Capítulo 18

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Enquanto Janete e Antônio brincavam de Tom e Jerry, Bruno ia ao bar de sempre, esperando que Marcelo já estivesse lá. Era engraçado ver a alegria dos jovens universitários, cheios de sonhos e planos para o futuro, ele já fora assim. Só esqueceram de avisar que a vida de adulto era um pouco mais difícil, porque a caminhada ainda continua até você alcançar o que quer para a sua vida.

O bar, com cadeiras e mesas de madeira espalhadas pela calçada, estava lotado. Se não tivesse alguém conhecido em uma delas, teria que ficar no balcão. Mas Bruno conhecia a maioria daqueles que estavam ali, olhou ao redor e avistou a moça que passaria a noite. Sua acompanhante do casamento já havia rodado há um tempo. De roupa de trabalho, afrouxou a gravata e procurou Marcelo, que ao contrário dele, teve oportunidade de trocar o macacão da produção.

— Fala bro! Quer uma breja?

— Manda ver! - Bruno sentou-se ao lado do amigo, o assunto teria que ser tratado em códigos, afinal não era de bom tom falar disso na frente das moças da mesa.

— Sabe, conheci a vila. - Marcelo passou o copo para Bruno sem o colarinho, esse bebeu de um gole só. Marcelo encheu de novo.

— E é bom lá? - o olhar que recebeu foi de nojo, afinal o grupo transado era sempre o mesmo, como exemplo Jaqueline estava na mesa com eles.

— A cerveja é gelada pelo menos. - Bruno entendeu. Marcelo pelo seu porte não precisava pagar para ter sexo, tinha lábia de bohemio, beleza de Deus ébano e um olhar avassalador para qualquer mulher. Eles riram e brindaram. - O que vi, me deixou curioso.

— O que seria meu amigo? - mais um gole ávido e o tirar de vez a gravata, essa foi parar no bolso.

— Uma correria - Marcelo lambeu dos lábios a gota de cerveja. - Uma menina com cara de assustada, sai correndo pela porta da casa da luz vermelha.

— Até aí, imagino várias coisas. - pegou o copo e deu gole, mas congelou com eles nos lábios.

— Era Claudinha, Bro. Sei que era ela, apesar dos hematomas.

Bruno o olhou intrigado, Marcelo devolveu preocupado. O ar pareceu pesar, todos na mesa se calaram mas o bar não. Como podiam estar se divertindo Bruno não sabia. Olhou ao redor e respirou fundo.

— E onde ela está? - pergunta saiu baixa, mas ouviu quem interessava.

— Não sei, logo que ela saiu da casa eu fui atrás mas não a via. Não sei por onde foi...

Os pensamentos embaralhados e a cerveja descendo mal, Bruno ficou quieto. A mesa entrou em outra conversa apesar de o mundo estar de pernas para ar. Será que deveria ir na polícia? Será que devia correr ele mesmo? Será que...?

— Antônio.

Partiu sem virar o copo na mesa ou deixar uma cerveja paga. Marcelo sabia que a presa fazia isso, continuou a desconversa quando perguntaram onde ele fora. Piscou para a moça que estava interessada em Bruno e logo começou a conversar com ela, aquela noite seria longa, para uns boa para outros nem tanto...

....

Antônio e Janete estavam exaustos. Ele tentou mais um carinho na esposa, mas não houve sucesso. Sabia da lei do resguardo mas o que ela aprendera com o corpo era o suficiente para o aliviar, por hora. Mas naquela noite, nem ele prosseguiu. Já haviam brincado muito.

O emprego estava a mil, logo a abertura política aconteceria e as especulações de como afetaria o meio tecnológico era o assunto da empresa. Ele teria que agir para ter o seu próprio negócio e o momento estava se aproximando. A casa era ótima, mas dava trabalho para Janete apenas. Uma boa dona de casa, não deixava uma poeira no lugar.

Assim, o dia dela foi cuidar da casa e da filha, fora os alunos que foram em horário diferente e atrapalhou a sua rotina. Quando Janete caiu na cama, apagou.

Até que um barulho a fez mexer, Antônio ficou alerta com o movimento incomum e ouviu outro barulho maior, vindo da sala de estar. Parecia que a televisão caíra no chão. Em um pulo ele ficou de pé e, de cueca samba canção, caminhou até a porta.

— Joana - falou Janete baixo atrás dele, que apenas assentiu.

Ele caminhou até a sala e ela até o quarto da menina que estava mais próximo no corredor. Chegando lá, ele viu um homem de jeans com a camisa social para fora do cós e o olhar desnorteado. Antônio apenas pensou nas mulheres que tinha que defender.

Pegou uma prateleira de madeira que estava ali após Janete ter tirado do armário do banheiro e ainda não tinha jogado fora, foi devagar até o homem moreno e de bigode. Parecia bêbedo, antes fosse o efeito do álcool, Antônio conhecia bem com ficava as pessoas que se drogavam. Aquele estava muito pior!

— O que faz na minha casa?

— Cadê ela? Minha menina só pode estar aqui! Cláudia! Cadê você meu amor? - o homem gritava em plenos pulmões.

— Cláudia está desaparecida há dias, rapaz. Quem é você?

— Sou o dono dela! A quero agora! - ele puxou uma arma da parte de trás da cintura e apontou para Antônio, no momento que Janete apareceu com a filha no colo. O grito dela foi estrondoso.

— Calma - ele se colocou a frente da esposa. - Já disse que Cláudia não está aqui - apesar das palavras calmas Antônio tinha um coração acelerado.

Pelo canto do olho viu um movimento atrás do homem que ameaçava sua família. Queria ligar para a polícia mas esperou, até alcançar o telefone demoraria e drogado do jeito que o homem estava, qualquer movimento brusco o faria atirar.

— Eu quero Cláudia agora! - berrou segurando firmemente a arma para Antônio. - Que se exploda Marina!

Aquilo sim era uma informação, as peças começavam a se encaixar para Antônio. Aquele só podia ser... Não teve tempo de completar o raciocínio.

Bruno entrou e acertou Jorge na cabeça, com uma garrafa que Janete guardava na varanda. No golpe, Jorge caiu desmaiado e Janete chorou baixinho.

Os amigos se olharam e agiram rápido, tiraram o homem da casa e o amarraram a um quarteirão de distância. Claro que Antônio lembrou de se vestir, mas a camisa ficou em esquecida no ombro. Tudo o que queria era dar uma autora naquele que ameaçara a sua família.

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora