, precisava da ajuda dos outros patrocinados agora. E queria também estar perto da proa quando o resgate chegasse para conseguir fugir com os demais.
E então, uma pessoa chegou, e ele soube que não existia mais futuro para ele.
— Veja só, como o mundo dá voltas. — uma mulher de pele morena passou esbarrando no meio dos comparsas.
— Sônia?
— Bom saber que o traidor ainda lembra o meu nome.
A Sônia, mulher de Heracles, estava com o aspecto de uma guerreira selvagem. Havia músculos em seus braços femininos. Cabelos negros balançavam ao vento e seus olhos ainda mantinham o mesmo furor de antes.
— Esse é o romano que se passou por escravo? — falou um brutamontes com uma espada gigante.
— Esse mesmo! — respondeu a Sonia.
— Deixe-os ir e vingue-se de mim — gritou Marcus.
— Esta se valorizando demais, traidor. Não vim aqui por você. Meu alvo é aquele velho General maldito ali atrás e a filha do lanista. Agora ela não escapa.
— Não vou deixar vocês chegarem perto.
— Mate ele! — ordenou Sônia, o grandão da espada avançou.
O brutamonte deu três passos largos e balançou aquele pedaço de aço gigante que rosnava ao vento. Marcus esquivou. Antes que pudesse atacar veio outro ataque. O homem manuseava aquela aberração como um graveto. Dessa vez o ataque lateral passou rente ao seu corpo.
Sua alma quase saiu do corpo. Essa arma não era a do tipo que dava pra sair com vida depois de ser acertado.
— Juntem-se a ele! — gritou o General e os outros três gladiadores acataram a ordem, mesmo ele não sendo o mestre deles.
— Vamos, o barco chegou! — disse o Tiberius, enquanto arrastava a Camila. Ouviu o estrondo de uma tábua sendo arremessada pelos marinheiros do barco a vela. Ela sabia que se o Marcus não subisse a bordo, nunca mais o veria. Começou a gritar e debater-se.
— Para! Para! Ele vai morrer!
A frente, com a chegada do resgate, os bandidos se agitaram e o grupo de patrocinados tiveram que lidar com uma onda nervosa de ataque.
Algo ocorreu a Camila. Havia sim algo que ela podia fazer. Uma ordem através do seu talismã o compeliria mesmo contra a vontade.
— Marcus, eu ordeno! Fuja comigo, agora! — a joia brilhou e a ordem foi dada.
— Menina idiota, vai matar todos nós. Ele é apenas um escravo — vociferou o General.
Então, ela viu Marcus parar por um instante. Os músculos das costas retesaram, seu pescoço ficou tão tenso que as veias ficaram altas.
Depois, o corpo relaxou, como se tomasse de volta o controle. Virou, olhou diretamente pra ela e esboçou um sorriso suave. Camila ouviu um estalo em seu próprio corpo. O talismã rachou.
Ele tornou a se lançar na batalha. Superando o poder místico da submissão.
— Não! Não! — Camila gritou a ponto de perder a voz. Tiberius caiu com ela dentro do barco de resgate. Ouviu as quedas surdas dos outros nobres, se jogando de qualquer jeito.
O cântico de um sacerdote ressoou atrás, o legado de Poseidon envolveu a embarcação lhe conferindo velocidade. O cruzeiro foi ficando distante e pequeno na medida em que seu coração se enchia num mar de angustia.