A Domina e o Centurião - COMP...

Av luclycan

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Na sociedade romana, a cultura de gladiadores chegou em outro patamar. Todo mundo agora patrocina um gladiado... Mer

Capítulo 1 - Parte 1
Capítulo 1 - Parte 2
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39

Capítulo 9

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Av luclycan

   Camila pisou na areia segurando uma espada e um escudo. O sol agredia a vista e a boca estava seca. Do portão, no outro lado, saiu um gladiador gigante. O Degolador.

   Tinha o mesmo sorriso cínico, a mesma ganância por morte. Camila sentiu seu escudo pesado demais, era inútil. O demônio não teve piedade.

   Cravou a espada em sua barriga e ela caiu de joelhos. O suor escorria do pescoço e sangue da barriga, areia sendo pintada de vermelho. Segurou o liquido escarlate como se pudesse conter sua evasão. A única cor nesse mundo cinza

   Quando olhou para a plataforma, o mediador estava obscurecido, com apenas o polegar a luz. Sua vida acabaria assim. Ao olhar de um público que saudava a morte com gritos e pulos de alegria.

   O gladiador elevou a espada com a satisfação de um carrasco. Um pânico sufocante lhe oprimiu e fechou sua garganta. Nem gritar ela conseguia. Um pouco antes do aço a tocar, viu o rosto do mediador na plataforma.

   Era ela mesma, como um reflexo distorcido num espelho.

   Acordou no seu quarto, suada e ofegante. Mesmo depois de dois dias aquilo ainda mexia com a sua mente.

   Olhou em volta e respirou fundo. O odor familiar dos incensos aromáticos a acalmou. Antes de dormir, sempre pedia para uma escrava acender algum.

   Sentou na cama, só para assustar-se novamente com a Panda, que surgiu de um canto sem fazer barulho. A escrava segurava uma bandeja com o café da manha. Camila pediu um copo de água.

   Panda colocou a bandeja numa mesa no canto, pegou uma das pequenas ânforas de barro e encheu um copo de vidro.

   Bebeu um longo gole e olhou para a escrava. A moça de pele morena tinha a sua idade e já a servia pessoalmente há alguns anos.

   — Então, como foi o encontro na arena? — perguntou Panda, ansiosa.

   — Vou disputar uma noite num cruzeiro com o Tiberius. — respondeu Camila, sonolenta.

   — Disputar? — indagou Panda, franzindo as sombrancelhas

   Camila explicou tudo o que houve. Inclusive sua recente entrada ao mundo da patronagem de gladiadores.

   — Mas que filhotinho de cobra a senhorita Lucille se relevou, hein.

   — Acho que o Edil prefere ela como nora. — Camila resmungou, jogando-se de costas na cama  — Também, o pai da Lucille é um político importante, ela é um partido melhor.

   — Partido melhor? Depois do escândalo que ela passou ano passado?

   Lucille fora flagrada transando com um militar, pelo menos dez anos mais velho, numa comemoração na casa dos pais. A coisa piorou muito porque a mãe dela era uma mulherzinha histérica que fez um escândalo na hora.

   — Eu fui a única que apoiou ela na época — Camila sempre teve medo de ser exposta dessa forma. A sociedade moralista podia ser cruel quando queria. Por isso, se compadeceu muito com o que ela estava passando.

   — O seu gladiador é bonito? — perguntou Panda, com malícia na voz.

   — Nem reparei — mentiu a Camila.

   — Eu não me aguento quando passo na arena e vejo aqueles deuses treinando. — Panda abanou-se com a mão — Já viu o Flamma?

   — Claro que sim, ele é o campeão do ludos. Mas, eu só tenho olhos para o Tiberius.

   — Compre outros olhos, minha querida, você precisa aproveitar mais a paisagem.

   Camila deu uma risada.

   — Meu pai já acordou, Panda?

   — Acordou assim que amanheceu.

   — Já faz muito tempo isso? — perguntou, levantando uma sobrancelha.

   — Um pouco! — respondeu Panda, com um sorriso.

   — Por Juno, tenho que me apressar! — levantou, espreguiçando-se. Havia marcado com o pai a realização do ritual de submissão do seu novo gladiador nessa manhã.

   Foi até a mesa, encheu um copo com suco de laranja, sem tocar na broa de milho.

   — Separa uma roupa pra mim, Panda. — deu um gole — Pode ser qualquer uma.

   O néctar avivou sua fome e ela tirou um naco de pão e deu uma mordida com vontade. Pensou em rasgar mais um, mas conteve a gula.

   Passou um lenço na boca e levantou-se para ver o vestido que tinha sido retirado do armário. Panda voltou erguendo a roupa. Azul clarinho. Separou algumas pulseiras, nada de grande valor, afinal, iria apenas na escola de gladiadores.

   A barriga da Panda soltou um sonoro aviso de fome.

   — Desculpe — falou a escrava, envergonhada, abaixando a cabeça.

   — Você sabe que não precisa se acanhar comigo — Camila disse, com um sorriso afável — pode comer a broa.

   Enquanto Panda comia, Camila tomou um banho rápido na banheira que já estava aquecida. Passou um óleo aromático no corpo e por fim, pediu para Panda lhe trazer a bacia com o preparado de ervas e bicarbonato de sódio para cuidar dos dentes.

   Saiu do quarto com a intenção de ir direto para o escritório do pai, onde ultimamente ele passava a maior parte do tempo. Lucios parecia sempre preocupado, mas nunca fora o tipo de pessoa que dividia os problemas.

   — Bom dia filha! — falou a mãe, quando estava passando pelo corredor.

   Camila respondeu a saudação num tom preguiçoso.

   Ilithya estava com um vestido vermelho brilhoso, caro. Moldava o corpo como uma segunda pele e ostentava um colar de perolas negras. Apenas para ficar em casa regando as plantas.

   Não é para menos que o meu pai anda tão preocupado, ela queima tudo com futilidades.

   — Venha cá minha filha — falou a mãe — Deixa eu ver como você está.

   — Estou atrasada, mãe.

   Ignorando, Ilithya começou a inspeciona-la.

   — Está linda filha, mas como tem coragem de sair de casa sem uma cor nesse rosto? — falou, puxando-a para o salão da casa e parando em frente a uma penteadeira e um espelho oval.

   — O papai já deve estar esperando — falou em protesto.

   — Ele esta fazendo contas no escritório, é o que os homens fazem — Ilithya abriu a primeira gaveta — E a gente se embeleza para que eles parem e olhem para gente.

   Camila gostava de arrumar-se e parecer bonita, como toda jovem de dezoito anos, porém, sua mãe adotava isso como um estilo de vida.

   Do interior de uma gaveta, Ilithya pegou um pote oval, esfregou pó de giz na mão e começou a passar no rosto da Camila.

   — Você não quer que o Tiberius a veja bonita?

   — Claro que eu quero, mas não vou me encontrar com ele hoje.

   Após algumas esfregadas e retoques, Ilithya deu um passo para trás para analisar melhor o espelho. Deu um sorriso de aprovação.

   — Quem disse que não?

   — Não marquei nada com ele.

   — Soube que ele vai aparecer hoje — A mãe falou, arrumando o decote do vestido para que ficasse um pouco mais expositivo.

   Aquilo tinha sido inesperado. Realmente precisava ter se arrumado melhor.

   — Conversei com o seu pai sobre um possível noivado. Acho que ele gostou da ideia. O Edil é um grande amigo. — falou casualmente, enquanto passava um pente de madeira no longo cabelo castanho da Camila.

   — Serio? Ninguém falou nada comigo.

   — Não era isso que você queria? — disse a Ilithya, tirando colar do próprio pescoço e pendurava no dela — Mas, se o rapaz não demonstrar interesse, seu pai não poderá começar essa conversa. Ia parecer desespero. Não faria bem para a sua imagem.

   Camila assustou-se com a velocidade das coisas, de fato, era o que ela queria. Se permitiu ficar feliz. O problema era que não tinha ideia como acompanhar esse ritmo frenético da mãe.

   — Eu não sou como você. Não sei como fazer isso.

   — Claro que não é — Ilithya deu outra penteada — É muito mais bonita.

   Abriu a boca para dizer algo, a mãe interrompeu.

   — A primeira coisa que você precisa fazer é sorrir mais, a segunda, é instiga-lo.

   Lembrou da briga que seu pai teve com a sua mãe na noite da festa. Essas tendências dela não acabavam bem.

   — Veja bem — continuou a Ilithya — Os homens gostam de ter o ego massageado. Não existe nada que os faça se sentir melhor do que ouvir o próprio nome.

   — Não entendi.

   — Quando ele disser algo engraçado ou te presentear, diga o nome dele como se tivesse tendo um orgasmo. Faça isso poucas vezes. Se não ele vai achar que você é uma puta.

   Camila fez uma cara de "como assim?".

   — Ah Tibeeerius — Ilithya fingiu um gemido e depois deu uma risada — Ele vai lembrar da sua voz por um bom tempo, em outros contextos.

   Camila corou, em seguida, começou a rir, olhando para o lado para ver se o pai estava escutando.

   — Não se preocupe. Os homens gritam e esbravejam como crianças. O verdadeiro poder esta no meio das suas coxas.

   Ultimamente sua mãe estava impossível. Ilithya parecia uma cobra ensinando uma cobrinha a inchar e cuspir veneno.

   Não podia negar, estava adorando aquilo.

   — Olha o tamanho dele, a medida certa para chupar o meu pau!

   Foi a primeira coisa que Marcus ouviu ao pisar na escola de gladiadores. Não podia nem reagir, pois ainda estava mantendo a mentira que não entendia latim.

   Havia um grande número de gladiadores soltos numa arena retangular. Eram de diversas etnias. A grande maioria samnitas, havia também, gauleses, alemães, trácios, ceutas, gregos, e alguns exóticos, provenientes de Cartago, como pôde notar. Sabia diferencia-los, passara anos capturando bárbaros dessas nacionalidades.

   Se tivesse o azar de encontrar um grupo que ele prendera, seria a sua ruina. Mais um motivo para ocultar a identidade.

   Todos o ignoravam ou o olhavam com hostilidade. Os hostis mostravam isso dando cuspes no chão ao passar na sua frente. Percebeu que eles faziam isso apenas porque ele era novato.

   A pequena arena de treinos era cercada por uma arquibancada de cimento. Havia quatro escadas que davam num segundo andar, onde encontrava-se um corredor com um parapeito de ferro.

   Ao longo desse corredor, dava para ver várias portas de madeira. Pelo que entendeu, eram as celas dos gladiadores.

   O sol era de rachar e o Doctore, o homem responsável pelo treinamento, deu gritos a plenos pulmões, avisando que em quinze minutos começaria os treinos daquela tarde.

   Era um homem velho, na casa dos cinquenta. Careca e moreno. Ostentava diversas cicatrizes rosas em ambos os braços e usava uma armadura de couro puída, carregando sempre um chicote na cintura. A arma que mais gostava de usar no lombo dos escravos.

   Vários gladiadores correram na direção de uma construção a parte. Parecia ser um vestiário, já que alguns saiam lá de dentro encharcados.

   Marcus resolveu visitar o lugar. Se era permitido molhar o corpo antes das atividades, por que não faze-lo?

   Era mesmo um vestiário. Havia dezenas de boxes fechados por muros paralelos e abertos na frente. A câmara era cortada no meio por um banco longo de pedra preso ao chão.

   Do lado direito do banco, os boxes continham buracos de latrina no chão. O cheiro que saia dali era abissal.

   Já no outro lado, havia buracos altos na parede, pelos quais saiam água. Alguns com potência, outros não mais do que um esguicho preguiçoso.

   O lugar estava cheio. Gladiadores conversavam, defecavam, mijavam, se banhavam.

   Teve sorte de achar um lugar desocupado, com uma boa saída de água e entrou para se refrescar. Água gelada caiu no seu corpo como um bálsamo dos deuses. Foi o primeiro alívio que sentira desde que entrou nesse lugar maldito.

    Logo descobriu que tratava-se de uma armadilha.

   Um saminita enorme se colocou na saída do nicho onde Marcus se encontrava.

   — Esse lugar é meu!

   Marcus praguejou internamente. O fato de fingir ignorância na língua estava lhe trazendo mais prejuízos que benefícios. Não podia nem argumentar.

   Levantou as mãos como sinal de quem não queria briga e foi se retirando, mas o samnita não saiu da frente.

   — Usou, agora vai ter que pagar — disse o Saminita, apontando para o próprio pau, enquanto já desamarrava a lateral da tanga. — Chupa meu pau até eu gozar.

   Marcus fechou a cara e balançou a cabeça negativamente.

   Não adiantou de nada. Ali, não existia patente ou disciplina. Era a lei do mais forte, e o fato do gladiador ser umas três cabeças acima do Centurião, mostrava quem era superior naquele momento.

   Isso tem que ser resolvido agora, ou minha vida no ludus vai ser um inferno.

   Quando o samnita avançou para colocar a mão na cabeça do Marcus, o legionário desferiu um soco em sua garganta com o máximo de força que conseguiu naquele espaço restrito.

   Em seguida, lançou a sola do pé na boca do estomago do grandalhão, que nem tinha se recuperado do primeiro golpe e dobrou sem ar.

   Agarrou o homem pelo pescoço e se jogou para frente, conduzindo-o a beijar o banco largo através do seu peso.

   A pancada foi menos violenta do que Marcus esperava, mas foi suficiente para quebrar os dois dentes superiores da frente do homem. O samnita, vertendo sangue pela boca, avançou com loucura nos olhos.

   — Para com isso, irmão!

   Foi uma voz branda, porém cheia de autoridade, de um gladiador que estava mijando de costas. O samnita parou, bufando. — Eu vou matar esse desgraçado!

   A ordem veio de um homem de estatura média, cabelos longos loiros e costas musculosas. Ele estava mijando na hora e virou-se esfregando a mão suja na parede.

   — Guarde sua energia para a arena, seu idiota. Você queria enrabar o homem, teve o que mereceu.

   — Queria que ele chupasse meu pau.

   — Pior ainda. Quem vai querer colocar a boca nessa minhoquinha de pus.

   — Flamma! Não se meta aqui!

   — Vai querer brigar comigo também, Miroc?

   O samnita olhou, parecendo considerar as opções. Depois saiu xingando, esbarrando em todos no caminho. Marcus ficou olhando o Flamma. Ele claramente tinha o respeito de todos ali. Não devia ser qualquer um. Só não entendeu por que o ajudou.

   — Só venho aqui mijar e cagar, porque não quero meu quarto fedendo e sempre encontro essas merdas. Nem parecem meus irmãos! Pelo menos tenham a decência de brigar quando eu não tiver perto, não quero ser punido junto com vocês.

   Então era isso. Flamma saiu do vestiário logo em seguida. Esse gladiador ganhou a sua curiosidade.

   O escritório do pai da Camila marcava onde terminava a propriedade da casa e começava a escola de gladiadores.

   Ele não gostava que ela ultrapassasse e entrasse nos limites da escola. Por isso, Camila quase nunca fazia isso.

   No entanto, agora ele seria obrigado a tolerar a sua entrada, pois também era uma domina. Pelo menos, até cumprir o seu objetivo, que era vencer o gladiador da Lucille na festa. Depois, entregaria o gladiador para a escola ou até mesmo lhe daria a liberdade. Esse tipo de coisa não a interessava.

   O mesmo sacerdote careca que viu na festa do Vettius estava no escritório. A sacerdotisa que tinha visto colocar uma praga num homem não tinha vindo.

   Seu pai abriu a porta dupla, pintada de ouro, e os três seguiram pelo corredor a frente. Até esse ponto, Camila já tinha ido diversas vezes. Pois, no meio desse caminho havia um salão de reuniões e festas, no qual já participara de diversos eventos.

   Nesse mesmo salão, sua mãe realizava cultos mensais a deusa da lua. Nem ela e nem o seu pai participavam.

   Camila nunca se interessou, pois escolhera o Euscalápio como o seu deus pessoal logo quando começou a estudar. Realizava suas rezas para a sua modesta imagem de marmore secretamente em seu quarto.

   A frente, a luz do sol forte marcava a passagem que dava para a área externa, onde ficavam os gladiadores.

   Pensou sobre o ritual. Não se sentia confortável em usar poder divino para obrigar a obediência de um escravo. Mas seu pai nunca a deixaria ter um patrocinado sem a segurança da submissão.

   Ao passar pela arcada da saída, foi ofuscada pelo sol. A arena da escola se estendia abaixo. Era menor do que se lembrava. Dali que saiam os urros e berros de homens lutando, que ouvia do quintal da sua casa.

   Seu pai fez um aceno e lá de baixo veio correndo o Petrôneo.

   — Senhor Lucios! — Petrôneo balançou a cabeça em saudação e iluminou um sorriso quando a viu – A Senhorita cresceu!

   Camila devolveu o sorriso, fazia tempo que não o via. Adorava esse homem. Petrôneo era um ex-gladiador que fazia o papel de patrocinado do seu pai antes de assumir o cargo de Doctore do ludus.

   Por conta disso, sempre a acompanhava quando era criança, nos passeios na praça com o pai. Era uma espécie de tio que nunca teve, já que nem o seu pai e nem a sua mãe possuíam irmãos.

   — Já levei o novato para o refeitório. Esta pronto para o ritual. — disse o Doctore.

   — Então, podemos ir, vamos acabar logo com isso, tenho muito o que fazer hoje. — disse o lanista.

   E Camila também tinha. Tiberius poderia chegar a qualquer momento ao ludus. Desceram a escada e pisaram na areia da arena. Todos os gladiadores viraram para olhar a Camila.

   — Perderam alguma coisa aqui? — disparou o pai, e todos voltaram a se concentrar em suas tarefas.

   Alguns corriam em volta da arena. Outros golpeavam postes com espadas de madeira ou trocavam golpes em pares.

   O sol estava agressivo demais, podia ver a careca do sacerdote brilhando de suor. Não imaginava a quantidade de calor que esse homem sentia sobre essa túnica preta e grossa.

   Havia vários portões e entradas na parte interna da arena. Todos entraram num aposento que ficava no meio do campo de treino. Era um refeitório. O lugar era preenchido por mesas e bancos longos, ao fundo, havia uma cozinha fechada por grades.
Era fascinante como a escola se assemelhava a uma casa gigante, sendo os gladiadores os seus moradores. Encontrou o seu patrocinado sentado, no ultimo banco, cercado por três guardas, todos com a mão no cabo de suas espadas.

   Para o seu espanto, o escravo estava desfrutando de uma caneca de vinho. Um guarda segurava um garrafão de barro ao lado. Pelo menos o estavam tratando bem.

   — Dão vinho para ele? — comentou a Camila.

   — Ele vai precisar — respondeu o pai, soturno.

   Quando os guardas notaram a presença deles, puxaram violentamente a caneca da mão gladiador e ordenou que esse levantasse.

   — Senhorita Camila. — disse o sacerdote, com uma voz estranhamente rouca – Iremos precisar do seu sangue.

   — Não fure fundo demais. — disse Lucios.

   — É só uma picada — respondeu o sacerdote.

   — O que esta havendo, pai?

   — Ele precisa de uma gota do seu sangue para realizar a ligação.

   O sarcerdote tirou de dentro da túnica um punhal dourado brilhoso, com o cabo num formato de uma pena.

   — Me da a sua mão!

   Camila ficou receosa e Petrôneo deu um passo.

   — Não precisa ficar com medo senhorita, se o sacerdote tirar mais do que uma gota sua, ele perdera muitas da dele.

   — Isso foi desnecessário — disse o sacerdote ao ouvir a ameaça. Camila pôs a sua mão sobre a dele. O homem tinha dedos macios e enrugados.

   Ele segurou o dedo indicador dela e usou a ponta da adaga para espetar de leve. Camila fez uma careta, mas pela situação estranha do que pela dor. O sacerdote fechou os olhos e começou a balbuciar os lábios, sem emitir sons.

   Nesse mesmo instante, Camila notou um clarão saindo da cozinha. Virou e viu um ferro, do tipo que marcava bois, com a letra "C" incandescente na ponta.

   O seu patrocinado se remexeu e os três guardas o agarraram. Camila sentiu pena dele. A simples ideia daquilo em sua pele lhe fez estremecer.

   — Venha rápido! — disse o sacerdote, aproximando a Camila do cozinheiro que segurava o ferro.

   O sacerdote ergueu a mão dela acima do objeto brilhante e apertou seu dedo. Sentiu um calor estupido saindo daquele atiçador.

   Uma gota de sangue caiu, viajou pelo ar até o ferro, fazendo um chiado de evaporação. Ela notou uma energia roxa cintilar numa onda através da inicial do seu nome.

   — Pronto, marquem ele. — disse o sacerdote.

   Marcus estava sendo segurado com muita força. O cozinheiro se aproximou e, sem cerimonias, pressionou a ferramenta em brasas em seu peito esquerdo. A dor a seguir quase o fez desmaiar.

   O chiado em sua carne era similar a quando um ferreiro esfriava ferro quente num barril de água.

   A dor era abissal. Logo as lagrimas desceram fartas pelo rosto. Os guardas começaram a rir. Os segundos mais demorados de toda a sua vida. A pele borbulhava e seu musculo inchou, abraçando o ferro.

   Olhou para os rostos sérios de todos que estavam assistindo. Expressões duras como mascaras, exceto pela sua domina. A jovem estava com olhos brilhando. Chorando?

   Sentiu o cheiro da própria carne queimada entrar pelas narinas. Rangeu os dentes, viu o mundo girar ao redor.

   Quandoo ferro foi retirado, sua cabeça pendeu pra baixo. Respirando em haustoscurtos. Se não estivesse sendo segurado, teria ido ao chão.

Fortsett å les

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