7 anos atrás.
Os meus olhos cansados leram a mensagem que eu acabara de receber e logo já estava desperta.
Precisamos conversar, estou online te esperando.
Chutei o lençol enroscado nas pernas e me levantei do colchão, tateando a parede até encontrar o interruptor e acender a luz do quarto. Caminhei até o pequeno espaço entre a porta e a janela em frente à cama, e me sentei na cadeira em frente à escrivaninha.
Então liguei o notebook, forçando-me a abrir as pálpebras semicerradas por conta da claridade depois de já ter me acostumado ao escuro.
O alarme avisando sobre a chegada da mensagem havia me acordado e, ao conferir as horas, percebi ser pouco mais que uma da manhã.
Esfreguei os olhos e preenchi os pulmões ao limite, preparando-me para a ligação que estava prestes a fazer. A sua voz hesitante ressoou alta pelo ambiente silencioso após o primeiro toque e logo em seguida a sua imagem apareceu na tela.
Olhos inchados e avermelhados me encaravam e eu soube naquele instante que ela estivera chorando.
— Lena...
— O que aconteceu, Lana? — a resignação se fez ouvir em meu tom de voz.
E vendo a dor em suas feições eu quis atravessar o monitor para estar lá com ela.
Ela soltou o ar pelos lábios trêmulos e fungou, deslizando as costas da mão no nariz.
— Eu... — Desviou o olhar para o lado
— Você sabe que o meu maior sonho é ser modelo, não sabe? Sabe o quanto eu amo o meu trabalho...
Eu sabia, pois a grandiosidade do seu sonho se comparava com o meu, E o meu maior sonho era ela.
Eu sonhava em ter uma família com ela, e estava sendo difícil aguardar tanto pelo momento perfeito. Se dependesse de mim eu já a teria pedido em casamento.
Não me importava a distância entre nós, sabia que tinha um emprego certo nos negócios da família, eu ainda não estava a frente da empresa, mas quando eu estivesse eu poderia expandi-los para qualquer lugar… Se ela decidisse continuar em Nova York, eu não me importaria de me mudar para lá.
— Eu sei, amor — confirmei, franzindo a testa com a minha preocupação evidente
— Por que está chorando, minha flor? — Levei a ponta do dedo para lágrima que acabara de escapulir em seu olho, chocando-o contra a tela.
— Lena, eu... — soluçou — preciso saber que você entende, de verdade. Entende que eu faria de tudo ao meu alcance para não desistir do meu sonho. As coisas finalmente começaram a dar certo para mim, muitas portas estão se abrindo e... — outro arfar e mais lágrimas deslizando pelas bochechas coradas
— Eu não posso...
As palavras proferidas de seus lábios rubros eram como espinhos, elas se cravaram profundas e dolorosas em meu peito.
Elas soavam muito como o fim.
No entanto, fiz a pergunta, esperando fodidamente que eu estivesse errada.
— Você não pode o quê?
Sua expressão se contraiu em dor e inspirando fundo ela disse:
— Eu não... — Balançou a cabeça profusamente.
— Lena, eu não voltarei para o Natal. Cancelei as passagens e...
Meus pés batucavam céleres ao chão no mesmo ritmo frenético do meu coração. Abri a boca para falar, mas ela foi mais rápida e continuou.
— Por favor, me diga que você entende!
Cerrei os olhos com força, afundando as mãos nos cabelos e ficando as unhas no coro cabeludo.
— Entendo, Lana — assoprei fracamente.
Não seria a primeira vez que ela cancelava uma viagem, mas como eu disse, eu entendia a importância de sua carreira e como era difícil conseguir oportunidades diante de tanta concorrência.
— Promete? — perguntou em um sorriso trépido e molhado. Assenti, atordoada demais para produzir palavras.
— Ótimo... — assentiu de volta, seu olhar perdido me dizia que estava pensando
— Então precisamos conversar.
Uni as sobrancelhas, pendendo a cabeça para o lado.
— Pensei que essa fosse a conversa. Tem mais? — engasguei estarrecida.
Lana inspirou fundo e colocou sua franja solta para atrás das orelhas.
— Será... — hesitou, suas íris reluziam enquanto estudavam minha reação
— Será que você poderia vir aqui o quanto antes?
Preciso te contar uma coisa. Eu achei que conseguiria fazer isso sozinha, mas não posso...
[...]
Faltando dois dias para a véspera de Natal foi complicado conseguir um vôo de última hora. Mas lá estava eu, apesar do gelo que a sam estava me dando e das reclamações dos meus pais quando souberam que eu não iria mais comparecer à ceia.
Eu tentava me comunicar com Lana, mas o seu número estava caindo na caixa postal. O vento gélido lambeu meu rosto tão logo saí do táxi, fazendo o meu corpo estremecer. Maldizendo o frio eu corri em direção à portaria do prédio, e suspirei em alívio ao ser abrigada pelo ambiente aquecido.
Era tarde da madrugada e, quando Lana abriu a porta para eu entrar, levou-me pela mão até a cama e voltou a dormir. Deixando assim a conversa para depois.
Na manhã seguinte, porém, ela saiu para um ensaio fotográfico junto com Sasha e avisou que só voltaria de tarde.
Sozinha no apartamento eu preparei a pequena mesa e, no improviso, pedi entrega de um restaurante italiano para o jantar. Escolhi uma variedade de massas acompanhadas de uma boa garrafa de vinho. Seria nossa simplória ceia particular. Já que eu não sabia quais eram os seus planos para o Natal, decidi comemorar com Lana naquela noite.
Esperava que Sasha nos deixasse a sós ao menos por algumas horas. Eu tinha certeza de que, seja lá o que Lana queria me dizer, Sasha já sabia. Então, tirei vantagem da situação, e a enviei uma mensagem pedindo que nos desse um tempo.
Aguardei ansiosa e, quando a vi atravessando a porta da sala, levantei-me da cadeira e a recebi com um beijo. Ela estava tensa em meus braços, por isso descolei nossos lábios e a fitei nos olhos, encontrando-os marejados.
— Lana, você está me deixando preocupada... — Segurei seu rosto com cuidado
— O que está acontecendo?
Ela desviou o olhar, notando pela primeira vez o jantar à luz de velas.
— Lena — tapou a boca com uma mão, abafando a sua voz
— Por que fez isso tudo?
— Porque eu quis um momento especial com a minha garota — disse em um sussurro, beijando o canto da sua boca. Ela voltou sua atenção para mim com um sorriso triste, então se soltou.
— Você me ama, certo? — perguntou com lágrimas nos olhos.
— Ainda acredita nos meus sonhos e sabe o quanto são importantes para mim?
— Você sabe que sim, Lana. — franzi o cenho. Ela já havia me perguntado aquilo antes de eu vir para cá.
Lana se afastou, meneando a cabeça copiosamente. Como se estivesse pensando e organizando as próximas palavras a serem ditas.
— Lena, eu... — exalou pelos lábios trêmulos
— estou grávida.
Meu coração deu uma guinada no peito, então meus olhos desceram do seu rosto até a barriga lisa.
— De verdade? — perguntei atônita, sentindo os músculos do das minhas bochechas se contraírem. Eu estava sorrindo.
— Sim — soltou em um suspiro longo.
— Lana, isso é... — Aproximei-me dela, circundando sua cintura e me ajoelhando
— maravilhoso!
— O quê? — Segurou-me pelos ombros e me empurrou.
— Lena, não! Eu não posso...
— Como assim não pode? — perguntei confusa, sentindo o coração apertar com o seu tom de voz.
— Eu não posso ter isso — respondeu ao tocar a própria barriga.
— Não entende? Isso acabaria com minha carreira, Lena — choramingou, voltando a me empurrar até que eu a soltasse.
— Lana, por favor, não fale assim, não é "isso".. é nosso filho — pedi com lágrimas borrando minha visão e apalpando desesperado o meu bolso à procura da caixinha.
— Tudo vai dar certo, minha flor. A gente se casa, e eu cuido de você... Cuido do nosso bebê. Você pode voltar a trabalhar depois que ele nascer…
Tirei a caixinha do bolso e, ainda ajoelhada, revelei o anel, Lana balançava a cabeça enquanto chorava, mas, ao ver o anel de diamante, arfou alto e cobriu a boca com ambas as mãos.
— Eu te amo, Lana — engoli o nó da garganta e continuei
— Eu sempre apoiarei os seus sonhos, mas me permita realizar os meus também. Permita-me ter uma família com você, permita-me ser mãe. Vamos realizar os nossos sonhos juntas, amor.
Ela soluçava em meio às lágrimas. Segurei na mão dela e depositei o anel na sua palma, aguardando por uma reação. Esperando por sua resposta. E, quando ela o deslizou por seu dedo, pude respirar de novo.
— Eu te amo — eu disse sorrindo.
Ela desgrudou os olhos do anel ao ouvir a minha voz e me olhou.
— T-também — respondeu aos soluços.
Levantei-me num rompante e a ergui nos braços, distribuindo beijos por seu rosto molhado.