Capítulo 14

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— Bom dia. - cumprimentou a secretária do andar.

Antônio saiu do elevador afobado, tinha que resolver inúmeras coisas e chegara uma hora atrasado. Em sua cabeça, apenas palavrões que não nos cabe saber.

O andar era amplo é dividido em quatro salas, a frente delas a mesa de Sandra. Cada um ali era responsável por uma parte da empresa que crescia cada vez mais. Com o incentivo fiscal militares a informática brasileira e também os computadores nas lojas ao público civil, a demanda por manutenção e montagem de computadores se tornou real.

Então, quatro responsáveis pelo funcionamento da empresa que montava e mantinha as peças, Antônio tinha o serviço de Recursos humanos e contatos com os fornecedores de matéria prima. A informação sempre chegava pelo jornal ou fax, apesar de existir a internet, o envio de dados era básico apenas. O computador era usado por sua memória.

— Quero o jornal, o recados e que me faça um telefonema com Bruno. Me passe o mais rápido possível. - Antônio suava pela correria, Sandra ergueu a sombrancelha. Apesar dela assistir a eles, ele não era o seu chefe. - Bom dia, Sandra. Tudo bem com você? Sabia que minha filha nasceu?

Sandra deu um pulo da cadeira e abraçou Antônio.

— Parabéns papai! Que tenha saúde! - o abraço pareceu interminável a Antônio que queria trabalhar. Chegara uma hora atrasado mas não poderia cumprir naquele dia, nem nos seguintes. - Como ela é?

— Linda igual a mãe. - ele não pôde deixar de sorrir. Joana era cópia de Janete.

— Quando vou poder visitar?

— Ainda estão no hospital, mas saiem hoje, então tenho que correr!

Ela logo ajeitou o que ele pediu e quando entrou em sua sala, Bruno já estava na linha três.

— Fala Bro. - atende após o protocolo do toda ligação feito pela Sandra.

— Ela é linda! Você viu, mas não custa falar de novo - ele sorriu de felicidade, não sabia que ficaria assim ao conhecer a filha.

No primeiro momento se assustou, não queria fazer nada de errado ao segurar ou quando forem para casa, mas depois daquela manhã teve certeza que faria o melhor para que Joana fosse criada com carinho, amor e o melhor que ele poderia dar. Para isso, teria que se concentrar no trabalho e subir mais na empresa, quem sabe talvez abrir a sua própria.

— Fico feliz que a sua ficha caiu. Demorou! - Bruno do outro lado do telefone, enrolava o dedo no fio do fone satisfeito.

— Com tudo o que aconteceu, só uma coisa está me preocupando agora...

— Eu sei. Já tentei falar com ela, liguei e fui na loja, na sua casa e no campus. - Bruno suspirou cansado, aquela busca por Claudia estava demais porém teria que fazer de novo.

A amiga, agora dos dois, não deixaria Janete naquele momento e sempre mantinha contato. Ligava todos os dias e as vezes aparecia em sua casa de surpresa. Começou a trabalhar em uma loja grande de artigos diversos com gerente, mas voltou ao campus para continuar sua formação de professora de português. Ajudava Janete com os seus alunos, que iam a sua casa ter aulas de reforço e ali, as duas aplicavam o que haviam aprendido.

Sabendo dessa rotina, Bruno foi procurar só para ficar mais intrigado. A moça responsável não fora ao trabalho no dia seguinte, nem ligou para avisar que faltaria, fato que o gerente geral estranhou. No bairro onde morava, apesar de não ser um lugar seguro, ninguém mexia com ela, todos viam e respeitavam a sua luta diária, a vizinha também estranhou porque sempre que Cláudia dormia fora de casa, geralmente com Janete, a pedia para viajar a pequena casa, pelo telefone do bar.

—Enfim, não sei mas o que fazer. - Bruno coçou os cabelos pretos e Antônio fechou os olhos.

— Bro, vou voltar ao trabalho. No almoço terei que resolver o contrato da casa e a noite buscar as meninas...

— Não se preocupe, se Cláudia não aparecer até amanhã vou a polícia. Não é possível que não tenhamos nenhum notícia. Mesmo que tenha sofrido um acidente, ela...

— Iria dar um jeito de nos contar. — Antônio suspirou, não sabia por onde começar. - Qualquer coisa me ligue aqui, saio para o almoço ao meio dia e volto uma hora.

— Tudo bem. Nos encontramos a noite, te ajudo com Janete.

— Obrigada Bruno. - Antônio desligou o telefone e voltou ao trabalho com afinco, sem tirar Cláudia da cabeça.

Já Bruno ficou parado olhando a janela em seu escritório. Trabalhava na empresa da família do ramo alimentício e assistia ao pai na qualidade do produto. De todos, Bruno era quem tinha tempo para sair do trabalho, apesar de cumprir o seu horário exatamente como outro funcionário. Nesse tempo que passou ele amadureceu e sua feições ficaram marcadas por esse, não pensava como antes mas sempre o extrovertido da turma. Ganhou um pouco de massa muscular ao fazer o trabalho manual na fábrica, exigência do pai que queria o filho por dentro de tudo.

— Senhor Bruno. - uma funcionária, com uniforme branco entrou em seu escritório tirando de seus devaneios. - Posso marcar uma reunião com o senhor, sobre a licença maternidade?

O trabalho o chamava e fez sinal para a moça se sentar na cadeira a sua frente. Diferente do Antônio, ele não tinha um computador e pegou um livro grande com capa de couro verde, o livro dos funcionários, para fazer uma marcação de que a operária estava grávida.

Bruno fez as anotações necessárias enquanto pensava no que fazer a respeito de Cláudia. Infelizmente sempre fora uma pessoa reservada e quase ninguém sabia de seu passado, pensou em falar com Janete mas ouvira que aborrecimentos poderia afetar os leite materno e não queria causar problemas a afilhada e nem a comadre. Decidiu agir naquela noite.

— Pronto, agora volte ao trabalho. Esta tudo certo.

— Obrigada, senhor Bruno.

Deixado com os seus pensamentos no escritório com paredes de ripas de madeira, uma estante grande atrás da mesa e a cadeira sem rodinhas. A empresa era humilde porém próspera e com as novas tecnologias que estavam surgindo, logo seria uma grande empresa. Se preparou para isso, aos vinte e seis anos tinha mais instrução do que seu pai naquela idade. Só não tinha ainda preparo para perder uma amiga. Apesar de já ter visto muita coisa ruim acontecer com seus amigos bohemios, nunca com uma mulher ou amiga tão próxima.

"Ah Cacau, onde você se meteu?"

(Nota da autora: O livro é ambientado em uma época de mudança tecnológica e política. Se houver algum erro na pesquisa por favor me avisem no privado. Agradeço desde já.)

O início do sonhoOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz