— Eu não aguento mais - falou Bruno segurando a barriga de tanto rir. - Fala de novo, para eu ver se eu entendi.
— Eu vou me casar com Janete - Antônio revirou os olhos, ao ouvir outra gargalhada do amigo de faculdade.
Bruno sempre fora o seu braço direito, estava ao seu lado quando saiu da casa do pais e começou o emprego. Moreno, de olhos pretos e magro, comparado a Antônio, sempre tinha uma palavra amiga, porém dessa vez, não parava de rir do amigo.
— Se ferrou de verde e amarelo, Tonho! - outra risada veio.
Antônio passou por trás dele e lhe deu um tapa na cabeça, mesmo assim não parava de rir. Boêmio como Antônio, sua garra e fama era lendária no Campus da faculdade. Boa parte do que Antônio fazia aprendera com ele, mas esse fazia escondido, por isso Janete aceitou o namoro. Ninguém sabia da metade do ele fazia.
— Pode parar. Você não está ajudando... - Antônio lhe deu uma cerveja enquanto na televisão passava o jogo de futebol, daquele domingo. Era sagrado verem juntos.
— Calma rapá, eu posso te ajudar. - Bruno parou para respirar.
— Como? Ela está grávida! Grávida, Bruno. Não sei como isso aconteceu...
— Se não sabe, então você não é o pai - Bruno bebeu um gole da cerveja no gargalhou da garrafa de vidro.
— Vai te catar! Você entendeu o que eu disse. - Antônio irritado por ser motivo de riso, explodiu.
— Claro, Brô! Eu entendi. Mas agora que aconteceu não tem jeito. Terá que casar! - o time do coração fez um gol, fazendo os dois darem um pulo do sofá e baterem as mãos no ar.
— E se você me desse aquele chá? Aquele que sua tia faz.
— Janete não vai tomar. Carola do jeito que é, nem adianta você tentar. - eles sentaram novamente vendo o jogo desenrolar. - Se fosse o broto, ela tomaria.
— Nem me fale em Marina. Falei com ela e ela me desafiou. - Antônio passou a mão na cabeça.
— Imagino, aquela é osso duro de roer. Ela te desafiou a quê?
— A ser fiel.
Bruno não aguentou e dessa vez rolou no chão de tanto rir. Aquela era uma situação que ele queria ver, Antônio sendo fiel a Janete. Com suas aventuras frescas na mente, lembrava que Antônio não ficou nem seis meses fiel a namorada. Ainda não entendia porque ele a escolhera mas já que estavam juntos, respeitava a menina, mesmo sendo linda demais para o seu amigo e não merecer metade do que ele faria.
— Agora Tonho, não posso te defender. E estou do lado dela, farei uma aposta.
— Que tipo de aposta?
— Quanto tempo você vai conseguir se manter fiel. - Bruno segurou o ombro do amigo e gargalhou mais uma vez.
....
O jantar fora marcado para aquela sexta, às oito da noite, por a hora da janta. Antônio falará ao seu amigo que não poderia sair porque perdida a mão de Janete ao Seu Pedro. Após ouvir mais uma gargalhada e ser motivo de chacota para os colegas de farra, ele passou na joalheria com o dinheiro que pegara no banco.
Esperava ser o suficiente para comprar um anel adequado, mas os preços eram um absurdo. Mesmo assim, optou por um com uma pequena pedra de brilhante em cima do dourado. Singelo e simples, parecido com a Janete.
Riu ao ver a moça embalando a caixinha vermelha de veludo, depois dela suspirar. Aquela era uma conhecida da noite e vê-lo ali foi uma surpresa, vendo a compra ela se assustou. Mas assentiu.
— Só queria que você soubesse - ela deu uma pausa e olhou em volta. Vendo que estavam sozinhos no balcão continuou. - Que você foi o melhor da minha vida!
Antônio pegou a sua mão e a beijou, a moça fechou os olhos e sentiu o toque de carinho em sua pele. Não teria mais aquilo, ele iria se casar.
— Eu também não tenho o que reclamar - ele virou sua mão e beijou a palma, sinal de intimidade. Depois virou as costas e saiu da loja.
Deixou para trás a vida boêmia e a moça, que não lembrava o nome. Aquela noite fora uma das mais loucas que tivera. Além dela ficará com mais duas, separadas obviamente.
Foi para casa se arrumar. Em frente ao espelho de madeira e do tamanho ideal, ele vestiu a camisa de botão branca e uma calça cinza. Gostou do que viu ao tirar o pente preto do bolso e pentear o cabelo para trás. O sapato lustrado fazia barulho na calçada e chegou rápido a casa de Janete.
Abriu o portão branco e pequeno para bater na porta.
— Que bom que você chegou - falou Janete urgente, puxando-o para dentro. - Passou perfume?
— O que aconteceu? - falou junto com ela fazendo os dois rirem. - Não era para passar, está demais?
— Não. Está ótimo e lindo como sempre. Só atrasado.
Uma coisa que o sogro não gostava era de atrasos. Então andaram apressados pela sala até chegarem na mesa do jantar. Seu Pedro já estava sentado com Dona Julita.
— Boa noite. Perdão pelo atraso. - falou Antônio se sentando na cadeira ao lado de Janete.
— Faça a oração Julita. - foi a única fala de Pedro, que fechou os olhos e ouviu a esposa com atenção.
Após a oração, todos começaram a jantar o delicioso cozinho de Julita. Os pratos de louça pintados a mão preparava Antônio para o que vinha seguir. Não era qualquer ocasião, já jantara lá e não usou esse prato. Janete contou a mãe com certeza. Após a sobremesa, pudim de leite feito por Janete, todos esperavam a sua fala. Assim, a mesa ficou em um silêncio incômodo.
— Então, rapaz. Quer me falar alguma coisa? - Antônio engoliu a seco ao ouvir seu sogro, podia ver um fio de suor escorrendo em sua face. Janete pegou a sua mão na mesa e apertou dando a força necessária.
— Eu gostaria de pedir a mão da sua filha em casamento - ele falou de uma vez, senão poderia gaguejar.
O sorriso dos três se abriu para ele. Seu Pedro esperava por isso desde quando começaram a namorar há um ano. Sua filha não apresentaria alguém que não fosse para isso. Passou a mão pela cabeça calva.
— Pensei que nunca fosse pedir.
— Pai!
— Pedro!
— Ele frequenta nossa há um ano, ora. Demorou muito, mas foi bom porque o conheci melhor. - Pedro deu de ombros. — Vi que é esforçado, trabalha e estuda. Poderá dar um bom futuro s minha filha. Eu concedo!
As mulheres respiraram aliviadas e Janete abraçou o seu noivo. Antônio pegou a sua mão e colocou a aliança. Estava feito! Agora não teria volta, iria se casar e ponto.
— ...para daqui a seis meses...
— Não! - disseram a Julita e Janete juntas. Pedro olhou para Antônio que foi acordado pelo coro.
— Por que não? - Pedro ficou alarmado com o desespero.
— Já tenho casa, Seu Pedro. Precisamos apenas planejar o casamento. - Antônio riu. Tinha que convencê-lo, por ter amor a vida.
— Não entendi. O que está acontecendo aqui? - Pedro olhou a mulher e depois para a sua filha, irritado.
— Quero dar um um passo grande com sua filha, senhor. Não posso esperar. - Antônio tentou.
— O que quer dizer, rapaz? - agora a fúria estava voltada para Antônio.
— Nós já demos. Eu já sou mulher pai. Mulher de Antônio. - falou Janete envergonhada pela revelação.
— O que disse? - Pedro gritou ficando pé. Pegou Antônio pelo colarinho e o levantou.
Como o baixinho e gorducho conseguiu essa proeza não sabemos até hoje, mas a raiva se explica.
— Calma pai - disse Janete segurando os ombros do pai. - Vamos nos casar logo. - ao livrar do pedido, Pedro soltou um Antônio pasmo.
— Dois meses. Daqui há dois meses. - Pedro ajeitou a camisa e apontou o dedo para Antônio. - E nem pense em desaparecer, Antônio. Vou a sua casa ver se é própria a minha filha e se não for, você irá comprar outra!
Dito isso, Antônio suspirou. Dois meses era perfeito, a barriga não apareceria no vestido e sua vida seria salva. Depois do incidente a mesa, os homens foram conversar na varanda enquanto as mulheres arrumavam a mesa. O clima tenso e o medo deixavam Antônio sem palavras.
— Só não te capo porque quero netos - falou Pedro. Antônio pensava que isso poderia acontecer, já tinha resolvido essa questão.
Ficou quieto enquanto tragava o cigarro oferecido pelo sogro, sinal de paz. Aquele caminho para o altar seria longo, esses dois meses seriam eternos e ele estava ferrado, de verde e amarelo.