Capítulo 3

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— Como assim, não dá? - perguntou Bruno arrumado para o baile.

— Eu não posso sair da linha, Bruno. - Antônio vira o sogro atrás dele, uma vez na faculdade outra no trabalho. Conseguia ouvir sua satisfação caso o pegasse fazendo algo errado.

Passado três semanas do jantar de noivado, Antônio teve mais certeza quando Maria lhe disse que um senhor ligava perguntando por ele, a essa altura Antônio estava com medo, até descobrir quem era. Depois que Pedro e Julita foram a sua sua casa, ele começou a seguir os passos do genro.

Gerente de uma loja conceituada na época, Pedro podia exigir. Formou uma família e criou sua filha até ela entrar na faculdade e conhecer o mundo. Óbvio que foi contrário a ideia mas Julita insistiu em ter uma filha formada, no mais ela seria professora então não questionou. Até ver o rapaz em sua porta...

Com aquela aparência, Pedro desconfiara logo. Cabelo penteado para atrás, botão aberto da camisa e o andar de quem ficava com várias mulheres. Pedro conhecia, não que ele fizesse aquilo, sua cútis nunca ajudou, mas conviveu com um galanteador. Conhecia a forma que ele andava e estava vendo sua filha cair na conversa de um. Decidiu pegá-lo com a boca na botija, mas o loiro era esperto.

Pedro imaginou que a essa altura ele já teria outra mulher, mas Antônio se manteve firme, indo da faculdade para o estágio e dele para casa. Quando viu o moreno chegar pensou que aquela seria a oportunidade que tanto esperou, mas depois de um tempo o amigo saiu sozinho. Parou em frente ao portão baixo, pegou o pente e ajeitou o cabelo. Depois acendeu um cigarro e saiu andando forte.

A hora da janta estava chegando então Pedro resolveu ir embora. Agora que vira o genro resistindo ao amigo, não se preocupou. Aproveitou para olhar mais um vez onde a filha moraria depois de casada e balançou a cabeça, sabendo que ela merecia algo melhor.

Querer sair ele queria mas não podia vacilar, sabia que Pedro estava a espreita e esse gosto ele não daria ao sogro. Mas o corpo estava começando a reclamar, podia ter mulher na hora que quisesse, mas era responsável e não gostava de fazer isso no trabalho. Na faculdade teve que parar, depois que Janete contou a novidade. Suas amigas ficavam observando onde ele ia, ele só não sabia se lamentavam ou queriam o bem da amiga. Ele saiu com todas as amigas dela, menos Cláudia que era a melhor.

Cláudia não se deixava levar pelo papo dele, sorria e fingia não ouvir as investidas. Foi a primeira a saber que Janete era mulher e também, que estava grávida. Ela apenas negou com a cabeça vendo a empolgação da amiga. Quando olhou para ele, pôde sentir a decepção. Cláudia era uma incógnita nem Bruno conseguiu ficar com ela, mas amava Janete de verdade. Sua amizade era verdadeira, desde quando entraram na faculdade, não se largavam.

— Você não presta mesmo - Sussurrou quando passou por ele naquele dia. Antônio apenas ficou calado vendo a menina ir embora.

Agora o corpo exigia outro, aquela abstinência de três semanas estava deixando-o louco. Precisava de Janete. Pegou o telefone bege e girou para discar.

— Alô - ela atendeu animada. Que bom que não passou mal naquele dia.

— Oi, sou eu mas não fala quem é - disse rápido a tempo dela falar. - Fala que é a Cláudia e vem para cá. Estou louco para ter você em meus braços.

Janete ouvindo a declaração ardente, pegou fogo. Mas teria que seguir o plano direito.

— Tudo bem. Pode deixar - falou alto para os pais ouvirem. - Não se preocupem. Estarei aí! Claro Cláudia, amiga é para essas coisas.

Antônio riu ouvindo a voz dela é imaginando a sua expressão, uma verdadeira artista. A ouviu desligar o telefone e sabia que agora era só esperar.

....

Janete não perdeu tempo. Foi ao seu quarto colocando as roupas na mochila e voltou a pegar o telefone. Sua fiel escuderia estava lá.

— Alô Cláudia? Sou eu, Nete. Estou indo já - Cláudia sabia o que aquilo significava.

— Nete, sossega menina! Vocês logo vão se casar, para que isso. - ela falou rindo da amiga.

— Não aguento, tenho que te ver, saber como você está e sentir o seu abraço. Não chora amiga, estou chegando. - Julita olhava a filha com ternura, adorava a amizade dela e Cláudia.

— Você é louca, cara! Completamente - Cláudia riu ainda mais.

— Não faça nada até eu chegar. Beijos.

Janete desligou o telefone e pegou a mochila. Seu pai via o jornal na televisão e percebia a tensão que o país estava vivendo, mas logo passaria e o Brasil seria aberto de novo. Julita, estava ao seu lado no sofá costurando alguma roupa de baixo.

— Onde você vai? - perguntou sem tirar os olhos da televisão, mesmo sabendo a resposta.

— Cláudia está desesperada com a prova, vou ajudar a estudar. - com a mochila no ombro, Janete deu um beijo na mãe e saiu.

Louca era sim. Por ele. Janete era uma romântica incorrigível e Antônio era o príncipe que ela sempre esperou, ser mulher dele, futuramente esposa e mãe de um filho seu estava além de seu sonho. Não planejara engravidar, mas não conhecia os meios para evitar, afinal sua mãe nunca falará sobre isso com ela. Antônio que sabia das coisas e ela não era boba, ele era experiente e tivera outras mulheres mas desde quando começaram a namorar se manteve fiel a ela. Isso é amor! Pelo menos para ela era.

Pegou um táxi com a mochila e informou o endereço ao motorista ansiosa, aquele sorriso bobo e apaixonado deixava-a linda. O senhor de bigode a encarou mas não se meteu, já vira meninas daqueles jeito e poderia apostar onde iria. Sorriu ao ver a felicidade dela e deixou o carro seguir. A rua de paralelepípedo não era tão distante de sua casa, mas para manter a farsa tinha que entrar no táxi. Cláudia morava perto do campus.

— Obrigada senhor. Tenha uma boa noite.

— A você também, e cuidado. Às vezes somos movidos a paixões mas elas nos enganam. - disse o taxista ligando o carro e saindo.

Janete achou engraçado o que ele falara​, mas deixou para lá. Sua paixão estava na porta de entrada, sem camisa, mostrando a barriga definida e os braços longos, que logo a abraçaria. Sorriu largo para o noivo, aquela noite prometia.

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora