Capítulo 25

80 20 6
                                    

Apesar de não entender muito do submundo, Janete ouviu com pesar a história de Cláudia, consolando com afago suas costas que tremiam enquanto as lágrimas caiam. Ninguém merecia passar por aquilo, violência, agressão e todo o mal pelo qual a amiga passou. Uma coisa era saber que pessoas surportavam aquilo, outra era ter uma de seu convívio passando o mesmo que se via nos jornais.

Janete esperou Cláudia se controlar, mas não haviam palavras para de dizer em uma hora como essa. Apenas a abraçou e chorou junto, com Joana no colo, sentindo o abraço.

- Eu não sei o que dizer...

- Só o fato de eu estar aqui, Nete, é um consolo, uma vitória eu ter conseguido fugir. Mas você está na mira deles.

- Eu sei, por culpa de Antônio que não conseguiu se segurar. - Marcelo entrou na sala de estar com o seu porte sério. Olhou ao redor e foi até os fundos da casa.

- Você sabe...

- Ele me contou que quando nós namorávamos e não transavamos, ele esteve com aquela lá. - Janete olhou para a bebê em seu colo.

- Ah Nete. Ela é a pior!

- Como assim? - Cláudia percebera que falara demais, era hora de decidir se continuava ou desconversava. Suspirou fundo e continuou.

- Lembra quando eu te falei que Antônio não era para namorar? - Janete assentiu. - Ele é um cafajeste Nete. Sempre foi! Me surpreendi ao vê-lo ao seu lado com Joana. Não pensei que ele fosse assumir a responsabilidade...

- Mas claro que ele deveria assumir! Como me deixaria sozinha com um criança em plena década de oitenta?

- Como muitos fizeram com minha vizinhas, e que agora moram no subúrbio sendo mães solteiras.

Aquilo assustou Janete, primeira vez exposta a realidade era um choque, porém necessário. Agora era mulher, mãe, dona de casa e tinha uma família. Deveria prestar atenção ao mundo que a cercava e não se dava conta. Mães solteiras? Como conseguiam sobreviver e criar uma criança? Viu quando Claudia respirou fundo para continuar.

- Não sei o que Antônio viu em você para te pedir em namoro. Talvez um desafio, mas ele sempre deu suas escapadas - Janete colocou a Joana no carrinho e cruzou as pernas em cima do sofá claro. - Ele cantou a maioria das meninas e até tentou comigo, mas sabia que eu era sua amiga e parou. Também nunca cedi, nem a ele nem a ninguém, você agora sabe o porquê... - Cláudia se adiantou a dizer e colocou o cabelo atrás orelha sem graça.

- Mas as meninas teriam me contado, Cacau - Janete estava atenta a cada palavra e reação da amiga. Ao ver em seus olhos que aquilo era mentira ela desanimou. - Como não me falaram? - sussurrou.

- Porque ele era bom no que fazia. Eu sei que é um choque Nete, mas o que eu ouvia de elogios a Antônio não está no gibi e ainda tinham pena de você. - a raiva tomava conta de Janete ao imaginar suas colegas de faculdade com seu namorado, agora marido.

- Aquelas vacas! - Claudia se espantou, nunca vira a menina assim. Que transformação!

- Não é só isso Janete, mas não sei se devo continuar...

- Agora que começou você irá até o fim!

Janete se levantou e pegou um copo de água, Claudia respirava fundo pensando em como poderia está fazendo aquilo. Estragando o conto de fadas da melhor amiga. E se no final ela escolhesse o marido e terminasse a amizade delas? E se no fim dissesse tudo em vão? Levantou a cabeça com a chegada de Janete e viu Marcelo de olhos arregalados no canto da sala. Quando a amiga se ajeitou pediu para ela continuar, a presença de Marcelo era natural para Janete.

- ...Amanda, Julia, Cristina, Márcia e outras mais. Ouvi dizer que até a bibliotecária ele deu um fight. - ouvir os nomes de suas colegas era duro, mas Janete sabia que era um divisor de águas. Aquele momento era decisivo. - Fora as noites de bohemia na companhia de Bruno. Faziam coisas que não devo mencionar.

- Que tipo de coisas Cacau? - nesse momento Janete não conseguia controlar as lágrimas, olhava para sua filha pensando em como conseguiria cria-la sozinha se sempre teve um pai e uma mãe presentes em sua educação.

- Vamos dizer, sexuais. Apesar de eu saber que seus amigos usavam drogas, Bruno e António nunca pegaram. Apenas a bebida, jogos de azar e mulheres.

Doeu no peito de Janete. A dor parecia física mas era apenas uma imagem que se partia, uma ilusão que estava se desfazendo em sua mente. Uma verdade em que apenas ela acreditava. A imagem de Antônio, do seu Antônio, apenas seu era mentira. Como criança chorou por toda a ilusão que se ia e pela dor de seus olhos estarem sendo abertos. Chorou por sua filha e se perguntou o que faria agora.

- Janete, eu não devia ter te contado. Me desculpa - o abraço de Claudia consolo e acalmou o pranto, mas Janete chorava mais ainda por ter que tomar uma atitude.

- O que eu vou fazer? E Joana? Meu trabalho não paga as contas! - Claudia se assustou mais uma pela ideia que Janete teve. Afinal mulheres passariam por cima de toda a história para manter uma casa e um casamento feliz.

- Vá com calma. Talvez peça ajuda a sua mãe, ela poderia lhe dizer melhor que eu.

Marcelo balançou a cabeça sem ser notado e saiu da sala seu patrão estava ferrado. Poderia usar um telefone público para avisar, mas não sabia se podia se intrometer desse jeito na vida dos patrões e ele sabia de cada história na fábrica que, por fim, achou melhor ficar quieto. Foi para o lado de fora da casa e viu um carro preto passando rápido ao ve-lo. Essa mulher não desiste mesmo! Entrou na sala e não viu mais as mulheres, pegou o telefone e avisou ao responsável pela segurança.

Enquanto fazia o seu trabalho, Claudia estava sendo uma boa amiga e fazia algo que sentia saudades. Ajudou a encher a banheira para o banho de Janete. Brincou com Joana enquanto a mãe o tomava. Depois deitou ao lado da amiga, consolando as suas lágrimas e adormeceram a tarde ali mesmo, com Joana em meio delas.

O início do sonhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora