Capítulo 13

91 21 23
                                    

Ao passar a noite sozinho, estranhou a cama vazia, mas sabia que aquilo era o que ele merecia. Não conseguia parar de se culpar, depois que a ficha caiu. Se ele realmente tivesse apenas visitado a casa nova, dado uma vistoriada e voltado para casa, teria estado com Janete no momento em que mais ela precisou. 

Perdera o nascimento de sua filha por desejo, por dar atenção ao seu corpo e se esquecer... Ao lembrar, se arrependia, mas tinha que admitir que adorou aquela sensação de novo. De liberdade, de fazer o que podia e não podia, sem pensar no pudor. Como sempre fazia com Janete, mesmo depois de sete meses casados e ela casando grávida.

Porém Antônio não era homem de ficar pensando demais, logo agia o que tinha o seu lado bom. Assim, ao acordar tomou um café preto rápido e entrou no carro. Chegou no hospital na primeira hora de visita e entrou no quarto de Janete. Viu que a mulher estava adormecida ainda e sua sogra havia saído, de repente para tomar café da manhã. Mas a bebê estava acordada e quieta.

Imaginou que a noite havia sido difícil para Janete e parecia que Joana entendia, conhecendo a esposa ela não deixaria de dar assistência a menina antes de descansar. Então imaginou que estava tudo bem, a fralda trocada e alimentada há pouco. Ele se aproximou do pequeno berço e com cuidado pegou sua filha no colo.

Os olhos pretos encaravam os amendoados do pai, havia uma comunicação ali que ele entendeu.

— Bom dia, amor. - baixinho falou perto de Joana. Pegou a mãozinha da filha e segurou os dedos um por um. Ela mexia as pernas dentro da manta que a envolvia e fechou os olhos.

Pareceu a Antônio que ela queria apenas um colo para descansar. Ele sorriu ao ver o seu conforto, o relaxamento do corpinho e, em saber que ele lhe dera, ficou orgulhoso.

— Bom dia. - Julita entrou no quarto, falando baixo. - A noite foi em claro, como deve imaginar. Hoje ela deve ter alta. 

— Será? Eu quero muito levá-las para casa, já arrumei o berço de Joana. - colocou a bebe no berço e a viu suspirar, como se tivesse se incomodado por ter saido do abraço dele. Ele sorria a cada reação da filha. - Hoje fecharei a casa nova, será nossa!

— Que bom Antônio. - o bocejo da sogra o alarmou. Ela também precisava descansar.

— Hoje a noite, se elas não tiverem alta, eu durmo aqui. - sentou-se ao lado dela no sofá pequeno e cinza que havia ali.

— Eu agradeço, mas acredito de verdade que elas sairão hoje a tarde. Sendo assim a levo... - mais um bocejo escapou sem ela conseguir segurar.

— Tudo bem, Julita, obrigada. Agora descanse um pouco. - ele posou a mão no ombro da sogra e logo fechou os olhos recostada no sofá. Rápido ele pegou o copo de café de suas mãos para não cair.

Andou até a cama e percebeu que Janete estava tentando acordar, ela ouvira a conversa, mas o cansaço da noite era mais forte. Passou as mãos no cabelo dela, dando o conforto necessário, Janete abriu os olhos e viu seu marido firme ao seu lado. O terno daquele dia lhe caíra bem, mas tudo caía bem em Antônio. Os olhos claros estavam atentos a ela, a qualquer movimento, a qualquer reação.

— Tonho... - foi a única coisa que conseguiu dizer.

— Não, descanse Nete. Sua mãe falou que vocês sairão hoje, já deixei o nosso quarto arrumado. Até lavei a louça que sujei - o peito inflou ao ver um sorriso no rosto de Janete. - Vou trabalhar e comprar filme para a câmera, na hora do almoço fecharei o contrato da casa e...

— Não, não quero essa casa! - mesmo sonolenta foi firme em sua fala. pegou Antônio de surpresa.

— Mas Nete...

— Foi por causa dela que se atrasou, não quero viver em uma casa que terei raiva de você estar nela e não comigo! - continuou mas de olhos fechados. - Sabe lá fazendo o que?

Aquela última frase espantou Antônio, não sabia que Janete desconfiava, sempre fora cuidadoso com esses encontros.

— O que quer dizer? - fez o papel que melhor interpretava, o sonso.

— Que procure outra. Até lá, fico na nossa pequena e aconchegante. Agora, estou com sono. Essa primeira noite foi barra. - ele a olhou de forma diferente de outros tempos. Sorriu quando ela abriu os olhos e se ajoelhou. Romântico ele também conseguia ser.

— Dorme Nete, a noite estarei aqui. Quanto a casa, verei o que posso fazer. - deu um estalo na boca dela e depois um beijo na cabeça da filha.

Preocupou-se em deixá-las sozinhas e dormindo, lembrou de Cláudia. Logo saiu do quarto intrigado. Cláudia estaria ali com Janete, rendendo Julita e cuidando da afilhada.

Coçou a cabeça e saiu do elevador, quando chegasse ao trabalho teria que ligar para Bruno e perguntar muitas coisa, principalmente sobre sua comadre. Entrou no carro e o trânsito foi estressante até chegar, nem o rádio Bee Gees o acalmava. O dia só estaca começando.

....

Joana chorou a plenos pulmões, Janete ainda entenderia como um bebê tão pequeno poderia chorar daquele jeito, porém era um som baixo a maioria das pessoas, apenas a mãe o ouvia como socorro.

Começara a sentir as pernas naquela manhã mas Julita não a deixou levantar pelos pontos da cesária. Então, pegava Joana e levava ao colo da filha para dar o peito, depois trocava a fralda com muito amor pela neta.

No entanto, Julita estava exausta, dormindo em uma posição desconfortável no sofá pequeno. Janete se sentou, puxou o berço devagar e pegou a filha com cuidado, essa logo parou de chorar. Abaixou a camisola e posicionou a bebê em seu seio. Momento de mãe e filha que ninguém pode tirar. Ajeitou o travesseiro com a outra mão nas costas.

— Você é linda, minha joaninha. Linda demais. - o carinho penteava os cabelos de Joana.

— Puxou a você. - Julita se ajeitou no sofá mas não abriu os olhos. - Antônio já foi?

— Sim, estava atrasado.

— Entendi. Quando terminar me avise que eu troco ela.

— Mãe, gostaria de tomar um banho...

— Tudo bem, peço ajuda a enfermeira. - Julita caiu no dono de novo e Janete cantou para a filha.

— Onde está sua madrinha, Joana? - Ela mamava alheia as palavras da mãe mas sentindo falta no carinho na cabeça. - Não a vejo desde que entrei no centro cirúrgico...

Janete coçou o queixo e fez carinho na bebê. Cadê Claudinha?

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora